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ARTES PLÁSTICAS
Diretor do Guggenheim explicou ainda o que é necessário fazer para ter um museu da entidade
Krens revela sua política de expansão
Patrícia Santos/Folha Imagem
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Thomas Krens, o diretor da Fundação Guggenheim, no Rio |
da Reportagem Local
O diretor da Fundação Guggenheim, Thomas Krens, responsável pela criação da filial do museu
em Bilbao (Espanha), explicou,
em entrevista exclusiva à Folha,
os motivos que o levaram a implantar uma política de expansão
da entidade que ele dirige desde
1988 e o que um país precisa fazer
para ter um Guggenheim.
Krens finaliza hoje, em Brasília,
sua visita ao país. Seu objetivo
principal foi viabilizar uma parceria com a Associação Brasil 500
Anos para a realização da mostra
"Brasil 500 Anos" nos museus
Guggenheim de NY e de Bilbao.
Também fez as primeiras prospecções para a possível implantação de um museu com a marca
Guggenheim no país.
Krens já visitou Rio de Janeiro e
Salvador. Ontem, em São Paulo,
teria uma audiência com o governador Mário Covas.
Hoje em Brasília, o diretor mantém uma série de encontros políticos, com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, com o ministro da Cultura,
Francisco Weffort, e com o presidente Fernando Henrique.
(CELSO FIORAVANTE)
Folha - Você está satisfeito
com os cinco museus Guggenheim pelo mundo ou planeja
mais?
Thomas Krens - A resposta
mais curta é que existe certamente a possibilidade de fazer mais
porque esse programa tem funcionado muito bem para nós até o
momento. Em parte porque temos a oportunidade de planejar e
administrar mais eficientemente
os museus.
Se precisamos organizar uma
mostra, por exemplo, com orçamento de US$ 1 milhão e sabemos
que poderemos mandá-la para
Bilbao e Veneza, pelo menos para
três museus, teremos mais possibilidades para conseguir patrocinadores e distribuir os custos.
A razão da expansão não é porque queremos mais museus, mas
porque vivemos em um mundo
internacionalizado onde a comunicação cultural é importante e
onde os recursos são um grande
desafio. Com mais de um museu
existe mais possibilidade de se ter
recursos suficientes para desenvolver projetos significantes.
Folha - Rumores diziam que
Argentina e Chile estariam na
competição por um Guggenheim latino-americano. Isso é
verdade?
Krens - Depois do estrondoso
sucesso de nosso museu em Bilbao, que sofreu muitas críticas no
início, mas que teve 1,4 milhão de
visitantes no primeiro ano e agora
apresenta um impacto econômico muito grande na região e tem
transformado a imagem do País
Basco, praticamente toda cidade
que não possui uma grande instituição cultural está interessada
em uma situação semelhante à da
cidade espanhola.
Folha - O senhor tem mais interesse na Ásia ou na América
Latina?
Krens - Eu não acho que é uma
questão de mais ou menos. Eu vejo de outra maneira. Não podemos ignorar a cultura asiática ou a
latino-americana. Não é uma
questão de preferência. O mundo
está ficando muito pequeno e está
nos colocando cada vez mais perto. A América do Sul não está fora
disso.
Folha - Mas o senhor fez uma
grande exibição sobre a cultura
chinesa, "China, 5.000 Anos". A
China está na frente?
Krens - Fizemos a mostra, mas
agora trabalhamos nesse projeto
com o Brasil. Depois teremos um
com a Índia e outro com a Coréia.
Ter feito o da China antes não significa que ela seja a favorita a ter
um Guggenheim. São oportunidades que aparecem.
Temos que ter em mente que
somos um museu de arte moderna e contemporânea. Para fazer a
mostra chinesa, tivemos que ter
em mente que deveríamos fazê-la
igual ou melhor que o Metropolitan Museum. E a China nos dava
essa oportunidade naquele momento.
O Brasil agora me parece um
possibilidade muito rica. Ele tem
uma cultura contemporânea
muito vibrante, tem uma rica história modernista no século 20,
uma cultura indígena e uma forte
cultura européia também. Existe
aqui uma narrativa, uma história
muito interessante para ser contada. Eu procuro essa história, da
qual o meu espectador americano
e europeu não está particularmente bem informado.
Nosso trabalho é encontrar partes excitantes dessa história e
apresentá-la. No caso do Brasil,
aconteceu de coincidir com os
500 Anos do Descobrimento, algo
que a torna ainda mais poderosa.
Folha - O que um país tem que
fazer para conseguir um Guggenheim? É uma questão política,
econômica, artística, social?
Krens - É um empreendimento
muito complicado, que não deve
ser visto como uma competição.
Bilbao é um exemplo disso. O governo decidiu fazer um investimento, que se tornou um grande
sucesso, não apenas em termos financeiros. Foi um grande investimento que ele tinha que fazer. Os
governos investem em aeroportos, metrôs, centros de convenções... Você pode olhar a criação
de uma infra-estrutura cultural
sob uma perspectiva econômica e
assim tentar definir os objetivos
de seu programa cultural.
Só depende das circunstâncias,
das lideranças políticas, dos recursos da iniciativa privada, da
comunidade...
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