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"ASSIM É QUE SE RIA"
Apego à tradição resume os limites de Amelio
da Redação
"Assim É que se Ria" suscita
sentimentos ambíguos. É quase
impossível não sentir simpatia
por um filme que recoloca o espectador em contato com a Itália:
seus sons, cores e luzes.
Isso parece quase programático
no filme de Gianni Amelio. A um
cinema italiano que chega cada
vez mais raramente ao resto do
mundo, responde-se com a tradição: "Assim É que se Ria" trata do
destino de dois irmãos sicilianos
que vivem em Turim, entre 1958 e
1964. O mais velho, Giovanni,
uma simpatia, se mata para que o
mais novo, Pietro, estude. Pietro é
malandro, Giovanni, inocente.
À simples menção do resumo, o
espectador mais antigo recordará
vários títulos e perceberá o apego
de Amelio à tradição neo-realista:
personagens do povo, visão humanista, observação dos costumes e tom melodramático.
Mas o neo-realismo de Amelio
olha para trás como se tirasse da
tumba um cadáver precioso para
lhe dar uma nova vida. Mas o que
se consegue ver é uma espécie de
morto-vivo -não um zumbi assustador, mas até agradável, com
o qual se pode conviver.
Amelio é um cineasta competente o bastante para escolher
bem seus atores (Enrico Lo Verso,
que faz Giovanni, está formidável), para construir um roteiro capaz de plantar expectativas e desenvolver personagens, para controlar uma máquina de produção
pesada. Em suma, para ganhar o
Leão de Ouro em Veneza (1998).
Mas a evocação dos tempos gloriosos não basta para relançar a
indústria italiana internacionalmente. Roberto Benigni, por
exemplo, tem mais senso de
oportunidade ao olhar para trás: é
a um tempo mais "sério", mais digestivo e mais polêmico. Um
Nanni Moretti, ao contrário, sabe
olhar para seu tempo e tirar desse
olhar um questionamento efetivo
(o que faz dele um herdeiro de fato da tradição neo-realista).
Como em "As Portas da Justiça"
e "Lamerica", Amelio fica preso à
representação clássica -à idéia
de que o verossímil seja aceito como verdadeiro pelo espectador-
e à solidariedade algo mecânica
pelos pobres. Tudo é digno, tudo
é "clean", mas sem gênio. Mesmo
com a narrativa marcada por elipses ousadas (são seis episódios ao
longo de seis anos, em que o que
não é mostrado é quase sempre
mais intrigante do que o que é),
elas acabam colocando em relevo.
Vendo "Assim É que se Ria", é
quase impossível não se reportar
a antigos filmes italianos. Ora
"Ladrões de Bicicletas", ora "Rocco e Seus Irmãos", "Dois Destinos" etc. É quase um mostruário
do que o cinema italiano já foi, de
sua grandeza, embora não pareça
fornecer a chave do que possa vir
a ser, caso queira readquirir essa
grandeza. Talvez até por esse apego ao passado, é inegável que estamos diante de algo mais interessante do que o produzido pela
"geração do meio" (de Liliana Cavani, Lina Wertmuller etc.), que
realmente enterrou o cinema italiano.
(INÁCIO ARAUJO)
Avaliação:
Filme: Assim É que se Ria
Título original: Così Ridevano
Diretor: Gianni Amelio
Produção: Itália, 1998
Com: Franceso Giuffrida, Enrico Lo Verso
e Patrizia Marino
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc
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