São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
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VÍDEO - LANÇAMENTOS
Infâncias em guerra


"A Vida É Bela" e "Bem-Vindo a Sarajevo" retratam crianças vivendo sob conflitos bélicos


JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Mundo

Salvar crianças da insensatez e da barbárie da guerra. Dois filmes tratam do mesmo desafio, mas mergulham em dois mundos diferentes: enquanto "A Vida É Bela", de Roberto Benigni, caminha por um labirinto de imaginação e poesia, "Bem-Vindo a Sarajevo" dispara uma rajada de hiper-realismo beirando o documentário.
A história do pai Guido e do filho Giosué, em "A Vida É Bela", exibe o destino de uma família judia italiana durante a Segunda Guerra Mundial, condenada a enfrentar os horrores de um campo de extermínio. Benigni, brilhante em seu papel de pai, se esforça para poupar o filho daquela realidade bruta e o convence de que tudo não passa de uma brincadeira. Um jogo que teria um tanque de guerra como recompensa final para quem acumulasse mais pontos nas tarefas sugeridas por aquele cotidiano de sofrimento apresentado como uma gincana.
Em "Bem-Vindo a Sarajevo" o prêmio à jovem Emira é fugir da capital bósnia, onde vive, e se distanciar dos horrores de uma das guerras mais sangrentas da segunda metade deste século: a Guerra da Bósnia. Michael, um jornalista britânico que cobre o confronto entre sérvios e muçulmanos da Bósnia, vai fazer uma reportagem num orfanato nos arredores de Sarajevo e se emociona com a penúria e o abandono daqueles órfãos. Decide então levar um deles a Londres, para viver com sua mulher e dois filhos.
Como trata da Segunda Guerra Mundial, um conflito ocorrido há mais de 50 anos e fartamente documentado, "A Vida É Bela" pode prescindir de cenas que exponham a crueza de um conflito bélico. Não há quase imagens dos momentos mais repugnantes das atrocidades nazistas. Foram deixadas de lado as cenas mais impressionantes do Holocausto.
Já "Bem-vindo a Sarajevo" encaixa sequências insistentes de cenas reais da Guerra da Bósnia (92-95). Imagens mostram a cidade bombardeada, civis ensanguentados após uma explosão numa das ruas da capital bósnia. São visões mostradas, em geral, com rapidez, como na montagem de um caleidoscópio da violência. Ao fundo, músicas modernas adicionam tensão ao filme.
A produção também compõe a série dos "filmes de jornalistas" que, em sua maioria, repetem os mesmos personagens e cenários. Há o típico bar do hotel, ponto de encontro dos correspondentes, o intérprete local que sonha com os valores da sociedade de consumo norte-americano e o jornalista de poucos amigos, que se comporta como uma estrela. Este, no caso de "Bem-Vindo a Sarajevo", é o norte-americano Flynn, interpretado por Woody Harrelson.
Baseado em histórias reais, o filme dirigido por Michael Winterbottom tenta também oferecer um mosaico, por meio de imagens da época, dos fatos políticos que cercavam a Guerra da Bósnia e busca deixar uma mensagem implícita de crítica à demora dos países ocidentais para reagir diante daquela crise na ex-Iugoslávia.
"A Vida É Bela" não tem a intenção de ser um simples libelo político. Apresenta uma forma imaginária de resistência ao nazismo incapaz de parar câmaras de gás ou fornos crematórios, mas capaz de resgatar o pequeno Giosué do universo da barbárie.
Diferentemente do britânico Michael, de "Bem-Vindo a Sarajevo", Guido não era apenas um observador do conflito. Era vítima. Contava, portanto, com um arsenal bem mais limitado para salvar uma criança. Mas, como conta "A Vida É Bela", conseguiu fazê-lo.


Título: A Vida É Bela
Produção: Itália, 1997, 116 min
Direção: Roberto Benigni
Com: Roberto Benigni, Nicolletta Braschi, Giorgio Cantarini
Avaliação:     



Título: Bem-Vindo a Sarajevo
Produção: Inglaterra, 1997, 102 min
Direção: Michael Winterbottom
Com: Woody Harrelson, Marisa Tomei
Avaliação:   


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