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"Som Brasil" celebra Dorival Caymmi
Nana abre show com "Só Louco", do pai, que morreu neste ano; programa recebe Baleiro e Moinho, entre outros
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Desde a morte dos pais, em
agosto passado, Nana Caymmi
tem evitado cantar. Preferiu
aplicar silêncio nas feridas
abertas pela perda quase simultânea de Dorival e Stella.
No último "Som Brasil" do
ano -chamado de "especial"
pela Globo, que até tirou o programa da madrugada erma em
que é escondido- Nana aparece no começo com "Só Louco",
rouba qualquer cena que possa
surgir depois e vai embora se
proteger das guitarras e baterias de que os jovens convidados revestiram a obra do pai.
Não consta que Caymmi,
apreciador da juventude, fosse
um purista radical. Dizia, sim,
que ninguém cantava suas músicas melhor do que ele próprio. Mas aí são os fatos. Implicava, no entanto, com liberdades exageradas, como a infelizmente inesquecível versão pop
de Gilberto Gil para "Marina".
E não é que Zeca Baleiro termina sua "Marina" em levada que
lembra aquela desgraceira?
Baleiro começa suas três participações no programa ("Dora", "Marina" e "Rosa Morena")
em andamento lento, pisando
manso no terreno. Mas os arranjos crescem. Carregam bons
momentos, como o groove conduzido pelo baixo em "Dora",
ou maus, como a guitarra e os
sopros no final de "Marina".
"Para cima"
O grupo Moinho optou só
por músicas "para cima", juntando seis em três aparições. A
forte guitarra de Toni Costa
causa estranheza em "Samba
da Minha Terra". Mas é pior a
bateria forte no pot-pourri
"Você Já Foi à Bahia?"/ "O que
É que a Baiana Tem?"/ "Vatapá". A voz e o charme de Emanuelle Araújo são os destaques
das interpretações, que não
manchariam a identidade do
grupo se fossem mais suaves.
Margareth Menezes joga
"Morena do Mar" mais para cima do que a profundidade da
música indica. Vira ijexá, assim
como "Canoeiro" vira samba-reggae. É tudo baiano e, logo, de
alguma forma derivado de
Caymmi. Mas ele é mais bem
homenageado no trecho da
"Suíte dos Pescadores", em que
a cantora imprime seu estilo
sem mexer na estrutura- seria
quase impossível, diga-se.
A idéia do "Som Brasil" é essa
mesma: misturar alguém mais
experiente -às vezes é o próprio homenageado- com uma
turma nova livre para experimentar. Não há como não
aplaudir, ainda mais num tempo em que é tão ruim e tão repetitivo o que se toca na TV.
Mas, até por uma questão de
afinidade natural, o homenageado costuma tratar melhor a
própria música do que os convidados. No caso de Caymmi, o
"João Valentão" final na voz de
Dori e o "Só Louco" inicial com
Nana acompanhada do violão
de Dori e da flauta de Danilo
são os melhores momentos.
Danilo ainda canta "Sábado em
Copacabana" com sua filha Alice, que sola "Nem Eu" -ela tem
o timbre da família, mas, aos 18,
inevitável pouca experiência.
Talvez o melhor de tudo mesmo seja ouvir, com os créditos
passando, o próprio autor cantar um trecho de "O Vento". Fica claro que todas as homenagens são válidas, mas que nunca ninguém cantará Dorival como Dorival cantou.
SOM BRASIL - DORIVAL
CAYMMI
Quando: hoje, às 23h20
Onde: na Globo
Classificação: não informada
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