São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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"A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA"

Biografia escrita por jornalistas cariocas tem apoio da banda e de ex-integrantes

Obra traz à tona Titãs, mágoas e bastidores

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Na capa do livro "A Vida Até Parece uma Festa", estão cinco dos Titãs, em foto recentíssima. O subtítulo da biografia agora lançada pelos jornalistas cariocas Hérica Marmo e Luiz André Alzer é "Toda a História dos Titãs". É imediata então a pergunta, sobre por que ficaram de fora da capa os demais integrantes da banda paulistana, que já foram nove, oito, sete e seis.
O termo "toda" parece destoar do contexto, e o medo aumenta porque se percebe que a biografia tem apoio explícito da banda. Mas, ainda bem, não é o que acontece (até ex-Titãs prestaram intensa colaboração à pesquisa).
À parte ser quase uma biografia oficial dos Titãs, o livro não tende à chapa-branca nem evita vários temas incômodos vividos nos recém-completados 20 anos de história de um dos grupos que deram sentido ao rótulo "pop-rock" que a MPB recebeu nos anos 80.
Talvez os autores desapontem por não ir muito a fundo nas tais histórias incômodas, mas muitas delas -drogas, rivalidade com os Paralamas do Sucesso, desentendimentos com empresários- estão descritas com aparente sinceridade, como é do feitio do caráter crítico e até autocrítico dos Titãs.
O mais saboroso, aqui, fica por conta dos relatos da saída de Arnaldo Antunes, em 1991, quando o octeto virou septeto, e da recentíssima renúncia de Nando Reis, em 2002. Pouco depois da morte acidental de Marcelo Fromer, em 2001, os então seis Titãs viravam assim os cinco que estão na capa, ainda hoje mais numerosos que qualquer banda de rock.
As linhas desses episódios são reprisadas de modo convincente, mas é preciso lê-los também nas entrelinhas. Primeiro, os autores narram a saída de Arnaldo quase como evento corriqueiro, amistoso, vivido sem traumas. Ocorrido há 11 anos, é fato mais que assimilado pelos Titãs.
O final do livro é mais emocionante. Trata do desgaste de Nando Reis nos mínimos detalhes, e tende a vilanizar em parte o dissidente, na comparação com a saída mais "às claras" de Arnaldo. As mágoas são mais recentes, as feridas ainda estão abertas.
Mas os Titãs parecem haver confessado aos autores que as rupturas nos Titãs se deram, nas duas vezes, por ciúmes. Era bochicho corrente, e pode ser facilmente ouvido nos discos do grupo -como no progressivo isolamento de Nando a partir de quando a banda optou pelo rock pauleira, no início dos 90.
Arnaldo saíra após anos sendo apontado na mídia, erroneamente, como "líder" da banda. O ciúme foi corroendo sua permanência. De novo a história se repete com Nando, que adquiriu prestígio como parceiro de Cássia Eller e neste ano assinou contrato com outra gravadora para vôo solo. Segundo o livro, não comunicou isso à banda -daí as mágoas.
Nas entrelinhas fica a ética dura de que nenhum membro dos Titãs é admitido como maior que os Titãs. Quem cresce sobra.
E o desvendamento dessa dinâmica interna, ainda que feito de forma cuidadosa, é o que há de inédito e revelador numa biografia que é semi-oficial, mas nem por isso resulta menos saborosa. Devagarinho a MPB (neste caso a dos anos 80) vai sendo colocada em pratos limpos.

A Vida Até Parece uma Festa - Toda a História dos Titãs


   
Autores: Hérica Marmo e Luiz André Alzer
Editora: Record
Quanto: R$ 35 (402 págs.)


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