São Paulo, Sexta-feira, 19 de Novembro de 1999
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LIVRO

"Giluminoso - A Po.Ética do Ser", de Bené Fonteles, vem com um CD e traz textos de Caetano Veloso

Obra busca jogar luz sobre Gilberto Gil

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Pode-se ou não gostar de Gilberto Gil. Mas não é possível lhe negar uma vaga entre os cinco mais influentes artistas da música popular brasileira da segunda metade do século. Conhecido e admirado em quase todo o mundo, Gil, entretanto, foi objeto de poucos estudos publicados.
No próximo dia 23, em São Paulo, é lançado um novo livro sobre Gil. Seu autor, Bené Fonteles, diz que quis "entender como o compositor foi ao fundo do poço do sofrimento e da dor para transmitir aos outros, por meio da música, o que aprendeu."
"Giluminoso - A Po.Ética do Ser" será lançado com shows nos dias 23 e 24, às 21h (ingressos a R$ 20 e R$ 10), no teatro do Sesc-Pompéia, em São Paulo.
O livro se divide em quatro partes: "Ao Compositor", um ensaio de Fonteles, artista plástico, músico, poeta e ex-jornalista; "O Compositor Disse", antologia com 50 letras escolhidas por Fonteles e Gil; "O Compositor Me Disse", depoimento de Gil a Fonteles sobre sua poesia; e "O Compositor Canta", CD inédito com 15 canções de e por Gil.
"Não sou jornalista nem escritor", afirmou Fonteles à Folha. "Sou artista. Fiz um livro de artista para mostrar a alma de outro artista." Ele diz que sua intenção foi a de "mostrar o que motivou internamente Gil a fazer uma obra que redimensionou o pensamento de uma geração".
Fonteles conheceu Gil depois de assisti-lo em um show em Fortaleza, em 1974. A canção "Filhos de Gandhi" o tocou e o fez procurar o autor. Criou-se uma amizade solidificada pela identificação pela defesa do ambiente.
Natural do Pará, residente em Fortaleza, Salvador, Cuiabá, São Paulo e, agora, Brasília, Fonteles, 46, tem obras nos acervos dos museus de arte moderna de São Paulo, Rio, Nova Iorque, Paris e Bahia, participou de cinco edições da Bienal de São Paulo e tem se dedicado há 20 anos ao movimento Artistas pela Natureza.
Tem também dois discos gravados: "Bendito" (1983), com Luiz Gonzaga, Tetê Espíndola, Belchior, Egberto Gismonti, Luli e Lucina, e "AÊ" (1992), com Gismonti, Tetê Espíndola, Duofel e Ney Matogrosso. "Giluminoso", 7.000 cópias, tem ensaio fotográfico de Mário Cravo Neto, textos de Caetano Veloso, fotos de Pierre Verger e ilustração de Arnaldo Antunes. Embora grandes editoras tenham se interessado pelo projeto, Fonteles diz ter optado pela Editora da Universidade de Brasília porque foi a única que lhe deu total liberdade para fazer o livro como queria, sem restrições. "Vamos entrar no poder do pequeno", diz ter proposto a Gil. "Eu sou servo", respondeu Gil.
"Não é um livro para o ego de Gil, nem é sobre sua importância para a música popular brasileira. É um trabalho para ajudar as pessoas a encontrarem seu norte, para confirmar para uma geração mais nova que o trabalho de Gil existe, jogar luz sobre ele, provocar a meditação", diz o autor.
Para ele, a poesia de Gil se expressa como haicais que orientam a vida das pessoas com sua "cultura intuitiva, atávica", que analisa "aspectos da transcendência", sem separar "a materialidade da espiritualidade".



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