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CINEMA/ESTRÉIA
Ator de "O Xangô de Baker Street" fala sobre o filme brasileiro, que chega hoje ao Rio, Brasília e Lisboa
Português sua a camisa como Sherlock
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ter atuado em mais de 50 filmes
desde sua estréia no cinema, em
1980, é algo que, em parte, Joaquim de Almeida, 44, atribui à sua
capacidade de representar em
cinco idiomas -português, inglês, francês, espanhol e italiano.
No entanto, a versatilidade linguística não salvou o ator português de suar a camisa para encarnar Sherlock Holmes em "O Xangô de Baker Street", produção baseada no livro homônimo de Jô
Soares, que estréia hoje no Rio,
Brasília e em Lisboa e, em uma semana, chega a São Paulo.
Suar a camisa, literalmente: falar a língua natal como se fosse
um inglês do século 19 e, pior, vestido como um inglês do século 19,
em pleno verão carioca, foram as
maiores dificuldades que o ator
diz ter enfrentado nas rodagens
do longa de Miguel Faria Jr..
"Aliás, o Sherlock acha muito
estranho as pessoas vestirem-se à
européia num país tropical, daí
ele usar o linho", diz Almeida, comentando a passagem em que o
detetive resolve adotar o tecido
"popular", desprezado pela alta
roda, na tentativa de tornar mais
confortável sua tradicional indumentária, de capa e chapéu.
Falando à Folha de Lisboa, onde
estava para a pré-estréia da produção, Almeida conta que foi "curioso" o convite para viver um
Sherlock Holmes tão particular.
"Tinha chegado de Nova York
[onde vive" a Lisboa, estava a desfazer as malas, liguei a televisão e
vi o Jô Soares, que estava a dar
uma entrevista no noticiário, porque estava cá para o lançamento
do livro. Eu não o conhecia bem.
Ele disse que já tinha vendido os
direitos do livro para fazer um filme e que gostaria que fosse Joaquim de Almeida a fazer o Xangô.
Eu fiquei muito surpreendido."
Para entrar nas vestes do Sherlock-Xangô do livro, Almeida se
baseou na sua experiência de fã
do detetive criado por Arthur Conan Doyle. E, enquanto filmava
outra produção no Canadá, estudou o inglês da época com um
professor. "A outra parte que eu
tive de trabalhar foi o português
do Sherlock Holmes."
"Eu pensei: "Ele é inglês, escolhe
as palavras. E era uma época diferente, as pessoas falavam mais
pausadamente. O português de
hoje fala-se muito rápido e é por
isso que vocês têm dificuldade em
entender-nos, às vezes", conta,
explicando porque foi difícil falar
a própria língua no filme.
Almeida conta que não usou
suas impressões de estrangeiro
em visita aos trópicos para reproduzir o espanto de Holmes diante
do Rio de 1886. "Até porque, na
primeira vez em que fui ao Rio de
Janeiro, fui com um amigo meu,
que foi assaltado em Copacabana,
e eu não corri atrás de quem o assaltou, ao contrário de Sherlock."
Na trama, o detetive desembarca na corte carioca de d. Pedro 2º,
sempre com seu fiel Watson (Anthony O'Donnel), por sugestão da
atriz francesa Sarah Bernhardt (a
também portuguesa Maria de
Medeiros), amiga do imperador.
Sua missão é ajudar a encontrar
o violino Stradivarius de uma baronesa, o qual parece misteriosamente ligado a uma onda de assassinatos de mulheres.
Fidelidade
Quem leu o livro nota a fidelidade do roteiro, de Miguel Faria Jr. e
Patrícia Melo. Almeida concorda:
"O filme é muito fiel ao livro, mas
é evidente que, para ser completamente, teria de durar seis horas.
Eu acho que Miguel escolheu
muito bem as cenas que eram
mais cinematográficas".
Entre as cenas mais divertidas
que passaram para a tela, estão as
que se referem à adaptação do detetive aos hábitos brasileiros. Holmes se dedica à tarefa com afinco,
apesar do espanto inicial.
"Ele é muito "british". Eu tentei
usar, sobretudo, aquela coisa dos
ingleses, que sempre acham que
tudo é muito estranho."
Se não usou sua própria visão
de estrangeiro, Almeida se valeu
da colaboração de seu caro Watson. "Ajudei o Tony [O'Donnel" a
entender um bocado da sociedade brasileira, porque ele sentia-se
perdido não falando português, e
ele ajudou-me com o inglês e na
composição do personagem."
Os R$ 10 milhões gastos na produção se refletem em seu apuro
técnico, que Almeida também
ressalta. Constatando que a produção de Faria Jr. "não deve nada
a filmes feitos em outros países",
estuda roteiros para voltar a rodar
aqui em 2002: "Para o ano, espero
estar no Brasil a filmar outra vez".
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