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Maffesoli desiste de explicar a sociedade
Folha Imagem
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
Por um longo período, os sociólogos tentaram explicar a sociedade. O francês Michel Maffesoli (leia
entrevista abaixo), 54, desistiu.
As preocupações desse professor
da Sorbonne, diretor da revista
"Sociétés" e do Centro de Estudos
sobre o Atual e o Quotidiano, manifestas em "Elogio da Razão Sensível", recém-lançado pela Vozes,
são "compreender a vida social" e
buscar um meio para isso. Na terça-feira, Maffesoli participa de debate na Escola de Comunicações e
Artes da USP, em SP, às 16h.
Para o francês, o racionalismo
que busca relações de causa e efeito na sociedade tornou-se um "objeto de um ato de fé, com todas as
estreitezas do espírito inerentes à
crença". Propõe, em seu lugar, a
adoção de uma "razão aberta". Como é obrigado a reconhecer mais à
frente, "se a coisa é fácil de dizer, é
bem mais difícil de aplicar".
Maffesoli tem horror ao conceito, esse "tijolo" do pensamento racional. Prefere o que chama de miniconceito. O resultado prático é a
adoção de uma série de neologismos para defender a sociologia a
que quer chegar: busca aplicar o
"raciovitalismo" (razão e vitalismo) para compreender e "formismo", ou seja, a organização social
vista a partir do "cimento", do que
liga, e não do conteúdo.
Para o Maffesoli, vivemos num
tempo de mudança -daí a necessidade desse manifesto que é o
"Elogio". As mudanças que ele vê,
no entanto, podem ser mais bem
compreendidas em "O Tempo das
Tribos - O Declínio do Individualismo nas Sociedades de Massa",
agora na segunda edição.
Nesse livro, cuja primeira edição
no Brasil é de 1987, o sociólogo
francês defende que "há um declínio das grandes estruturas institucionais e ativistas -dos partidos
políticos, como mediação necessária, ao proletariado, como sujeito
histórico". Em contrapartida, passaríamos por um período de desenvolvimento daquilo que se pode chamar, de maneira bastante
genérica, as comunidades de base.
Maffesoli emprega o termo "pós-modernidade" para definir esse
mundo atual, inscrevendo num
movimento popularizado nos
anos 80. Para ele, vivemos numa
época em que se organizam novas
formas de "socialidade", por meio
de um novo tribalismo. A barbárie
chegou, está dentro de nós, diz
Maffesoli.
Uma figura cara ao sociólogo é o
das primeiras comunidades católicas, que se organizariam em pequenos grupos, independentes,
mas que mantinham um relacionamento emocional (ou "afetual",
usando um de seus neologismos)
em uma espécie de rede.
Nesse novo período, a estética, a
forma dessa agregação, seria mais
importante que o conteúdo, ou sua
ética. Assim, se imporia uma sociologia adepta do relativismo e de
um método próximo (mas mais
radical) ao do tipo ideal proposto
pelo alemão Max Weber (1864-1920), autor de a "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo".
Mas, ao contrário do observado
por Weber, Maffesoli crê que passamos por um processo de "reencantamento do mundo", associado a uma retomada do pluralismo.
Essa visão, no entanto, não passa, em nenhum momento, por
uma análise rigorosa. Por opção,
Maffesoli abandona o uso de métodos sociológicos, em troca de
uma valorização da sensibilidade.
O resultado é que, no meio de
tantos miniconceitos, encontramos, perdidas, algumas boas percepções sobre a atualidade. Elas,
no entanto, não conduzem nunca
a uma conclusão ou ao menos a
um painel que dê conta da complexidade que ele próprio anuncia.
Com sua "sensibilidade", Maffesoli deixa o sentido dado à ciência
pela razão. Afirma que não deseja
o irracional, mas o "não-racional".
Maffesoli não sabe aonde quer
chegar. A consequência disso necessariamente é que pouco lhe importa o caminho que vai pegar.
Livro: Elogio da Razão Sensível
Lançamento: Vozes
Preço: R$ 19,50
Livro: O Tempo das Tribos - O Declínio do
Individualismo nas Sociedades de Massa"
Lançamento: Forense Universitária (2ª ed.)
Preço: R$ 25,00
Debate: A Transfiguração do Político
Com: Michel Maffesoli, Renato Janine
Ribeiro, Edgar de Assis Carvalho e Clóvis de
Barros Filho
Quando: dia 23/2, terça-feira
Onde: Auditório Lupe Cotrim - ECA-USP (av.
Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, prédio
central)
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