São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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REDMAN, PAYTON E ELLINGTON
Tributos levam ao futuro

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Tradição e modernidade conviveram de forma harmoniosa durante a jazzística noite de gala que encerrou o 14º Free Jazz Festival, já na madrugada de ontem.
Os veteranos da orquestra Duke Ellington Alumni fecharam o evento, transportando a platéia em uma nostálgica viagem sonora pelo que o gênero produziu de melhor, nos anos 20 e 30.
Conduzida, literalmente, pelas baquetas do carismático baterista Louie Bellson, a big band formada por discípulos de Duke Ellington revisitou a coleção de jóias musicais do grande maestro e compositor, com um vigor e uma coesão sonora impressionantes.
Nem mesmo a falta do trompetista Clark Terry, ausente devido a problemas de saúde, diminuiu esse impacto.
Partindo de seu imortal prefixo ("Take the "A" Train"), festejado logo aos primeiros compassos pela platéia, a orquestra ellingtoniana seguiu relembrando clássicos, como o vibrante "The Hawk Talks" (arranjo de Bellson), uma esfuziante versão de "Cotton Tail" e a romântica balada "Prelude to a Kiss", entre outros.

Recriando Gershwin
Mas nem só nostalgia e tradição marcaram a grande noite de jazz deste festival. Os felizardos que já estavam na platéia, quando o saxofonista Joshua Redman entrou em cena, dificilmente vão esquecer o que ouviram.
Sugerindo que os clássicos estão aí para serem renovados, Redman abriu a noite com uma sensacional versão de "Summertime" (dos irmãos Gershwin).
Raras vezes esse conhecido tema foi interpretado de forma tão vibrante, num solo recheado de climas e efeitos dramáticos, que excitaram a platéia.
Quem viu a apresentação de Joshua Redman, no Free Jazz de 1994, provavelmente ficou surpreso com o crescimento musical do saxofonista californiano, muito bem acompanhado, aliás, pelos jovens Aaron Goldman (piano), Reuben Rogers (contrabaixo) e Greg Hutchinson (bateria).
Segunda atração da noite, o também jovem trompetista Nicholas Payton demonstrou de imediato que sua anunciada homenagem ao lendário Louis Armstrong não passa por qualquer intenção de "revival".
À frente de uma banda com 11 músicos, incluindo feras como Lew Soloff (trompete), Bob Stewart (tuba) e Delfeayo Marsalis (trombone), Payton utilizou temas do repertório de Armstrong apenas como pretextos para arranjos modernos, com sonoridade típica de "big band".
Só mesmo no último número, o festivo "Whoopin" Blues", é que Payton se reportou ao estilo de jazz mais típico de Nova Orleans, que marcou a música de Armstrong, para alegria dos fãs mais saudosistas.
Uma noite de tributos que, felizmente, apontou para o futuro, em vez de se render à mera nostalgia.


Avaliação (Redman):     
Avaliação (Payton):   
Avaliação (Ellington):    


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