São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

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"Som Brasil" celebra Dorival Caymmi

Nana abre show com "Só Louco", do pai, que morreu neste ano; programa recebe Baleiro e Moinho, entre outros

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Desde a morte dos pais, em agosto passado, Nana Caymmi tem evitado cantar. Preferiu aplicar silêncio nas feridas abertas pela perda quase simultânea de Dorival e Stella.
No último "Som Brasil" do ano -chamado de "especial" pela Globo, que até tirou o programa da madrugada erma em que é escondido- Nana aparece no começo com "Só Louco", rouba qualquer cena que possa surgir depois e vai embora se proteger das guitarras e baterias de que os jovens convidados revestiram a obra do pai.
Não consta que Caymmi, apreciador da juventude, fosse um purista radical. Dizia, sim, que ninguém cantava suas músicas melhor do que ele próprio. Mas aí são os fatos. Implicava, no entanto, com liberdades exageradas, como a infelizmente inesquecível versão pop de Gilberto Gil para "Marina".
E não é que Zeca Baleiro termina sua "Marina" em levada que lembra aquela desgraceira?
Baleiro começa suas três participações no programa ("Dora", "Marina" e "Rosa Morena") em andamento lento, pisando manso no terreno. Mas os arranjos crescem. Carregam bons momentos, como o groove conduzido pelo baixo em "Dora", ou maus, como a guitarra e os sopros no final de "Marina".

"Para cima"
O grupo Moinho optou só por músicas "para cima", juntando seis em três aparições. A forte guitarra de Toni Costa causa estranheza em "Samba da Minha Terra". Mas é pior a bateria forte no pot-pourri "Você Já Foi à Bahia?"/ "O que É que a Baiana Tem?"/ "Vatapá". A voz e o charme de Emanuelle Araújo são os destaques das interpretações, que não manchariam a identidade do grupo se fossem mais suaves.
Margareth Menezes joga "Morena do Mar" mais para cima do que a profundidade da música indica. Vira ijexá, assim como "Canoeiro" vira samba-reggae. É tudo baiano e, logo, de alguma forma derivado de Caymmi. Mas ele é mais bem homenageado no trecho da "Suíte dos Pescadores", em que a cantora imprime seu estilo sem mexer na estrutura- seria quase impossível, diga-se.
A idéia do "Som Brasil" é essa mesma: misturar alguém mais experiente -às vezes é o próprio homenageado- com uma turma nova livre para experimentar. Não há como não aplaudir, ainda mais num tempo em que é tão ruim e tão repetitivo o que se toca na TV.
Mas, até por uma questão de afinidade natural, o homenageado costuma tratar melhor a própria música do que os convidados. No caso de Caymmi, o "João Valentão" final na voz de Dori e o "Só Louco" inicial com Nana acompanhada do violão de Dori e da flauta de Danilo são os melhores momentos.
Danilo ainda canta "Sábado em Copacabana" com sua filha Alice, que sola "Nem Eu" -ela tem o timbre da família, mas, aos 18, inevitável pouca experiência. Talvez o melhor de tudo mesmo seja ouvir, com os créditos passando, o próprio autor cantar um trecho de "O Vento". Fica claro que todas as homenagens são válidas, mas que nunca ninguém cantará Dorival como Dorival cantou.


SOM BRASIL - DORIVAL CAYMMI
Quando:
hoje, às 23h20
Onde: na Globo
Classificação: não informada



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