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SAMBA-JAZZ
Saxofonista e arranjador pioneiro diz que se sentia "virtual" até as reedições de "O Som" e "O Novo Som"
Meirelles, 61, diz que volta a existir agora
DO ENVIADO AO RIO
O homem grisalho tem compromisso marcado todo sábado,
das 12h às 16h, na rua Barata Ribeiro, em Copacabana, no Rio de
Janeiro. É quando toma sax e flauta, instrumentos de uma vida inteira, e apresenta jóias de seu samba-jazz no bar da loja de discos
Modern Sound, acompanhado de
baixista e pianista.
Tal rotina representa, para João
Theodoro Meirelles, ou J.T. Meirelles, ou só Meirelles, 61, a volta
discreta à atividade de um artista
que já extraiu evidência das atividades de compositor, músico, orquestrador, arranjador e maestro.
"Estive ligado à bossa nova desde seu início, mas em 59 me mudei para São Paulo. Com 20 anos,
tocava em conjuntos na noite, e já
abríamos para Dizzy Gillespie, em
sua passagem pelo Brasil. Depois
voltei para o Rio, e aqui já rolava o
Beco das Garrafas. Toquei com
João Donato e conheci Jorge Ben e
Rosinha de Valença, que davam
canja por ali sem terem nada a ver
com bossa nova", conta o músico.
Já não se considerava um bossa-novista de carteirinha: "O que eu
queria fazer não era o lance da
bossa, que sempre foi voz e violão,
mais light e romântica. A mistura
de samba e jazz já existia de antes,
com Sivuca, Edison Machado, a
Turma da Gafieira. Nosso lance
era mais misturar a própria bossa
nova com o jazz dos anos 60. O
rótulo samba-jazz, sinceramente,
não sei como surgiu".
A volta lenta se iniciou pela reedição, há poucos meses, dos três
primeiros discos de Jorge Ben, futuro formatador do samba-rock e
do samba-funk, que entre 63 e 64
aprendia com ele, Meirelles, a inventar o "samba esquema novo".
"Aquilo nem passava pela cabeça de Jorge. Ele era da turma do
rock, amigo de Erasmo Carlos e
de Tim Maia. Foi uma fase para
ele, que tinha muito mais energia
que nosso estilo", lembra.
A bordo do sucesso de "Mas
que Nada" e "Chove, Chuva",
Meirelles pôde fazer seus próprios
discos, instrumentais e totalmente livres de pressões comerciais ou
artísticas por parte de gravadora.
Recrutou o conjunto que viria a
batizar Os Copa 5, composto por
músicos de alto calibre, todos ligados à bossa nova: Luiz Carlos
Vinhas, Dom Um Romão, Manoel Gusmão e Pedro Paulo. Foi a
formação que criou o conciso "O
Som" (64), com seis clássicos instrumentais de Meirelles.
Em 65, o conjunto original já estava disperso, o que o moveu a
congregar uma nova equipe (da
anterior, só restou Gusmão) para
elaborar o menos autoral "O Novo Som". Os novos Copa 5 eram
Eumir Deodato, Edison Machado, Roberto Menescal e Waltel
Branco.
Logo Meirelles foi para a TV,
onde trabalhou com Elizeth Cardoso, Elis Regina, Jair Rodrigues,
Wilson Simonal. "Aí mudou o governo, e os militares trancaram
tudo. Caiu a ficha, parei com isso
de música instrumental e fui tratar de ser profissional", diz, lembrando que produziu e/ou tocou
com Tito Madi, Dóris Monteiro,
Silvio Cesar, Gonzaguinha, Gilberto Gil até meados dos anos 70,
quando o campo se fechou de vez.
"Nunca mais me interessei em
fazer meu projeto, achei que ia ficar mais aborrecido que contente.
Os canários se deram bem até o
fim do século, mas vi amigos que
continuaram a morrer cedo de
desgosto, droga, bebida, o diabo."
Agora ele se redefine, motivado
pelas reedições: "Devido à minha
atitude de distanciamento, me
tornei um artista virtual. Estava
em algum lugar do passado. Era
tratado como "lendário", "mito",
mas onde estava, em Marte? Agora não sou mais virtual, eu já existo. Ainda não estou acreditando,
não".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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