São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 1998

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LIVRO - LANÇAMENTOS
Obra conta histórias da paixão em trio

CYNARA MENEZES
da Reportagem Local


Que "cara-metade", "outra banda da laranja", que nada. Por que ser dois, se é possível ser três? É o que propõem os autores de "Amor a Três", Barbara e Michael Foster e Letha Hadady, eles próprios um trio de amantes, que se dedicaram a buscar em livros e na vida real as histórias de quem optou pela paixão em trio.
São reis, rainhas, atores, escritores, filósofos, políticos e artistas que têm sua energia amorosa e sexual desnudadas nas páginas do livro. Com mais exatidão, há até mais de três amantes que às vezes se confundem na mesma relação.
Por exemplo: o caso da pintora Vanessa Bell, irmã de Virginia Woolf, casada com o colecionador de arte Clive Bell, que viveu um intenso triângulo amoroso com os poetas David (Bunny) Garnett e Duncan Grant.
Grant, na realidade possuído pelo amor por Garnett, aceita o ménage proposto por Vanessa, e todos seguem juntos para o campo. Para manter o triângulo, ela aceitava as exigências de Bunny e era mediadora das explosões entre os amantes, motivadas pelas constantes escapadas de Garnett. A trama torna-se mais curiosa porque, anos depois, Bunny Garnett se casa com a filha de Grant e Vanessa, Angelica, 20 anos mais nova, para desespero do pai, que não suportou o afastamento do amante.
É nesse tipo de história que o livro se fundamenta, e é aí que a tese de "felicidade a três" demonstra fragilidade. Não há muitos indícios, no livro, de que qualquer delas tenha sido feliz -a não ser a dos autores, que mais detalhes não dão sobre sua experiência.
A relação entre Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, pontuada de casos extraconjugais de ambos os lados, mostra muitos aspectos de dor extrema. Simone buscava emoção nos braços de suas pupilas. Sartre se apaixonava por elas.
Entre os políticos, há o romance entre François Miterrand e Anne Pingeot, revelado pouco antes de sua morte, em 96. No enterro do líder francês, Pingeot e Danielle Miterrand dão uma lição de dignidade, mas não há indícios de que tivessem sido felizes compartilhando o mesmo homem.
Também é assim com o casal Henri-Pierre Roché e Franz e Helen Hessel, que teriam inspirado o filme "Jules e Jim", de François Truffaut. Henri-Pierre vivia pensando em fugir dos sentimentos pela poderosa Helen, denominada pelo marido de "o general".
Com a inglesa Dora Carrington (inspiradora do filme "Carrington") e seus amantes, o homossexual Lytton Strachey e Ralph Partridge, não é diferente. Carrington sofre em manter Partridge por perto para ter Strachey a seu lado.
Voltando ao princípio: por que não três? Talvez porque, levando em conta o livro, se com dois é difícil, um terceiro personagem pode ser só um complicador a mais.
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Livro: Amor a Três
Autores: Barbara Foster, Michael Foster e Letha Hadady
Lançamento: Rosa dos Tempos
Quanto: R$ 39 (486 págs.)





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