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LIVRO - CRÍTICA
Citações não deixam pedra sobre pedra
especial para a Folha
Diogo Mainardi fez o quê, em
seu novo romance, "Contra
o Brasil"? Numa
narrativa que
lembra o teatro,
com muitas falas e poucas descrições, procurou
explicar o Brasil colocando, na boca de outros, as razões do nosso
atraso. O resultado é delicioso, polêmico e, por vezes, arrasador.
Seu personagem principal é Pimenta Bueno, um paulista erudito
que parte para uma grande aventura brasileira: seguir as linhas telegráficas construídas pelo marechal
Rondon na Amazônia, caminho
percorrido mais tarde por Lévi-Strauss e pelo ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt.
Bueno lembra Quincas Borba, o
filósofo irrelevante de Machado de
Assis com sonhos de grandeza e
rompantes delirantes. É o "dasein"
de Heidegger, estado (exclusivo
dos humanos) de estar aberto à
vulnerável manifestação de entes.
Seus entes têm medalhas no peito, como Charles Darwin, Jacques
Offenbach, Elizabeth Bishop, Eça
de Queiroz, que estiveram por aqui
e não gostaram de tudo o que viram.
Estendido no sofá, Bueno começa: "Contra o Brasil e contra os
brasileiros...". Lembra-se de Lévi-Strauss, que morou nos anos 30 em
São Paulo, e diz: "As construções
do centro eram pomposas e fora de
moda".
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Citações
A cada capítulo, uma citação, e
Bueno a dizer coisas como: "O Brasil jamais gerou uma idéia. O Brasil
jamais gerou uma revelação. Preciso imigrar o quanto antes para a
Polônia de Chopin!".
Enquanto expulsa mendigos que
ocupam um cinema de sua família,
lembra das tantas revoltas facilmente sufocadas, como o Quilombo dos Palmares (1694) e a Revolta
dos Alfaiates (1799). "Entre o Brasil e o Haiti, é melhor o Haiti. De fato, estou pensando em mudar pra
lá", diz.
O humor transborda a narrativa.
Mitos são metralhados. Gilberto
Freyre tem "o estilo um tanto atrapalhado", a mulher brasileira é "a
mais detestável do universo", e
nós, brasileiros, "temos os piores
poetas do mundo".
Aleijadinho era, de acordo com
Monteiro Lobato, um "santeiro
vulgar", e a lenda do boitatá é apenas uma cópia de um fenômeno
europeu.
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Nhambiquaras
Bueno acaba encontrando índios
que não são mais índios. Com a sua
erudição, convence-os a voltarem
a ser como os tais nhambiquaras
contatados por Rondon e estudados por Strauss.
Das artes plásticas à filosofia, não
sobra pedra sobre pedra. Mainardi
pinçou até comentários de Albert
Camus sobre o trânsito carioca.
Não se ofendam os patriotas,
"Contra o Brasil" é um livro sobre
o Brasil. Por vezes, são os olhos
apoiados em preconceitos de colonizadores mais "civilizados". Mas
que no fundo tocam em feridas escamoteadas. Por trás do boato, há
a sombra da verdade.
(MRP)
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Livro: Contra o Brasil
Autor: Diogo Mainardi
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 19,50 (214 págs.)
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