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'Faço alta-costura da cozinha', diz Ducasse
MARIANE COMPARATO
de Paris
Com as três estrelas que o restaurante Louis 15, de Mônaco, recebeu do célebre "Guia Michelin", o
francês Alain Ducasse se tornou o
primeiro "chef seis estrelas", com
dois de seus restaurantes com a
premiação máxima.
Em entrevista à Folha no seu
restaurante de Paris, Ducasse disse
que "esperava ganhar as três estrelas esse ano". "Trabalhamos para
isso. É uma recompensa para o
Louis 15, que nunca mereceu perder as três estrelas que tinha no
ano passado", completou ele.
O restaurante que leva seu nome, em Paris, manteve as três estrelas que já havia adquirido no
ano passado. .
Ducasse instalou seu restaurante
parisiense onde ficava o restaurante do chef Joel Robuchon. No
fundo da pâtisserie (doceria), uma
discreta porta dá num escritório
digno de um executivo.
É lá que fica Ducasse, usando o
computador, escrevendo ou falando ao telefone. A única diferença
são os livros de receitas nas estantes e a roupa de cozinheiro no lugar do terno e da gravata. Leia a
seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
Folha - No artigo que escreveu
para o jornal "Le Monde", no final
do ano passado, você disse que
reinterpreta a cozinha clássica.
Alain Ducasse - Penso que, hoje, temos de tornar contemporânea uma cozinha sobre as bases
clássicas existentes. Defino a minha em duas palavras: tradição e
evolução. Continuamos a construir a partir de bases que conhecemos e evoluímos em permanência,
estabelecemos outras correntes.
A cozinha que faremos em 2002
será diferente da cozinha de hoje
em dia. Os pratos são mais legíveis,
essenciais, os gostos são mais precisos. Aqui é um pouco a alta-costura da cozinha francesa.
Folha - O que cada um dos mestres com quem aprendeu trouxe
ao seu estilo?
Ducasse - Alain Chapel foi a excelência na escolha dos produtos e
nas técnicas aplicadas, com extremo respeito aos produtos. Michel
Guérard foi a inovação, a evolução, a criação e a modernidade; e
Roger Verger, o profissionalismo,
o rigor. Na formação do cozinheiro, é preciso haver várias correntes
de inspiração para que, em seguida, tenhamos riqueza e memória
cultural o bastante para poder assinar uma cozinha pessoal.
Folha - Você já disse que a cozinha nunca funciona tão bem como
quando o chef está ausente...
Ducasse - Sim, porque acho
que há uma tal motivação por parte das minhas equipes que elas
realmente não querem ter problemas quando não estou por lá, estou convencido disso. Quando estou presente, os cozinheiros pensam que, se há algum problema, eu
é que acabo sendo o responsável,
enquanto que, se não estou, é sobre eles que recai a culpa.
Folha - Você foi reconhecido
muito jovem, sendo agraciado
com duas estrelas no "Michelin"
aos 28 anos e três estrelas aos 33
anos. Podemos comparar seu percurso com o de Jacques Maximin?
Ducasse - Sim, Jacques fez um
bom percurso: há vinte anos, deu
um verdadeiro impulso na cozinha mediterrânea aplicada a um
restaurante de hotel, na época em
que trabalhava para o hotel Negresco, em Nice.
É verdade que fui eu quem retomou um pouco isso dez anos depois no Louis 15 (inaugurado em
87). Usei o rigor e o profissionalismo francês e apliquei a odores, cores, sabores dos produtos mediterrâneos.
Folha - Agora que tem as seis estrelas, qual será o próximo passo?
Ducasse - Vamos nos ocupar de
nossa pousada em Moustiers-Sainte-Marie (no sul da França), e tenho a intenção de abrir
uma próxima pousada em junho
de 99, também no sul do país, numa antiga abadia do século 16.
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