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Pintora foi bóia-fria
da Sucursal do Rio
Aparecida Azedo carrega consigo, na bolsa, uma reprodução
ampliada e já toda amassada do
verbete "naïf" da última edição do
dicionário Aurélio. E a exibe com
frequência, como se fosse uma
carteira de identidade capaz de
esclarecer sua profissão: artista
plástica de uma arte "espontânea
e popularesca na forma sempre figurativa, valendo-se de cores vivas e simbologia ingênua".
Ela nasceu em Brodósqui (SP),
terra de Cândido Portinari (1903-1962), e viveu até os 5 anos em pequenas cidades em torno de Ribeirão Preto. Depois se mudou
com os pais para Vera Cruz, região de Marília, onde ficou até a
adolescência.
O pai era caixeiro-viajante: levava mercadorias da cidade para os
moradores das áreas rurais e vendia alimentos na cidade.
Aos 14, começou a acompanhar
o pai nas viagens pelo interior e a
trabalhar como bóia-fria, colhendo algodão e café nas plantações
em torno de Tupã (SP). Fez só o
curso primário.
Em 46, ainda aos 16, entrou para
o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Aos 17, fez seu primeiro
quadro. Desde criança gostava de
desenhar. A vida de militante política, no entanto, lhe impediu de
continuar suas experiências com
a pintura.
Em setembro de 49, foi presa
pela primeira vez (foram três prisões no total) quando participava,
em uma fazenda perto de Tupã,
da preparação de um congresso
clandestino de trabalhadores rurais. A polícia cercou a casa de
pau-a-pique e atirou. Três foram
mortos, e ela e um outro militante
foram presos. Em 50, mudou-se
para São Paulo, onde casou com o
jornalista Raul Azedo.
A vontade de pintar voltou em
68. Aproximou-se de Ivan Serpa,
que mantinha no Museu de Arte
Moderna (MAM) do Rio um curso livre de pintura, por onde passariam vários artistas de vanguarda, mas também naïfs como Rosina Becker do Vale, Elisa Martins
da Silveira, Elza O. S. e Miriam.
A sua primeira exposição foi em
73. Uma de suas paisagens, "Floresta Amazônica", foi premiada
na Trienal de Arte Naïf de Bratislava, República Eslovaca, em 94.
Aparecida Azedo mora em Itaguaí, município colado ao Rio,
pinta cerca de duas horas por dia,
lê muito (principalmente história) e continua sua militância política no PPS, um dos herdeiros do
velho Partidão.
Sua biografia foi escrita por Ivan
Alves Filho e deve ser lançada até
o final do ano, com o título de
"Conto de Fadas".
(MB)
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