São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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A NOITE DOS MASCARADOS

Saulo Vasconcelos retoma papel que fez no México

Desgaste é "sobre-humano", diz o Fantasma brasileiro

DA REPORTAGEM LOCAL

O intérprete brasiliense Saulo Vasconcelos, 31, defende a tese do lugar certo na hora certa. Foi fazer uma audição para "Rent", em 1999, em São Paulo, e semanas depois estava na Cidade do México, onde conquistou o papel-título de "O Fantasma da Ópera". Seis anos depois, ele volta ao mesmo personagem, "mais maduro", para apresentá-lo aos brasileiros.
No apartamento, na Bela Vista, lê-se uma mensagem à porta da geladeira: "A moderação é o tesouro do sábio", do francês Voltaire (1694-1778), que o tenor diz que busca tomar como norte artístico e pessoal.

 

Folha - Como foi parar no México?
Saulo Vasconcelos -
Estava fazendo audição para "Rent", em 1999. Éramos 75 entre os finalistas. Um dos diretores que veio selecionar era mexicano, ia montar o "Fantasma" e gostou de mim. Pediu mais dez minutinhos e fez o convite. Disse que eu era um cara altão, bonitão, vozeirão. Pensei que era brincadeira de mau gosto. Imagine, eu, como o Fantasma no México? Nunca imaginei. Na semana seguinte, fui para a Bélgica, passei dez dias lá, fazendo mais testes. Até que eles disseram que eu tinha condições de fazer o papel, mas precisava treinar, controlar mais a voz. Fiz uma outra audição para uma banca enorme e finalmente passei como substituto da montagem que estrearia na Cidade do México. Aí, o mexicano titular deu mole, chegou atrasado em alguns dias, porque estava na academia. Entrei no lugar dele.

Folha - E o aperfeiçoamento nesses seis anos?
Vasconcelos -
Acho que tenho ido pelo caminho certo. Quando você começa uma carreira como essa, canta sete vezes por semana. É muito sobre-humano. Poucas pessoas usam a voz de forma tão agressiva como os atores de musicais. E ainda mais nos papéis que fiz, que foram todos fortes. O da Fera, por exemplo, com o qual cantava apenas uma canção, era muito difícil porque tinha uma roupa pesada, respirava alto demais, afetava a garganta, sujava as cordas vocais. Fui descobrindo meus limites. Evito álcool quando estou trabalhando. Se cheguei a um determinado nível é por talento, obviamente, mas é por disciplina também.

Folha - O assédio é maior?
Vasconcelos -
Tudo faz diferença, até mesmo o cartaz que pregaram no prédio em frente ao teatro. As pessoas passam pela rua, chama muita à atenção. Houve até problema de trânsito ali. Mas sou completamente pé no chão em relação a isso. Óbvio que uso isso a meu favor, para me sentir bem, faz bem para o ego, mas sei que não me acrescenta nada como ser humano ter uma foto gigante ou saber que as pessoas vão me assediar mais.

Folha - Preocupa o estigma do vilão?
Vasconcelos -
O ator tem uma certa forma, uma carreira traçada, um tipo físico. Não adiante ser como eu, de 1,88 m, querer fazer o papel do franzininho, romantiquinho, galanzinho. Tenho o estereótipo do vilão, mas obviamente cabe aos produtores e diretores verem que possuo versatilidade para fazer outras coisas. Lá no México, por exemplo, quase participei de um musical com quatro atores, feito comédia de costumes, falando superagudo.

Folha - Vê diferença entre os públicos brasileiro e mexicano?
Vasconcelos -
Os brasileiros vão me odiar, mas o público mexicano é mais sincero. O brasileiro a tudo aplaude, acha lindo. Lá, eles só se levantam se for extraordinário. Quando fazia uma apresentação horrível, a palma era meia boca. Ficava óbvio que nem eu e nem o público gostávamos. Aqui, quando acho que foi uma porcaria, o povo até bate mais palma.


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