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"A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA"
Biografia escrita por jornalistas cariocas tem apoio da banda e de ex-integrantes
Obra traz à tona Titãs, mágoas e bastidores
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na capa do livro "A Vida Até
Parece uma Festa", estão
cinco dos Titãs, em foto recentíssima. O subtítulo da biografia
agora lançada pelos jornalistas cariocas Hérica Marmo e Luiz André Alzer é "Toda a História dos
Titãs". É imediata então a pergunta, sobre por que ficaram de fora
da capa os demais integrantes da
banda paulistana, que já foram
nove, oito, sete e seis.
O termo "toda" parece destoar
do contexto, e o medo aumenta
porque se percebe que a biografia
tem apoio explícito da banda.
Mas, ainda bem, não é o que
acontece (até ex-Titãs prestaram
intensa colaboração à pesquisa).
À parte ser quase uma biografia
oficial dos Titãs, o livro não tende
à chapa-branca nem evita vários
temas incômodos vividos nos recém-completados 20 anos de história de um dos grupos que deram sentido ao rótulo "pop-rock"
que a MPB recebeu nos anos 80.
Talvez os autores desapontem
por não ir muito a fundo nas tais
histórias incômodas, mas muitas
delas -drogas, rivalidade com os
Paralamas do Sucesso, desentendimentos com empresários- estão descritas com aparente sinceridade, como é do feitio do caráter
crítico e até autocrítico dos Titãs.
O mais saboroso, aqui, fica por
conta dos relatos da saída de Arnaldo Antunes, em 1991, quando
o octeto virou septeto, e da recentíssima renúncia de Nando Reis,
em 2002. Pouco depois da morte
acidental de Marcelo Fromer, em
2001, os então seis Titãs viravam
assim os cinco que estão na capa,
ainda hoje mais numerosos que
qualquer banda de rock.
As linhas desses episódios são
reprisadas de modo convincente,
mas é preciso lê-los também nas
entrelinhas. Primeiro, os autores
narram a saída de Arnaldo quase
como evento corriqueiro, amistoso, vivido sem traumas. Ocorrido
há 11 anos, é fato mais que assimilado pelos Titãs.
O final do livro é mais emocionante. Trata do desgaste de Nando Reis nos mínimos detalhes, e
tende a vilanizar em parte o dissidente, na comparação com a saída mais "às claras" de Arnaldo. As
mágoas são mais recentes, as feridas ainda estão abertas.
Mas os Titãs parecem haver
confessado aos autores que as
rupturas nos Titãs se deram, nas
duas vezes, por ciúmes. Era bochicho corrente, e pode ser facilmente ouvido nos discos do grupo -como no progressivo isolamento de Nando a partir de quando a banda optou pelo rock pauleira, no início dos 90.
Arnaldo saíra após anos sendo
apontado na mídia, erroneamente, como "líder" da banda. O ciúme foi corroendo sua permanência. De novo a história se repete
com Nando, que adquiriu prestígio como parceiro de Cássia Eller
e neste ano assinou contrato com
outra gravadora para vôo solo. Segundo o livro, não comunicou isso à banda -daí as mágoas.
Nas entrelinhas fica a ética dura
de que nenhum membro dos Titãs é admitido como maior que os
Titãs. Quem cresce sobra.
E o desvendamento dessa dinâmica interna, ainda que feito de
forma cuidadosa, é o que há de
inédito e revelador numa biografia que é semi-oficial, mas nem
por isso resulta menos saborosa.
Devagarinho a MPB (neste caso a
dos anos 80) vai sendo colocada
em pratos limpos.
A Vida Até Parece uma Festa -
Toda a História dos Titãs
Autores: Hérica Marmo e Luiz André
Alzer
Editora: Record
Quanto: R$ 35 (402 págs.)
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