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Nick Cassavetes filma o amor que só se vive uma vez
Em entrevista à
Folha, o ator e diretor
diz que "Loucos de
Amor", baseado em
roteiro de John
Cassavetes, é uma
homenagem a seu
pai; longa estréia hoje
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CECÍLIA SAYAD
da Redação
"Loucos de Amor", filme que
estréia hoje, é uma homenagem do
ator Nick Cassavetes ("A Outra
Face") a seu pai, o cineasta norte-americano John Cassavetes,
morto em 89.
Trata-se do segundo longa-metragem dirigido por Nick. O primeiro, "De Bem com a Vida", ele
diz ter feito para a mãe, a atriz Gena Rowlands ("Gloria").
"Decidi que meu segundo filme
seria dedicado a meu pai", disse o
artista em entrevista à Folha por
telefone, de Los Angeles.
O roteiro, originalmente intitulado "She's De Lovely" (como a
canção de Cole Porter) e que Nick
Cassavetes rebatizou de "She's So
Lovely" (título do filme em inglês), foi escrito em meados da década de 70 -"não saberia precisar o ano", diz Cassavetes filho.
O filme conta a louca história de
amor vivida por Eddie (Sean
Penn, que recebeu o prêmio de
melhor ator em Cannes no ano
passado) e Maureen (Robin
Wright Penn, mulher de Sean).
Do elenco fazem parte também
John Travolta e Gena Rowlands,
dando continuidade à tradição de
trabalhar em família que marcou a
carreira de John Cassavetes (leia
texto nesta página).
Veja a seguir os principais trechos da entrevista de Nick, que
atualmente trabalha na adaptação
para o cinema do livro "Going after Cacciato", de Tim O'Brien.
Folha - Por que John Cassavetes
nunca chegou a filmar "Loucos de
Amor"?
Nick Cassavetes - Ele provavelmente não conseguiu dinheiro.
Folha - Como surgiu para você a
decisão de rodá-lo?
Cassavetes - Aconteceu enquanto eu estava filmando "De
Bem com a Vida". Eu escrevi esse
primeiro filme para minha mãe,
ele é baseado em nossa vida. Assim, decidi que meu segundo filme
seria dedicado a meu pai.
Folha - Há elementos que você
adicionou a "Loucos de Amor" que
não estavam presentes no roteiro?
Cassavetes - Muitos, mas não
gostaria de entrar em detalhes.
Acho que o filme é muito representativo do que John queria que
ele fosse, ou do que imaginei que
ele gostaria que fosse. Muito do
que meu pai escreveu está lá, mas
eu fui o diretor e fiz com esse roteiro o que faria com qualquer outro
-tornei-o inteligível para mim.
Folha - Houve muitos ensaios?
Cassavetes - Dependendo da
situação ou do ator. Minha mãe,
por exemplo, não gosta de ensaiar
muito. Já John Travolta prefere ensaiar bastante. Por mim, não faria
muitos ensaios. Gosto da espontaneidade que surge entre os atores
nos primeiros momentos.
Folha - Como o fato de você ser
um ator influencia sua direção?
Cassavetes - Para começar,
gosto de atores. Pelo menos nos
EUA, eles são tratados somente
como parte de um sistema maior.
Por atuar, eu os compreendo e sei
que eles precisam de espaço para
se expressarem. É muito fácil filmar a explosão de um prédio, mas
é difícil captar um verdadeiro momento de emoção num filme.
Quando você consegue, tem que
agarrar esse momento.
Folha - Era importante para você
que os atores que interpretam
Maureen e Eddie fossem casados
na vida real ou foi coincidência?
Cassavetes - Não era importante, mas tiramos benefícios disso,
por causa do sentimento de aconchego que existe entre marido e
mulher. Aconteceu de eu ter dois
dos melhores atores dos EUA no
filme. Tive muita sorte.
Folha - Qual a relação entre amor
e loucura?
Cassavetes - Há diferença entre
eles? (Risos.) Acho que o amor que
tentei descrever no filme contém
loucura e é o tipo de amor que você
só tem uma vez na vida, quando é
jovem e ainda não foi muito traído
nem machucado. É o tipo de amor
que gostaríamos de reviver quando ficamos velhos, desejando não
ter adquirido sabedoria, só para
poder voltar a amar assim. Um
amor que sacode da cabeça aos pés
e faz sofrer o tempo todo.
Folha - O fato de os personagens
serem movidos pela paixão faz deles pessoas mais livres?
Cassavetes - Em certos aspectos, sim. Em outros, não. Acho que
a liberdade tem um preço, você faz
muitas pessoas sofrerem quando é
totalmente livre. O filme mostra isso. É bom ou ruim? Não vou julgar.
Folha - Qual a principal contribuição de seu pai para seu trabalho como diretor?
Cassavetes - O que de mais importante aprendi com meu pai não
tem a ver com meu trabalho, tem a
ver com minha pessoa. Éramos
muito próximos e ele me mostrou
como ser um homem íntegro, e
que a integridade é algo que se tem
ou não, mas que mantê-la é uma
luta diária. Você tem que estar em
contato consigo mesmo para saber
como pensa e ser homem o bastante para assumir suas idéias.
Folha - O poder da indústria do
cinema nos EUA torna a realização
de filmes independentes mais difícil do que em outros lugares?
Cassavetes - Acho que não deve
ter lugar mais difícil do que os
EUA para fazer filmes independentes. Há um conceito tão rígido
do que é bom e o que é ruim num
filme, e isso depende tanto de
quanto o filme rende... Cada vez
menos a questão é contar uma história e revelar um ponto de vista. E
às vezes, nos EUA, os trabalhos
que revelam as idéias de um artista
são os que menos dão dinheiro.
Folha - Essa é a razão que faz diretores como seu pai e Woody Allen terem mais sucesso na Europa?
Cassavetes - Imagino que os
europeus são mais sofisticados em
termos cinematográficos.
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