São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Diretor do Guggenheim explicou ainda o que é necessário fazer para ter um museu da entidade
Krens revela sua política de expansão

Patrícia Santos/Folha Imagem
Thomas Krens, o diretor da Fundação Guggenheim, no Rio


da Reportagem Local

O diretor da Fundação Guggenheim, Thomas Krens, responsável pela criação da filial do museu em Bilbao (Espanha), explicou, em entrevista exclusiva à Folha, os motivos que o levaram a implantar uma política de expansão da entidade que ele dirige desde 1988 e o que um país precisa fazer para ter um Guggenheim.
Krens finaliza hoje, em Brasília, sua visita ao país. Seu objetivo principal foi viabilizar uma parceria com a Associação Brasil 500 Anos para a realização da mostra "Brasil 500 Anos" nos museus Guggenheim de NY e de Bilbao. Também fez as primeiras prospecções para a possível implantação de um museu com a marca Guggenheim no país.
Krens já visitou Rio de Janeiro e Salvador. Ontem, em São Paulo, teria uma audiência com o governador Mário Covas.
Hoje em Brasília, o diretor mantém uma série de encontros políticos, com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, com o ministro da Cultura, Francisco Weffort, e com o presidente Fernando Henrique.
(CELSO FIORAVANTE)

Folha - Você está satisfeito com os cinco museus Guggenheim pelo mundo ou planeja mais?
Thomas Krens -
A resposta mais curta é que existe certamente a possibilidade de fazer mais porque esse programa tem funcionado muito bem para nós até o momento. Em parte porque temos a oportunidade de planejar e administrar mais eficientemente os museus.
Se precisamos organizar uma mostra, por exemplo, com orçamento de US$ 1 milhão e sabemos que poderemos mandá-la para Bilbao e Veneza, pelo menos para três museus, teremos mais possibilidades para conseguir patrocinadores e distribuir os custos.
A razão da expansão não é porque queremos mais museus, mas porque vivemos em um mundo internacionalizado onde a comunicação cultural é importante e onde os recursos são um grande desafio. Com mais de um museu existe mais possibilidade de se ter recursos suficientes para desenvolver projetos significantes.

Folha - Rumores diziam que Argentina e Chile estariam na competição por um Guggenheim latino-americano. Isso é verdade?
Krens -
Depois do estrondoso sucesso de nosso museu em Bilbao, que sofreu muitas críticas no início, mas que teve 1,4 milhão de visitantes no primeiro ano e agora apresenta um impacto econômico muito grande na região e tem transformado a imagem do País Basco, praticamente toda cidade que não possui uma grande instituição cultural está interessada em uma situação semelhante à da cidade espanhola.

Folha - O senhor tem mais interesse na Ásia ou na América Latina?
Krens -
Eu não acho que é uma questão de mais ou menos. Eu vejo de outra maneira. Não podemos ignorar a cultura asiática ou a latino-americana. Não é uma questão de preferência. O mundo está ficando muito pequeno e está nos colocando cada vez mais perto. A América do Sul não está fora disso.

Folha - Mas o senhor fez uma grande exibição sobre a cultura chinesa, "China, 5.000 Anos". A China está na frente?
Krens -
Fizemos a mostra, mas agora trabalhamos nesse projeto com o Brasil. Depois teremos um com a Índia e outro com a Coréia. Ter feito o da China antes não significa que ela seja a favorita a ter um Guggenheim. São oportunidades que aparecem.
Temos que ter em mente que somos um museu de arte moderna e contemporânea. Para fazer a mostra chinesa, tivemos que ter em mente que deveríamos fazê-la igual ou melhor que o Metropolitan Museum. E a China nos dava essa oportunidade naquele momento.
O Brasil agora me parece um possibilidade muito rica. Ele tem uma cultura contemporânea muito vibrante, tem uma rica história modernista no século 20, uma cultura indígena e uma forte cultura européia também. Existe aqui uma narrativa, uma história muito interessante para ser contada. Eu procuro essa história, da qual o meu espectador americano e europeu não está particularmente bem informado.
Nosso trabalho é encontrar partes excitantes dessa história e apresentá-la. No caso do Brasil, aconteceu de coincidir com os 500 Anos do Descobrimento, algo que a torna ainda mais poderosa.

Folha - O que um país tem que fazer para conseguir um Guggenheim? É uma questão política, econômica, artística, social?
Krens -
É um empreendimento muito complicado, que não deve ser visto como uma competição. Bilbao é um exemplo disso. O governo decidiu fazer um investimento, que se tornou um grande sucesso, não apenas em termos financeiros. Foi um grande investimento que ele tinha que fazer. Os governos investem em aeroportos, metrôs, centros de convenções... Você pode olhar a criação de uma infra-estrutura cultural sob uma perspectiva econômica e assim tentar definir os objetivos de seu programa cultural.
Só depende das circunstâncias, das lideranças políticas, dos recursos da iniciativa privada, da comunidade...


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