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"MAU HUMOR"
Livro reúne frases venenosas
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Frases. A maioria dos leitores adora. Elas dão acabamento a uma opinião solta
no ar. "É, como disse Nelson
Rodrigues,..."
Usam-se citações para dirimir dúvidas. Citamos para parecermos inteligentes, para
emprestarmos argumentos de
grandes figuras e encerrarmos
uma discussão. E, neste mundo
acelerado, em que ler parece
um transtorno, elas são práticas, curtas, definitivas.
Há tempos, o jornalista e escritor Ruy Castro dedica-se a
compilar citações temperadas
que viraram provérbios. Foram três volumes publicados
pela Companhia das Letras: "O
Melhor do Mau Humor" (89),
"O Amor de Mau Humor" (91)
e "O Poder do Mau Humor"
(93). Os livros se esgotaram.
Desta vez, ele lança a antologia definitiva de frases venenosas, "Mau Humor", dividindo-as por temas, como adultério,
burrice, canalhas, tédio e outros, com 1.700 citações
-1.300 selecionadas dos volumes anteriores e 400 novas.
Seus autores são humoristas
em estado crítico de cinismo
avançado, como Woody Allen
e Luis Fernando Veríssimo, escritores, como Ivan Lessa e Dorothy Parker, e personalidades
variadas, como Ted Turner.
Algumas delas. Disse Patrício
Bisso: "Não adianta tentar afogar as mágoas. Elas aprenderam a nadar".
Os temas adultério, impotência, casamento, sexo oral, monogamia geram as citações
mais apimentadas e polêmicas.
"Eu não trairia um marido porque, quando olhasse pra ele, teria de dizer: "Poxa, mas esse cara é um corno!". E eu não quero
um corno como marido", disse
Danuza Leão.
Príncipe Philip, do Reino
Unido, explica por que um indivíduo abre a porta do carro
para sua mulher: "Ou é um carro novo ou uma mulher nova".
Mas por que adoramos frases? Não é preciso ler tomos e
tomos, carregados e densos,
que tentam explicar as origens
da histeria humana, basta dizer: "Como perguntou Freud, o
que querem as mulheres?".
Nelson Rodrigues era outro
frasista. Há tantas dele pelo ar,
que, hoje em dia, ninguém
mais sabe se são realmente dele. E ele sabia do marketing gerado por uma frase provocativa. Criava uma atrás da outra,
ou uma que negava a anterior:
"Eu não disse que as mulheres
gostam de apanhar, eu disse
que só as normais gostam".
As frases viram bem comum,
são alteradas, ganham vida
própria. Sempre se pensou que
Tom Jobim teria dito: "Viver
no Brasil é uma merda, mas é
bom". O livro de Ruy Castro,
que tem autoridade para escrever sobre Tom, indica que o
compositor referia-se ao Rio.
Mau Humor
Autor: Ruy Castro
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 35,50 (362 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h30, na
Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho,
915; tel. 0/xx/11/3814-5811)
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