São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002 |
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35º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO Competição de longas tem seis filmes distintos nos temas e parecidos nos aspectos de produção Contrariamente iguais
SILVANA ARANTES DA REPORTAGEM LOCAL O 35º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro -que começa hoje e segue até o dia 26- promove uma competição de seis filmes inéditos nas telas comerciais, com temas em tudo dessemelhantes e muitos pontos de contato em aspectos de produção. O retrato do Nordeste atual num tom "Amarelo Manga" pintado por Cláudio Assis está escalado para a noite de sábado, que tradicionalmente concentra os títulos mais fortes da programação. "É um filme malcomportado", afirma o cineasta pernambucano, referindo-se à sua escolha de "contar a história de maneiras entrelaçadas e ir repetidamente da ficção ao documentário". A mescla dos gêneros ficcional e documental é também um dos recursos de "Cama de Gato", de Alexandre Stockler, diretor estreante em longas assim como Assis e Renato Falcão, de "A Festa de Margarette", cartaz do dia 25. "Amarelo Manga" custou R$ 800 mil, incluindo permutas. "Cama de Gato", que retrata a juventude urbana de São Paulo e abre a competição, custou ainda menos. Elencos O ator Chico Dias protagoniza "Amarelo Manga" e atua também no competidor cearense "Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio", de Rosemberg Cariry. A atriz Dira Paes está no elenco de ambos os filmes e é vista em "Celeste e Estrela", o ainda inédito segundo longa de Betse de Paula ("O Casamento de Louise"), que será exibido hoje, na abertura do festival, fora de competição. O segundo filme da grade competitiva é "Desmundo", de Alain Fresnot, que ganha contornos de superprodução diante dos modestos orçamentos dos demais concorrentes. "Desmundo" custou R$ 4,5 milhões. É um filme de época, ambientado no Brasil do século 16, falado em português arcaico e exibido com legendas em tradução para a forma corrente do idioma. "Dentro de seu gênero e com o esforço de produção com que foi feito, "Desmundo" é baratíssimo. Mas vou ficar muito triste se o Festival de Brasília for marcado por essa polêmica do orçamento, que me parece falsa", diz Fresnot. O cineasta paulista afirma que inscreveu seu longa na competição por ser "contra a tradição brasileira de exibir os filmes maiores hors-concours, ou fechando, ou abrindo os festivais". "Acho que o cinema brasileiro só teria a ganhar se veteranos como Ruy Guerra e Nelson Pereira dos Santos participassem dos nossos festivais em competição", afirma. O diretor carioca José Joffily vai à disputa em Brasília com seu "Dois Perdidos Numa Noite Suja" (orçamento pouco maior que R$ 1 milhão) depois de ter competido em Gramado, onde recebeu os Kikitos de montagem (Eduardo Escorel) e música (David Tygel). Joffily é um dos convidados para o seminário sobre cinema e literatura, que o festival promove como evento paralelo. O diretor afirma que sua adaptação da obra teatral de Plínio Marcos, escrita há quatro décadas, espantou aqueles que "gostam do Plínio somente enquanto maldito e morto; estabelecido e etiquetado na quarta prateleira". O filme de Joffily ambienta na Nova York dos dias de hoje a ação originalmente concebida em Santos e entrega à atriz Débora Falabella a interpretação do personagem Paco, caráter masculino na versão original. A produção do filme nos Estados Unidos foi feita por Renato Falcão, que assina a direção de "A Festa de Margarette", um filme mudo, rodado em preto-e-branco e em tom de fábula. Mais folclórico que fabular, "Lua Cambará", de Cariry, parte de uma lenda brasileira de formação do povo negro, para tentar refletir sobre as mentalidades do colonizado e do colonizador. O coordenador do Festival de Brasília, Fernando Adolfo, diz que os critérios de seleção adotados foram "a inovação de linguagem, a multiplicidade de gêneros e a diversidade regional". O 35º Festival de Brasília promove também competição de curtas em 35 mm e em 16 mm. O orçamento da mostra é de R$ 1,2 milhão e seus patrocinadores são BR, Banco do Brasil, Brasil Telecom e Terracap. Texto Anterior: Fernando Bonassi: Roleta brasileira Próximo Texto: Festival é ocasião política Índice |
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