São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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"MAU HUMOR"

Livro reúne frases venenosas

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

Frases. A maioria dos leitores adora. Elas dão acabamento a uma opinião solta no ar. "É, como disse Nelson Rodrigues,..."
Usam-se citações para dirimir dúvidas. Citamos para parecermos inteligentes, para emprestarmos argumentos de grandes figuras e encerrarmos uma discussão. E, neste mundo acelerado, em que ler parece um transtorno, elas são práticas, curtas, definitivas.
Há tempos, o jornalista e escritor Ruy Castro dedica-se a compilar citações temperadas que viraram provérbios. Foram três volumes publicados pela Companhia das Letras: "O Melhor do Mau Humor" (89), "O Amor de Mau Humor" (91) e "O Poder do Mau Humor" (93). Os livros se esgotaram.
Desta vez, ele lança a antologia definitiva de frases venenosas, "Mau Humor", dividindo-as por temas, como adultério, burrice, canalhas, tédio e outros, com 1.700 citações -1.300 selecionadas dos volumes anteriores e 400 novas.
Seus autores são humoristas em estado crítico de cinismo avançado, como Woody Allen e Luis Fernando Veríssimo, escritores, como Ivan Lessa e Dorothy Parker, e personalidades variadas, como Ted Turner.
Algumas delas. Disse Patrício Bisso: "Não adianta tentar afogar as mágoas. Elas aprenderam a nadar".
Os temas adultério, impotência, casamento, sexo oral, monogamia geram as citações mais apimentadas e polêmicas. "Eu não trairia um marido porque, quando olhasse pra ele, teria de dizer: "Poxa, mas esse cara é um corno!". E eu não quero um corno como marido", disse Danuza Leão.
Príncipe Philip, do Reino Unido, explica por que um indivíduo abre a porta do carro para sua mulher: "Ou é um carro novo ou uma mulher nova".
Mas por que adoramos frases? Não é preciso ler tomos e tomos, carregados e densos, que tentam explicar as origens da histeria humana, basta dizer: "Como perguntou Freud, o que querem as mulheres?".
Nelson Rodrigues era outro frasista. Há tantas dele pelo ar, que, hoje em dia, ninguém mais sabe se são realmente dele. E ele sabia do marketing gerado por uma frase provocativa. Criava uma atrás da outra, ou uma que negava a anterior: "Eu não disse que as mulheres gostam de apanhar, eu disse que só as normais gostam".
As frases viram bem comum, são alteradas, ganham vida própria. Sempre se pensou que Tom Jobim teria dito: "Viver no Brasil é uma merda, mas é bom". O livro de Ruy Castro, que tem autoridade para escrever sobre Tom, indica que o compositor referia-se ao Rio.

Mau Humor


    
Autor: Ruy Castro
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 35,50 (362 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h30, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915; tel. 0/xx/11/3814-5811)



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