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Sylvio Back filma a poesia de Cruz e Souza
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
Cruz e Souza (1861-98), o poeta
das "veladas, veladoras vozes",
expoente do simbolismo e um dos
fundadores da poesia moderna
brasileira, vai virar filme.
O cineasta catarinense Sylvio
Back roda em Florianópolis, a partir de fevereiro do ano que vem, o
"docudrama" "Cruz e Souza, o
Poeta do Desterro", média-metragem com 50 minutos de duração.
"O título do filme tem duplo
sentido", disse o diretor em entrevista à Folha.
"Nossa Senhora do Desterro é o
nome que Florianópolis tinha na
época em que Cruz e Souza lá nasceu e viveu. Mas ele é o poeta do
desterro também por sua condição
de filho de escravos, excluído da
sociedade e da cultura oficial."
Altivo e elegante
Sylvio Back ainda não escolheu o
ator que vai encarnar o poeta na
tela. "Procuro um ator que seja
aquele negro arrogante, que não
abaixa a cabeça", explica.
"Essa altivez tem de estar estampada no seu próprio rosto. Cruz e
Souza era assim: altivo, elegante,
bem vestido."
A mulher do poeta, Gavita, será
interpretada pela atriz Maria Ceiça. "Além de ótima atriz, ela também canta. E o filme vai ter muita
música, muitos versos cantados",
explica Back.
Encenação e documentação
O diretor afirma que optou pela
mistura de drama e documentário
em função do desgaste que os dois
formatos, isoladamente, têm apresentado.
"O documentário se banalizou,
não tem mais força nenhuma",
afirma o cineasta. "De outro lado,
a ficção também está tão padronizada que os filmes parecem todos
feitos pelo mesmo diretor. O formato do 'docudrama' é uma experiência que tem um efeito perturbador, que tira o espectador da
mesmice."
Back não explica como será essa
mistura em "Cruz e Souza". Só
afirma que nele, ao contrário do
que ocorria em seus últimos filmes
-como "Rádio Auriverde" e
"Yndio do Brasil"-, haverá a
preponderância da encenação sobre a documentação.
"Não vai ter narrador nem entrevistas, pois isso virou um formato perverso e facilitário. Quero
ver o Cruz e Souza por dentro, por
meio dos poemas dele. Os diálogos
vão ser tirados dos seus versos",
diz o diretor.
Ano Cruz e Souza
"Cruz e Souza, o Poeta do Desterro" terá como co-produtora a
TV Cultura, que não entrará com
dinheiro mas já garantiu sua exibição, o que serviu como um aval
para a captação de recursos via Lei
do Mecenato.
O filme está orçado em R$ 500
mil e Sylvio Back pretende concluí-lo "o mais rápido possível",
para aproveitar a agitação em torno do centenário de morte do poeta catarinense.
"O Ministério da Cultura já decidiu que, assim como 1997 foi o
ano Castro Alves, 1998 será o ano
Cruz e Souza."
De acordo com o cineasta, seu
objetivo é "quebrar a mitologia
em torno de Cruz e Souza, segundo a qual ele foi um preto de alma
branca".
Para Back, o desconhecimento
nacional da estatura de Cruz e
Souza como poeta é fruto de dois
preconceitos crônicos: contra os
negros e contra a cultura do sul do
país.
"Ele é um caso único, pelo toque
inventivo de sua poesia, que mistura misticismo, dor física, dor
moral, social, racial", afirma o cineasta.
Segundo Sylvio Back, Cruz e
Souza, apesar de reconhecido como grande poeta, não foi aceito na
Academia Brasileira de Letras,
fundada um ano antes da morte do
escritor.
Antes de filmar "Cruz e Souza",
o cineasta deve finalizar o seu longa-metragem "Véu de Curitiba",
que também mistura documento e
ficção (poesia e prosa encenados)
para retratar a capital paranaense.
Depois, parte para seu projeto
mais ambicioso, o longa "Lost
Zweig", co-produção internacional sobre os últimos dias do escritor austríaco Stefan Zweig, que se
suicidou em Petrópolis, no ano de
1942.
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