São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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ARTIGO
Evento reflete crise no mercado

LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas

Há crise no cinema e Cannes dá prova disso. Os produtores representados no festival por países como o Canadá e a Espanha, além dos escandinavos, atribuem a queda na frequência de distribuidores/compradores de filmes às crises da Ásia e da América Latina.
Para o Brasil, em particular, a fase da "festa do caqui" parece ter acabado. Grandes produtores europeus, como UGC, Gaumont, Goldwin e Canal Plus ressentem a retração dos distribuidores brasileiros, que há dois anos se digladiavam em leilões de filmes a preços exorbitantes.
A direção do mercado rebate a crise com estatísticas, provando que cresce a cada ano o número de expositores. A pesquisa só não revela que se tornou quase uma obrigação às representações oficiais de cada país ter estandes no mercado do festival de Cannes para promover o seu cinema.
O declínio do mercado de vídeo no Brasil arrastou consigo a esperança de ver rapidamente alguns bons filmes que anualmente batem ponto em Cannes.
"Kundum", de Martin Scorsese, foi anunciado no ano passado, com estardalhaço, como uma das melhores produções em marcha.
"Tempestade de Gelo", de Ang Lee, estava na competição e parecia uma barbada para a corrida do Oscar. Ambos foram devolvidos aos seus produtores pelos distribuidores brasileiros.
Sente-se a crise também na saúde das publicações diárias de cinema durante o evento. A "Screen International" e a "Moving Pictures", ambas sediadas em Londres, abriam o festival com edições especiais, com mais de cem páginas forradas de anúncios de filmes novos.
Este ano, as duas apareceram no primeiro dia do festival com magras e alarmantes 20 páginas cada uma.
Outro termômetro importante em Cannes é a superlotação da rede hoteleira. Este ano está sobrando lugar na maioria dos hotéis.
Diante desse panorama, que mordeu no calcanhar o próprio presidente do júri de Cannes, Scorsese, imagina-se o que irá pesar na hora da escolha do melhor filme da competição.
A "Variety", outra publicação de espetáculos que migra para Cannes no período do festival e habitualmente destrói esperanças de mercado para tudo o que não for produto de Hollywood, repete a cada ano os "box office" de todos os títulos já premiados com a Palma de Ouro.
A grande maioria acumula resultados minguados. "A Enguia", de Shohei Imamura, e "Gosto de Cereja", de Abbas Kiarostami, arrecadaram pouco mais de US$ 2 milhões cada na distribuição internacional.
A tese americana alimentada pela "Variety" é que filme premiado com Palma de Ouro tem carreira restrita nos cinemas. É evidente que a revista é manipuladora de opinião e se presta a reforçar a teoria de que filme bom de renda é filme premiado com o Oscar.
Martin Scorsese tem um bom abacaxi para descascar. O festival provoca rumores de que o ano é de Tsai Ming-Liang, diretor da Malásia que faz cinema em Taiwan.
Seu "Vive l' Amour" foi Leão de Ouro em Veneza. O seguinte, "O Rio", ficou com Urso de Prata em Berlim de 97. Em Cannes, a programação reservou sessões no final de semana para o seu novo e demolidor "O Buraco".



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