São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2000


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Pintora foi bóia-fria

da Sucursal do Rio

Aparecida Azedo carrega consigo, na bolsa, uma reprodução ampliada e já toda amassada do verbete "naïf" da última edição do dicionário Aurélio. E a exibe com frequência, como se fosse uma carteira de identidade capaz de esclarecer sua profissão: artista plástica de uma arte "espontânea e popularesca na forma sempre figurativa, valendo-se de cores vivas e simbologia ingênua".
Ela nasceu em Brodósqui (SP), terra de Cândido Portinari (1903-1962), e viveu até os 5 anos em pequenas cidades em torno de Ribeirão Preto. Depois se mudou com os pais para Vera Cruz, região de Marília, onde ficou até a adolescência.
O pai era caixeiro-viajante: levava mercadorias da cidade para os moradores das áreas rurais e vendia alimentos na cidade.
Aos 14, começou a acompanhar o pai nas viagens pelo interior e a trabalhar como bóia-fria, colhendo algodão e café nas plantações em torno de Tupã (SP). Fez só o curso primário.
Em 46, ainda aos 16, entrou para o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Aos 17, fez seu primeiro quadro. Desde criança gostava de desenhar. A vida de militante política, no entanto, lhe impediu de continuar suas experiências com a pintura.
Em setembro de 49, foi presa pela primeira vez (foram três prisões no total) quando participava, em uma fazenda perto de Tupã, da preparação de um congresso clandestino de trabalhadores rurais. A polícia cercou a casa de pau-a-pique e atirou. Três foram mortos, e ela e um outro militante foram presos. Em 50, mudou-se para São Paulo, onde casou com o jornalista Raul Azedo.
A vontade de pintar voltou em 68. Aproximou-se de Ivan Serpa, que mantinha no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio um curso livre de pintura, por onde passariam vários artistas de vanguarda, mas também naïfs como Rosina Becker do Vale, Elisa Martins da Silveira, Elza O. S. e Miriam.
A sua primeira exposição foi em 73. Uma de suas paisagens, "Floresta Amazônica", foi premiada na Trienal de Arte Naïf de Bratislava, República Eslovaca, em 94.
Aparecida Azedo mora em Itaguaí, município colado ao Rio, pinta cerca de duas horas por dia, lê muito (principalmente história) e continua sua militância política no PPS, um dos herdeiros do velho Partidão.
Sua biografia foi escrita por Ivan Alves Filho e deve ser lançada até o final do ano, com o título de "Conto de Fadas". (MB)


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