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São Paulo, sexta, 19 de junho de 1998
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Texto Anterior | Próximo Texto | Índice COMPORTAMENTO As novas noites da disco
ALESSANDRA BLANCO de Nova York No dia da inauguração do Studio 54, em 1977, o título da reportagem publicada pelo jornal "USA Today" perguntava: "Studio 54, onde fica isso?". Naquela manhã, a casa ainda era mais uma entre as dezenas de clubes que abriam em Nova York com a expectativa de fechar meses depois. Por volta de 23h, quando todos os repórteres chegaram para a inauguração, a certeza do fracasso era tão grande que eles esperaram apenas meia hora, viram uma dúzia de pessoas perdidas no que, para a época, era um espaço enorme, e foram embora. Uma hora depois, foram chamados de volta por seus editores: o Studio 54 estava lotado. Frank Sinatra e Warren Beatty ficaram de fora, não conseguiram entrar. A certo ponto, o empurra-empurra da fila de entrada era tão grande, as pessoas estavam tão coladas umas às outras, que os homens resolveram colocar seus pênis para fora da calça e as mulheres fizeram o mesmo com seus seios para aproveitar a situação. Desde então -e não só nos dois anos em que o clube ficou aberto, até seus proprietários, Steve Rubell e Ian Schrager, serem presos por evasão fiscal-, o Studio 54 é considerado o "maior clube de todos os tempos". Andy Warhol e Bianca Jagger eram os habituês da casa, e, em algumas noites, era possível ver ao mesmo tempo Elizabeth Taylor brincando com as luzes da pista de dança e Mikhail Baryshnikov dançando no andar superior. Agora, 20 anos depois, o período que o clube tão bem simboliza, a era disco, passa por um "revival" e o Studio 54 não ficou de fora. O local está sendo retratado em um especial de 90 minutos da VH1 para a TV e em dois filmes: como inspiração em "The Last Days of Disco" e de fato em "54"', que estréia em agosto nos EUA. A volta da disco começou com o lançamento dos filmes "Boogie Nights" e "Jackie Brown", que fizeram com que toda loja e boa parte dos restaurantes e bares de Nova York colocassem Gloria Gaynor, Village People e Donna Summer como trilha sonora. A música disco voltou também às casas noturnas. A Life, por exemplo, tem o "momento disco" toda noite, e lugares como a Cheetah, a Coney Island High e o B Bar têm ambientes separados em que só toca disco. O especial da VH1, que vai ao ar de três a quatro vezes por semana, deu origem também a coletâneas discos, como a "Pure Disco" 1 e 2, com 22 músicas. Neste mês, os ícones da década, a banda britânica BeeGees, compositores da trilha de "Embalos de Sábado à Noite", anunciaram uma turnê mundial, de cinco shows apenas, para comemorar seu 30º aniversário. A turnê começa em Dublin, Irlanda, no dia 29 de agosto. Os irmãos Gibb (Barry, Robin e Maurice) devem tocar também em Londres (setembro), Buenos Aires (outubro), Pretória, na África do Sul (dezembro) e Sydney, na Austrália (março de 99). O próprio Studio 54 também reabriu suas portas. Não tem mais os mesmos donos que o tornaram famoso, mas ainda usa o mesmo nome e só abre para festas especiais. A primeira delas ocorreu em março deste ano, promovida por uma associação de gays e lésbicas do Estado de Nova York. O espaço também tem sido alugado para recepções de empresas e escolhido pela Sony para o lançamento do novo CD de Gloria Estefan, em uma festa em conjunto com a rádio KTU, especializada em disco, há duas semanas. "Estamos no templo da decadência dos anos 70", disse Gloria, que se apropriou do globo espelhado e da estética da época, como os cabelos volumosos, para vender seu novo álbum, "Gloria!". O lugar continua exatamente igual. Um globo de espelhos no hall de entrada remete diretamente aos anos 70, a decoração é um misto de rosa, verde e azul, com rococós dourados. Dentro, a luz é negra com pontos que parecem estrelas apagando e acendendo. A fila do lado de fora também continua a mesma, assim como o segurança na porta -bem menos sofisticado-, que barra convidados, dizendo que a casa está cheia e avisando que eles deveriam ter chegado mais cedo. O glamour do lugar, entretanto, praticamente desapareceu. É apenas a casa em que um dia funcionou o Studio 54. Na fila, do lado de fora, para entrar na festa da Sony, em vez de paetês e limusines, via-se gente comendo pizza. Dentro, havia até tentativas de fazer lembrar o que era o local: casais homossexuais sem camisa, outros vestidos à Hare Krishna. Nada comparado a 1977 e 1978. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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