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Veto de FHC não encerra discussão sobre direitos autorais; grupo é criado
para propor alternativa
Afogando em números
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A celeuma está longe de acabar.
Ao vetar anteontem o projeto de
lei que pedia a numeração de livros, CDs e obras científicas, Fernando Henrique Cardoso assinou
decreto que pode ampliar a discussão do direito autoral no Brasil
para além da questão de numerar
ou não cada obra na fábrica.
"Fica criado grupo de trabalho
para, no prazo de 30 dias a partir
de sua constituição, propor os
atos necessários para numeração
e identificação de fonogramas e
obras literárias, artísticas ou científicas", diz o decreto, estabelecendo a disposição do presidente
de que o controle seja instituído.
O grupo de trabalho terá 16 integrantes, incluindo representantes
da Casa Civil, Advocacia Geral da
União, cinco ministérios, Receita
Federal, Associação Brasileira dos
Produtores de Discos, Sindicato
Nacional dos Editores de Livros,
União Brasileira de Escritores, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Agência Nacional
de Cinema, União Brasileira do
Vídeo e classe artística.
Ficará a cargo desse grupo determinar um método viável de
controle. Uma tentativa de regulamentação nesse sentido foi feita
logo após a implantação da atual
Lei do Direito Autoral (nš 9.610),
em 1998. Mas o decreto de regulamentação foi suspenso por liminar impetrada pela indústria.
Isso, segundo a deputada Tânia
Soares (PC do B-SE), autora do
projeto de numeração, tem limitado a eficácia da lei 9.610: "Não
adianta a lei do direito autoral ser
boa se ela não oferece os mecanismos de controle", diz a deputada,
que afirma que pode defender o
veto de seu próprio projeto no
Congresso (para onde será agora
reenviado) se o grupo de trabalho
chegar a um consenso.
A ABPD agora concilia: "Mantemos o objetivo de intensificar o
debate, em especial com a classe
artística". Procurados pela Folha,
os diretores das seis maiores gravadoras não se pronunciaram.
Do lado dos artistas que lutavam pela numeração, Lobão se
disse satisfeito: "Há uma vontade
positiva do governo, de discutir o
direito autoral no Brasil. A classe
está sendo respeitada". Ele continua: "Eu até gostaria de não entrar no grupo, para não dizerem
mais que o Lobão é sempre o culpado por não dar certo. Gostaria
que desta vez fosse Caetano, ou os
artistas que ficaram no muro, como Gil e Rita Lee". A Folha procurou Caetano, Gil e Rita Lee, mas
eles não se pronunciaram até a
conclusão desta edição.
Mercado editorial
"FHC fez o que devia ser feito", diz Raul Wassermann, 59, presidente da Câmara Brasileira do Livro. Ele diz esperar que também
representantes do processo técnico sejam chamados a discutir, já
que os entraves de produção foram sempre o argumento da indústria contra o projeto vetado.
A ausência de técnicos na discussão é também a única ressalva
feita por Roberto Feith, 50, dono
da editora Objetiva e diretor de
comunicação do Sindicato Nacional de Editores de Livros. Segundo Feith, o Snel já tem "propostas
factíveis que atendam aos interesses dos autores", mas não pretende divulgá-las antes que possam
ser discutidas pelo grupo. Para
ele, a questão poderia até mesmo
encontrar solução dentro de uma
revisão da Lei do Direito Autoral.
A participação da União Brasileira dos Escritores ("historicamente a favor da numeração", como diz seu presidente, Claudio
Willer, 61) pode levar a discussão
para esse lado. Entre as propostas
que a UBE deve apresentar está o
pedido de recriação do Conselho
Nacional de Direitos Autorais.
Para Feith, não importa se o
conselho volta ou não: "Não faz
diferença onde se dê a discussão, e
sim que haja e seja ponderada".
Como Feith, Sérgio Machado,
da Record, acha que os autores já
têm mecanismos contratuais para
controle: "Se a numeração fosse
fundamental, Paulo Coelho já teria exigido". E desabafa: "Não sei
porque a gente fica casado com o pessoal do CD. Não tem nada a ver nosso caso com o deles".
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