São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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Oasis traz perenidade ao pop

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Qualquer representante da facção pró-Oasis pode ficar horas dizendo que o quinteto faz o melhor rock'n'roll do planeta, as baladas mais bonitas, os refrãos mais grudentos e coisas do tipo, enquanto os detratores vão bater na tecla: é cópia descarada dos Beatles, não traz novidade, e por aí vai... O ponto nevrálgico é: parece Beatles? Parece, e muito. Agora, existe algo interessante surgido nos últimos 30 anos no formato guitarra-baixo-bateria (o único genuinamente rock, não adianta a turma do teclado insistir) que não seja parecido com Beatles? A limitação dessa formação musical é evidente. Os Beatles chegaram ao limite da sofisticação pop que esses instrumentos permitem. De lá para cá, a coisas novas vieram apenas no rap e na dance music, mas aqui o assunto é rock. Encurralado entre o devaneio do progressivo e a simplicidade paleolítica do heavy metal, o rock pós-Beatles só vislumbrou uma centelha de novidade no punk. Ali, o que importava era a atitude. A música servia de trilha sonora para a defesa de um outro tipo de relação entre roqueiros e público, roqueiros e gravadoras. O Oasis surge como o ápice do formato rock'n'roll. Mais do que uma mistura de Beatles com Sex Pistols, eles são uma projeção de como os Beatles seriam se tivessem aparecido depois do punk. Noel escreve e Liam canta músicas que ficam cravadas instantaneamente na cabeça dos ouvintes, mas são canções perenes. "Hey Jude" gruda no ouvido, mas isso também acontecia com "Ursinho Blau-Blau". A diferença é que a primeira o público ainda escuta hoje e vai ouvir daqui a 20 anos. Assim é o som do Oasis. Pérolas pop que vão resistir ao tempo. E o que importa é a música. As atitudes do quinteto fora do palco é problema de quem liga para isso. Dizer que o grupo não tem a rebeldia legítima que o rock tinha há 30 anos é saudosismo tolo. Se os jovens de antigamente tinham a rebeldia estéril dos ídolos, os atuais riem do deboche calculado do Oasis. É difícil saber o que é mais anacrônico: a atitude cínica dos irmãos Gallagher ou os críticos de música que ainda se preocupam com isso.


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