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A NOITE DOS MASCARADOS
Saulo Vasconcelos retoma papel que fez no México
Desgaste é "sobre-humano", diz o Fantasma brasileiro
DA REPORTAGEM LOCAL
O intérprete brasiliense Saulo
Vasconcelos, 31, defende a tese do
lugar certo na hora certa. Foi fazer
uma audição para "Rent", em
1999, em São Paulo, e semanas depois estava na Cidade do México,
onde conquistou o papel-título de
"O Fantasma da Ópera". Seis anos
depois, ele volta ao mesmo personagem, "mais maduro", para
apresentá-lo aos brasileiros.
No apartamento, na Bela Vista,
lê-se uma mensagem à porta da
geladeira: "A moderação é o tesouro do sábio", do francês Voltaire (1694-1778), que o tenor diz
que busca tomar como norte artístico e pessoal.
Folha - Como foi parar no México?
Saulo Vasconcelos - Estava fazendo audição para "Rent", em
1999. Éramos 75 entre os finalistas. Um dos diretores que veio selecionar era mexicano, ia montar
o "Fantasma" e gostou de mim.
Pediu mais dez minutinhos e fez o
convite. Disse que eu era um cara
altão, bonitão, vozeirão. Pensei
que era brincadeira de mau gosto.
Imagine, eu, como o Fantasma no
México? Nunca imaginei. Na semana seguinte, fui para a Bélgica,
passei dez dias lá, fazendo mais
testes. Até que eles disseram que
eu tinha condições de fazer o papel, mas precisava treinar, controlar mais a voz. Fiz uma outra audição para uma banca enorme e finalmente passei como substituto
da montagem que estrearia na Cidade do México. Aí, o mexicano
titular deu mole, chegou atrasado
em alguns dias, porque estava na
academia. Entrei no lugar dele.
Folha - E o aperfeiçoamento nesses seis anos?
Vasconcelos - Acho que tenho
ido pelo caminho certo. Quando
você começa uma carreira como
essa, canta sete vezes por semana.
É muito sobre-humano. Poucas
pessoas usam a voz de forma tão
agressiva como os atores de musicais. E ainda mais nos papéis que
fiz, que foram todos fortes. O da
Fera, por exemplo, com o qual
cantava apenas uma canção, era
muito difícil porque tinha uma
roupa pesada, respirava alto demais, afetava a garganta, sujava as
cordas vocais. Fui descobrindo
meus limites. Evito álcool quando
estou trabalhando. Se cheguei a
um determinado nível é por talento, obviamente, mas é por disciplina também.
Folha - O assédio é maior?
Vasconcelos - Tudo faz diferença, até mesmo o cartaz que pregaram no prédio em frente ao teatro. As pessoas passam pela rua,
chama muita à atenção. Houve
até problema de trânsito ali. Mas
sou completamente pé no chão
em relação a isso. Óbvio que uso
isso a meu favor, para me sentir
bem, faz bem para o ego, mas sei
que não me acrescenta nada como ser humano ter uma foto gigante ou saber que as pessoas vão
me assediar mais.
Folha - Preocupa o estigma do vilão?
Vasconcelos - O ator tem uma
certa forma, uma carreira traçada,
um tipo físico. Não adiante ser como eu, de 1,88 m, querer fazer o
papel do franzininho, romantiquinho, galanzinho. Tenho o estereótipo do vilão, mas obviamente
cabe aos produtores e diretores
verem que possuo versatilidade
para fazer outras coisas. Lá no
México, por exemplo, quase participei de um musical com quatro
atores, feito comédia de costumes, falando superagudo.
Folha - Vê diferença entre os públicos brasileiro e mexicano?
Vasconcelos - Os brasileiros vão
me odiar, mas o público mexicano é mais sincero. O brasileiro a
tudo aplaude, acha lindo. Lá, eles
só se levantam se for extraordinário. Quando fazia uma apresentação horrível, a palma era meia boca. Ficava óbvio que nem eu e
nem o público gostávamos. Aqui,
quando acho que foi uma porcaria, o povo até bate mais palma.
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