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"RENT"
Musical é uma vitória
da Reportagem Local
Mark (um desenvolto e talentoso Daniel Ribeiro), espécie de narrador ou até corifeu em "Rent",
atravessou o primeiro ato quase
sem voz, nas passagens de canto.
No segundo, sabe-se lá como,
achou. Como essa, outras imperfeições pontuais foram surgindo
na apresentação do musical, domingo passado.
Era a segunda sessão do dia, encerrando uma semana de maratona para os jovens atores, inexperientes nas exigências físicas e
emocionais do teatro musical
americano. Com todas as suas
imperfeições, "Rent", a versão
brasileira do fenômeno da Broadway, terminou e era uma vitória
inconteste.
Pouco a pouco, as eventuais dissonâncias, o estranhamento do
verso traduzido, os equívocos na
transposição dos figurinos: tudo
foi suplantado, primeiro, pela fascinante história de amor e morte.
Depois, pelo envolvimento dos
intérpretes, levados uns pela música, outros pelos diálogos, pela
contracenação.
Assim, se quadros como o da
canção "La Vie Bohème" se confundiram no barroquismo de referências, outras cenas, como em
"Out Tonight", trouxeram revelações não notadas no próprio original nova-iorquino.
Quem descrevia "Rent" como
um fenômeno, no mesmo domingo, era o "New York Times".
O que intriga no êxito continuado
do musical, que estreou há mais
de três anos, Off Broadway, com
temática aparentemente restritiva, é como conseguiu enfrentar e
se manter, já na Broadway, diante
de usinas de marketing tipo "The
Phantom of the Opera".
Uma resposta está na montagem brasileira: "Rent" é também
uma usina, abrindo franquias de
comportamento. A outra resposta está no próprio palco: Jonathan
Larson, libretista, compositor e
letrista, ergueu uma história de
amor tão efetiva como um "Romeu e Julieta".
Como prova o espetáculo brasileiro, nem é preciso ser romântico
para se deixar tomar por Roger e
Mimi (respectivamente Robson
Moura e Andrea Marquee, artistas mais completos em cena) em
seu amor asfixiado pela perspectiva da morte.
Outras histórias de amor se intercalam, como que para sublinhar, em contraponto, a primeira: o professor negro Tom Collins
e a drag queen Angel (Maurício
Xavier e André Dias, ambos de
grande presença cênica); e duas
mulheres, a "performer" com
ares de diva Maureen (Alessandra
Maestrini, comediante que mais
se destaca no elenco) e sua produtora, Joanne (Neusa Romano, a
melhor cantora).
É preciso falar com vagar de um
problema. As letras das canções
são, na visão de muitos, a essência
do teatro musical: são elas que fazem a ponte entre dramaturgia e
música. E as versões criadas para
"Rent" pecam por tentar manter a
todo custo as imagens e referências originais -o que o português não permite, se alinhado aos
monossílabos ingleses.
O verso fundamental do musical é "no day but today" (algo como "não existe outro dia além de
hoje"), que vira "não há amanhã",
expressão que perde metade do
sentido e não podia ser mais incomodamente anasalada.
(NS)
Avaliação:
Peça: Rent
Direção geral no Brasil: Billy Bond
Direção musical: Oswaldo Sperandio
Quando: qui. e sex., às 21h; sáb., às 20h e
23h15; dom., às 18h e 21h
Onde: teatro Ópera (r. Rui Barbosa, 266,
tel. 0/xx/11/3171-1277)
Quanto: R$ 25 a R$ 50
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