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Lepage quer fusão entre cinema e teatro
LEONARDO CRUZ
da Redação
Em 1989, passando por uma crise em um relacionamento amoroso, o ator e diretor teatral Robert
Lepage começou a criar um espetáculo solo, em que tentava demonstrar sua angústia em relação
à perda afetiva. Era o surgimento
de "Needles and Opium", em que
Lepage mesclava momentos de
sua história pessoal com a de dois
mitos da arte neste século: Jean
Cocteau e Miles Davis.
No palco, ele interpretava tanto
o escritor e cineasta francês quanto o trompetista norte-americano
e ainda contava seus próprios problemas, dialogando com cenas de
filmes, slides e outras imagens
projetadas em uma grande tela.
Nesta noite, o teatro Guairinha,
em Curitiba, assiste à primeira
apresentação de um espetáculo de
Robert Lepage na América do Sul.
Além de trabalhar com teatro como ator e diretor, esse canadense
de Québec também é cineasta.
Envolvido com duas montagens
teatrais e finalizando um novo filme, Lepage não veio ao Brasil. Em
seu lugar, interpretando os três
personagens (Cocteau, Davis e o
próprio Lepage) de "Needles and
Opium" está o ator Nestor Saied.
Leia abaixo trechos da entrevista
que Lepage concedeu à Folha por
telefone, de Québec, no Canadá.
Folha - Quais as relações existentes entre Jean Cocteau e Miles Davis que o motivaram a montar
"Needles and Opium"?
Robert Lepage - Em algum momento da vida, os dois tomaram
algum tipo de droga para superar
uma desilusão amorosa. Cocteau
foi dependente de ópio e Miles Davis era viciado em heroína. Isso explica o título do espetáculo: "Needles and Opium" (em português,
"Agulhas e Ópio").
Folha - E qual a importância do
personagem Robert Lepage para o
espetáculo?
Lepage - Falar sobre mim foi
uma forma de criar um elo com o
público. Miles Davis e Jean Cocteau são mitos, figuras grandiosas
que, apesar de fascinantes, geram
certo distanciamento da platéia.
Quando narradas, as experiências
pessoais de Robert Lepage, um homem comum, cativam o público.
Folha - Como foi a escolha de
Nestor Saied para interpretar
"Needles and Opium" depois que
você parou de fazer o espetáculo?
Lepage - Nunca tinha pensado
em permitir que outra pessoa fizesse algum de meus espetáculos
solo, mas, quando encontrei Saied
em Viena, em 96, fiquei muito surpreso com sua semelhança com o
jovem Cocteau.
Folha - Os textos de suas montagens surgem durante os ensaios.
Como é o processo de criação?
Lepage - Tenho uma idéia original, que desenvolvo durante os
ensaios. Depois de um certo tempo, chamo algumas pessoas para
um ensaio aberto. Baseado na reação desse público, altero aquilo
que considero necessário e continuo elaborando o projeto. Depois
de quase dez anos com "Needles
and Opium", ainda faço mudanças quando vejo a montagem.
Folha - Quais são os principais recursos tecnológicos que você usa
em seus espetáculos?
Lepage - Gosto muito das técnicas de multimídia e as utilizo,
mas isso não quer dizer que faço
um show de alta tecnologia. Em
"Needles and Opium" reproduzo
imagens em uma tela e uso muita
música. É uma tecnologia básica.
Folha - Até que ponto a utilização de toda essa tecnologia interfere no texto teatral?
Lepage - O texto no teatro passa por um processo de mudança. A
principal causa disso é a tentativa
de integração entre as diferentes
culturas do planeta, em que as pessoas tentam ampliar ao máximo
suas possibilidades de comunicação, utilizando novos recursos. E o
texto vem se integrando a isso.
Folha - Como diretor de teatro e
cinema, como você vê a relação
entre essas duas formas de arte?
Lepage - Penso que estão mais
próximas. O público de teatro quer
peças com narrativa cinematográfica. Por outro lado, as pessoas
procuram filmes que sejam interativos, quase tridimensionais.
Folha - É possível uma fusão entre as duas coisas?
Lepage - Sem dúvida. Essa será
a nova forma de arte para o século
21. É esse tipo de arte que eu procuro. E é por isso que estou tão interessado em multimídia. Creio
que a multimídia é a ferramenta
ideal para que essa fusão ocorra.
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