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LITERATURA
Livro do motorista de ônibus, candidato derrotado ao Booker Prize que passa férias no Brasil, sai no país em 99
Mills aguarda prêmio e se perde no Rio
ANNA LEE
da Sucursal do Rio
Sentado à beira da piscina do hotel Méridien, tendo à sua frente a
visão total da praia de Copacabana, num dia claro e quente de quase verão carioca, o motorista de
ônibus inglês Magnus Mills faz
uma constatação inevitável.
Seus amigos estavam certos
quando disseram que a indicação
de seu primeiro livro, "The Restraint of Beasts" (A Restrição das
Bestas), para o Booker Prize, o
maior prêmio literário do Reino
Unido, viria acompanhada de um
passe para uma vida melhor.
"Muito melhor. Muitas coisas
aconteceram desde então."
Inclusive poder dizer que, hoje,
mesmo sem ter conquistado o
Booker Prize, é um escritor que, às
vezes, dirige ônibus, "por pura terapia ocupacional".
Pode tirar folga quando quer,
tanto é que está de férias no Rio,
realizando um desejo de sua mulher. "Ela adora viajar. Quando sugeriu que viéssemos para cá, pensei, por que não?"
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Linguagem expressa
Lançado em setembro do ano
passado pela editora inglesa Flamingo, "The Restraint of Beasts"
está na sétima edição e já vendeu
30 mil cópias só no Reino Unido,
depois de ter conseguido arrancar
elogios de vários críticos ingleses.
O sucesso, Mills atribui à "maneira simples e direta" como escreve, com "certa dose de humor".
"The Restraint of Beasts" também foi editado nos Estados Unidos e, para o ano que vem, tem lançamento programado para pelo
menos 12 países, entre eles, Holanda, França, Itália, Dinamarca e Noruega.
No Brasil, a Geração Editorial pagou US$ 4.500 e ganhou o direito
de editar o livro, que já está sendo
traduzido e deve chegar às livrarias
entre abril e maio.
Ano que vem, a história de Tam e
Richie, dois construtores de cercas
rurais que deixam assassinato e
caos nos lugares onde trabalham,
também deve virar filme.
Ainda em 1999, com "The Restraint of Beasts", Mills pretende
ganhar o Whitbread Prize -prêmio concedido anualmente pela
associação dos livreiros do Reino
Unido-, para o qual está concorrendo com mais cinco romancistas
e cujo vencedor deve ser anunciado no dia 13 de janeiro.
Ele diz que será uma forma de
"superar a decepção por não ter
conquistado o Booker Prize" e
uma maneira de vender mais livros.
˛
Pé na tábua
Por enquanto, de prático, explica Mills, o sucesso de "The Restraint of Beasts" tem significado
ganhar por dia 200 libras (cerca de
R$ 400), o mesmo que recebia por
uma semana de trabalho como
motorista.
"Meu rendimento vai aumentar
ainda mais quando o livro for lançado em vários países. Vou conseguir comprar uma casa bem grande em Brixton (bairro na periferia
de Londres, local em que mora e
onde fica a garagem da empresa de
ônibus em que trabalha)", disse
Mills, ressaltando que não escreve
"pensando no dinheiro que vai ganhar".
Escreve? "Sim. Já estou com meu
segundo livro pronto, "All Quiet
on the Orient Express" (Todos
Quietos no Expresso do Oriente),
que deve ser lançado em outubro
do próximo ano", diz.
"Melhorei muito minha performance. Levei dois anos e meio para
escrever "The Restraint of Beasts',
desta vez gastei apenas cinco meses."
O novo livro de Mills fala sobre
um homem que acidentalmente
derrama uma lata de tinta e com isso se condena à morte.
"Parece sem sentido? Mas garanto que não é."
Suas idéias são retiradas das situações de seu dia-a-dia como motorista?
"Tenho 44 anos. Tudo que já vi e
vivi de certa forma serve como inspiração, não só especificamente as
pessoas que observo durante o
meu trabalho. Até porque quando
estou dirigindo olho apenas para
as rodovias."
Faz sentido. Antes de se tornar
motorista, há 12 anos, Mills trabalhou como construtor de cercas
em fazendas por seis anos, assim
como os personagens de "The Restraint of Beasts".
Tudo isso depois de ter deixado
sua cidade natal, Wolverhampton,
há 20 anos, onde também tinha
outro nome, Andrew Mills.
Contou que ganhou o nome de
Magnus por causa de um personagem da TV chamado Magnus
Magnusson, com o qual seus amigos o achavam parecido.
"Para escrever sobre uma situação, é preciso esperar o tempo passar, tem de haver um certo distanciamento. Quem sabe um dia vou
escrever sobre o Rio?"
Histórias, já tem para contar.
Quis conhecer Parati (litoral sul do
Rio), alugou um carro, mas não
conseguiu chegar. Ficou perdido
na avenida Brasil, um dos caminhos de saída do Rio.
Resolveu voltar para o hotel e
adiar a viagem para a próxima semana, antes do Natal, quando pretende voltar para Londres.
"Não me senti muito à vontade
dirigindo aqui. É tudo muito diferente. Além disso estou acostumado a dirigir ônibus, não carros",
completa.
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