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ARTIGO
Evento reflete crise no mercado
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
Há crise no cinema e Cannes dá
prova disso. Os produtores representados no festival por países como o Canadá e a Espanha, além
dos escandinavos, atribuem a
queda na frequência de distribuidores/compradores de filmes às
crises da Ásia e da América Latina.
Para o Brasil, em particular, a fase da "festa do caqui" parece ter
acabado. Grandes produtores europeus, como UGC, Gaumont,
Goldwin e Canal Plus ressentem a
retração dos distribuidores brasileiros, que há dois anos se digladiavam em leilões de filmes a preços exorbitantes.
A direção do mercado rebate a
crise com estatísticas, provando
que cresce a cada ano o número de
expositores. A pesquisa só não revela que se tornou quase uma
obrigação às representações oficiais de cada país ter estandes no
mercado do festival de Cannes para promover o seu cinema.
O declínio do mercado de vídeo
no Brasil arrastou consigo a esperança de ver rapidamente alguns
bons filmes que anualmente batem ponto em Cannes.
"Kundum", de Martin Scorsese, foi anunciado no ano passado,
com estardalhaço, como uma das
melhores produções em marcha.
"Tempestade de Gelo", de Ang
Lee, estava na competição e parecia uma barbada para a corrida do
Oscar. Ambos foram devolvidos
aos seus produtores pelos distribuidores brasileiros.
Sente-se a crise também na saúde das publicações diárias de cinema durante o evento. A "Screen
International" e a "Moving Pictures", ambas sediadas em Londres, abriam o festival com edições especiais, com mais de cem
páginas forradas de anúncios de
filmes novos.
Este ano, as duas apareceram no
primeiro dia do festival com magras e alarmantes 20 páginas cada
uma.
Outro termômetro importante
em Cannes é a superlotação da rede hoteleira. Este ano está sobrando lugar na maioria dos hotéis.
Diante desse panorama, que
mordeu no calcanhar o próprio
presidente do júri de Cannes,
Scorsese, imagina-se o que irá pesar na hora da escolha do melhor
filme da competição.
A "Variety", outra publicação
de espetáculos que migra para
Cannes no período do festival e
habitualmente destrói esperanças
de mercado para tudo o que não
for produto de Hollywood, repete
a cada ano os "box office" de todos os títulos já premiados com a
Palma de Ouro.
A grande maioria acumula resultados minguados. "A Enguia", de Shohei Imamura, e
"Gosto de Cereja", de Abbas Kiarostami, arrecadaram pouco mais
de US$ 2 milhões cada na distribuição internacional.
A tese americana alimentada pela "Variety" é que filme premiado com Palma de Ouro tem carreira restrita nos cinemas. É evidente
que a revista é manipuladora de
opinião e se presta a reforçar a teoria de que filme bom de renda é
filme premiado com o Oscar.
Martin Scorsese tem um bom
abacaxi para descascar. O festival
provoca rumores de que o ano é de
Tsai Ming-Liang, diretor da Malásia que faz cinema em Taiwan.
Seu "Vive l' Amour" foi Leão
de Ouro em Veneza. O seguinte,
"O Rio", ficou com Urso de Prata
em Berlim de 97. Em Cannes, a
programação reservou sessões no
final de semana para o seu novo e
demolidor "O Buraco".
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