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FOTOGRAFIA Madri reúne trabalhos realizados no México que revelam como os dois artistas, apesar do romance, caminharam por caminhos opostos
Modotti e Weston contrapõem social ao estético
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Madri
O fotógrafo norte-americano Edward Weston conheceu a italiana
Tina Modotti em 1921. Ambos casados, tiveram uma paixão fulminante, que os levou ao México dois
anos depois.
É sobre a relação entre os dois,
mas principalmente sobre a maneira absolutamente pessoal que
cada um dos dois desenvolveu sua
carreira fotográfica e sua relação
com o México, que trata a exposição "Modotti y Weston: Mexicanidad", que a Casa das Américas (paseo de Recoletos, 2, Madri) exibe
até o dia 7 de março.
Naquela época, o México não era
um destino exótico. O país atravessava um período de florescimento
político e cultural, que estimulava
muito a produção artística.
Sob o governo liberal de Álvaro
Obrerón -que promoveu a reforma agrária, apoiou os agricultores
e desenvolveu a produção artística-, o México atravessou um período de efervescência cultural, conhecido como "Renascença Mexicana".
Mas apesar de dividirem alguns
ideais, a produção estética dos dois
tomou caminhos distintos.
Edward Weston (1886-1958) preferia paisagens em que predominavam os contrastes, os jogos de
luz e sombras, os campos geométricos.
Essas características deslocavam
o olhar do espectador do real objeto fotografado, que poderia ser
uma formação arquitetônica, as
montanhas ou mesmo as nuvens
que pairam no céu.
Weston se interessava ainda pelas imagens produzidas em estúdio, em que vigoravam a força da
composição, o rigor, o ordenamento calculado, como nas composições com jogos infantis ou nas
séries com as costas nuas da escritora Anita Brenner ou com as formas e ângulos de vasos sanitários.
Já as fotos de Tina Modotti (1896-1942) são impregnadas de mensagens políticas e sociais, que as tornaram símbolos da luta contra as
desigualdades.
Por mais humildes que pareçam,
seus trabalhadores (homens, mulheres e crianças) preservam sempre uma dignidade.
Modotti descobriu com sua câmera aquilo que os mexicanos sabiam há séculos, que eram os herdeiros dos deuses. Não é à toa que,
não longe da capital mexicana, se
ergueu a cidade de Teotihuacán
("o lugar onde os homens se tornaram deuses").
No mesmo ano em que chegaram ao país (1923), Weston realizou uma fotografia da pirâmide do
Sol, em Teotihuacán, em que já demonstrava sua preocupação maior
com os planos que com o objeto do
trabalho em si.
Mas Weston não se ateve, porém,
apenas aos exercícios estilísticos.
Realizou séries sobre jogos infantis
e sobre bares populares mexicanos
("pulquerias").
Em 1929, Modotti realizou uma
série de fotografias nas cidades de
Juchitán e Tehuantepec (em Oaxaca, no sul do México), em que priorizou a dignidade com que as mulheres executavam seus afazeres
domésticos em uma sociedade de
forte caráter matriarcal.
Era possível prever que a fotografia, para Modotti, era apenas
mais um instrumento para a sua
militância comunista, que nada tinha a ver com ideais estéticos de
composição.
Realizou apenas cerca de 400
imagens em não mais que oito
anos, até 1930.
Caiu de amores pela possibilidade de uma revolução comunista
popular e por três de seus militantes: Julio Antonio Mella, Xavier
Guerrero e Vittorio Vidali.
Sobre o porquê de abandonar a
promissora carreira fotográfica
em favor da militância, um dia
Modotti escreveu: "Eu não posso
resolver o problema da vida me
perdendo no problema da arte".
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