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CINEMA
"Contra Todos", estréia de Roberto Moreira, ganhou prêmios na Itália e no Rio
Longa revira batalhas da periferia paulistana
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
No princípio, "Contra Todos"
teria Deus como prenome. O diretor e roteirista Roberto Moreira
optou por reduzi-lo. "Estar contra
todos é uma força muito maior. É
uma fatalidade mesmo. E é uma
experiência cotidiana de dificuldade, de luta", diz.
Uma analogia entre a história
do filme e de seu próprio título
poderia ser esta: Deus perdeu a
batalha para o que existe de mais
humano (e destruidor): o desejo,
a rebeldia, o amor ou a falta dele.
O filme de estréia de Moreira,
43, professor de roteiro e direção
da ECA-USP (Escola de Comunicações e Arte da Universidade de
São Paulo), trata sobretudo das
relações e dos sentimentos de
seus personagens convivendo na
árida periferia paulistana.
Do "rico" ambiente social onde
moram, rebentam a religião, encarnada nos evangélicos, e a violência, através da figura do matador. Essas aparentes contradições
estão condensadas no personagem de Giulio Lopes, Teodoro.
Casado com Claudia (Leona
Cavalli) e pai de Soninha (Silvia
Lourenço), ele é, ao mesmo tempo, um fervoroso pregador da Bíblia e um calmo assassino, que
age em parceria com o amigo
Waldomiro (Aílton Graça).
"Queria trabalhar a questão da
violência, e o matador é um foco
de violência", conta o diretor.
Os personagens vão se desenhando com complexidade, mas
sem que se imponham traços maniqueístas.
Teodoro é também um pai distante e um homem com o casamento em crise que se apaixona
por outra mulher. A filha adolescente rebela-se, confronta o pai,
mas o ciúme de Claudia denota
seu amor por ele.
Boa parte do mérito da verossimilhança das personagens está
nas notáveis interpretações. Silvia
Lourenço ganhou o prêmio de
melhor atriz no 19º Festival Latino-Americano de Trieste, na Itália, no último mês, e no Festival
do Rio deste ano.
"Foi difícil acreditar que um
projeto tão intimista, de equipe
tão pequena, seria visto por todo
mundo. A surpresa com o prêmio
na Itália foi enorme. Eles não te
conhecem, não falam sua língua e
ainda assim reconhecem seu trabalho", diz Silvia, que faz sua estréia no cinema.
O filme levou ainda o prêmio de
melhor longa brasileiro, escolhido pelo júri, no festival carioca, e
foi convidado para mostras internacionais, em Berlim, Biarritz e
Chicago, entre outras.
Cidade de Deus
Apesar de ser um filme de ficção, o diretor optou por trabalhar
o filme de forma muito parecida
com a utilizada no cinema documental.
"Criamos um mundo ficcional
muito coerente, a câmera entra e
tenta filmar como em um documentário. As coisas não estão organizadas para a câmera."
O longa foi filmado na região
leste da capital paulista, no bairro
de Aricanduva. O centro aparece
só como coadjuvante -uma das
tomadas iniciais tem como locação as Grandes Galerias, também
conhecida como Galeria do Rock.
O fato de representar uma realidade de exclusão social gerou
uma comparação entre o filme de
Moreira e "Cidade de Deus", de
Fernando Meirelles, um dos produtores de "Contra Todos".
"Acho que faz todo o sentido. É
um arco. "Cidade de Deus" é o máximo na verossimilhança, a gente
acredita naquele mundo, onde tudo se encaixa. O meu filme também quer isso, chegar perto, envolver o espectador."
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