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MÚSICA
"Samba de Monalisa", lançado na Inglaterra e nos Estados Unidos, tem participação da francesa Sophie Calle
Tetine faz paródia de clichês eletrônicos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Toda vez que descobrem na Europa que ela é brasileira, a proposta é inevitável: "Brasil? Ah, então samba aí pra gente ver...".
Eliete Mejorado, 34, o alvo desses pedidos, irritou-se tanto com
a frequência deles que decidiu traduzir o desconforto de ser brasileira e não corresponder ao clichê
no disco "Samba de Monalisa",
lançado na Inglaterra e nos EUA.
Assinam o disco o duo Tetine,
formado por ela e Bruno Verner,
30, e Sophie Calle, 49, uma das
mais importantes artistas contemporâneas da França.
Sophie tornou-se famosa a partir dos anos 80 por usar sua vida
em obras ficcionais. É tão personagem em seus trabalhos que virou personagem do escritor americano Paul Auster no romance
"Leviatã" (1992).
"Samba de Monalisa" é feito
dessa mesma matéria-prima: a
confusão entre artista e personagem. O disco foi feito com diálogos extraídos do filme "No Sex
Last Night" (1993), dirigido por
Sophie Calle e seu namorado à
época, Greg Shephard.
O filme narra a viagem de Sophie e Greg entre Los Angeles e
Nova York, registrada de forma
dupla -cada um viajou com uma
câmera. É um "road movie", gênero americano por excelência,
feito por uma francesa que presta
tributo e debocha dos EUA ao
mesmo tempo. O título do filme é
uma das frases repetidas por Sophie sobre sua relação com Greg
-"No Sex Last Night", dito desta
forma macarrônica. Nunca se sabe se ela está debochando da obsessão americana por sexo ou se é
tudo verdade.
Atriz formada pela Unicamp,
Eliete trabalhou com Moacir Goés
("Eduardo 2º"), e Marcio Aurélio
("Algo em Comum") e não renega esse passado. Música e performance têm o mesmo peso na balança, segundo ela. Os procedimentos cênicos não se limitam ao
palco; são introjetados na música,
também.
A primeira providência do Tetine foi colocar sexo nas histórias
cantadas para colocar em xeque a
atitude francesa de "no sex". "É
tudo verdade, mas é maquiado de
um jeito que você não sabe o limite entre o real e a esquizofrenia. É
mais ou menos como me vejo nos
sonhos", descreve Eliete.
O Tetine é sempre definido como um duo de música eletrônica
e performance, mas no caso de
"Samba..." o que há é uma paródia dos clichês que dominam a
música eletrônica. É um groove
de quem não samba, é samba para gente dura, "metáfora do samba pré-fabricado para inglês ver",
como diz Eliete.
Ela e Bruno vivem na Inglaterra
desde 2000, onde foram com uma
bolsa da Queen Mary University
para auxiliar num curso sobre o
dramaturgo Nelson Rodrigues.
Em Londres, apresentaram a versão performance de "Samba de
Monalisa" na galeria de arte Whitechapel, a mesma que lançou Hélio Oiticica e Lygia Clark na arte
internacional. Talvez seja puro
acaso, mas em 1997 o Tetine fez
um tributo em forma de performance a Hélio e Lygia.
As pretensões do Tetine são
mais modestas. Querem trazer a
performance para o Brasil e já estão em negociações com o Instituto Cultural Itaú. Eles não se incomodam em limitar o raio de ação
do Tetine a galerias de arte. Sabem que o mercado musical virou
um monolito conservador.
SAMBA DE MONALISA -
Artista: Tetine.
Lançamento: Sulphur Records.
A partir de 25/7, o CD será vendido na Bizarre (tel.
0/xx/11/3331-7933). Quanto: R$ 35 (em média).
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