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Novela adere à estética de "Cidade de Deus"
"Vidas Opostas", que estréia na Record, retrata as favelas e traz atores do filme
O novelista Marcílio Moraes afirma que a nova trama ousa ao contar histórias de personagens "excluídos" da teledramaturgia brasileira
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Globo, por enquanto, a favela está restrita aos telejornais, quadros da Regina Casé e
a séries independentes, como
"Cidade dos Homens" e "Antônia", que estreou anteontem.
Na Record, a influência do
longa-metragem "Cidade de
Deus" (2002) chegará às novelas a partir desta terça, às 22h.
A emissora estréia "Vidas
Opostas", escrita pelo ex-global
Marcílio Moraes, co-autor de
"Roque Santeiro", "Roda de Fogo" e "Mandala", entre outras.
Na novela, a mocinha Joana
(Maytê Piragibe) é pobre, como
muitas outras na história da teledramaturgia. A diferença é
que ela mora na favela e não em
um subúrbio carioca reproduzido em cidade cenográfica por
belas casinhas coloridas.
Além de seu núcleo, de "gente de bem", haverá outros dois
na favela, formados por traficantes. Da ala "do mal" farão
parte dois protagonistas de "Cidade de Deus", Phellipe Haagensen (o Bené do filme) e
Leandro Firmino (que fez Zé
Pequeno). Entre outros temas,
"Vidas Opostas" abordará a
guerra entre facções inimigas
do tráfico e não faltarão seqüências de tiroteio, com arsenal de metralhadores e fuzis.
As tomadas desse universo
estão sendo gravadas na favela
Tavares Bastos, no Catete
(Rio). "Escolhemos esse local
porque o Bope [Batalhão de
Operações Especiais da Polícia
Militar] está instalado lá e a situação está mais tranqüila", explica o autor da novela.
Na história, a mocinha da favela apaixona-se pelo galã milionário Miguel (Leo Rosa)
-daí o nome "Vidas Opostas".
O problema é que um ex-namorado que virou traficante sai da
cadeia e resolve tomar de volta
a amada, além da boca-de-fumo. "A população, oprimida pela polícia e pelos bandidos, revolta-se contra o traficante e,
em meio à confusão, ele acaba
sendo morto", conta Moraes.
O autor se inspirou na peça
"Fuente Ovjuna" (1612), do escritor espanhol Lope de Vega,
que narra a rebelião de um povoado contra o governador. "A
novela tem um pouco dessa
obra, um clássico para a esquerda marxista, por abordar,
sob viés político, a opressão vivida por moradores da favela."
Para Moraes, as telenovelas
seguem uma "estética da exclusão" ao não retratar as classes
sociais mais baixas. "A novela é
um investimento alto que precisa de retorno financeiro e, por
isso, tem sido dirigida ao público consumidor e não aos excluídos. "Vidas Opostas" ousa
nesse sentido, e acredito que
não haverá rejeição do mercado porque ela traz todos os elementos clássicos do folhetim."
"Vidas Opostas" tem ex-globais como Lucinha Lins, Cecil
Thiré, Raul Gazolla e outros.
Substitui "Cidadão Brasileiro",
de Lauro César Muniz, que termina amanhã após manter a
audiência em torno dos 12 pontos, bom resultado para a Record.
(LAURA MATTOS)
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