São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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CINEMA - VERÃO AMERICANO
Quem vai enfrentar Godzilla?

AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes

Nem a fortaleza Cannes, capital do cinema de autor, resiste a Hollywood. A temporada de verão dos "blockbusters" americanos de verão invade a Riviera francesa.
Bruce Willis bagunçou a cidade nos dois últimos dias com a divulgação de "Armageddon". "Godzilla" estréia hoje nos EUA e encerra o festival no domingo.
A onda chega ao Brasil já nesta sexta com a estréia de "Impacto Profundo", de Mimi Leder, que abriu há 15 dias a safra de férias nos EUA. A superprodução da Dreamworks (leia-se Spielberg) já se pagou, tendo arrecadado até o último domingo cerca de US$ 73 milhões. Liderou as bilheterias nessas duas últimas semanas, prenunciando um verão bom em negócios. Em filmes, bem, as maiores produções não parecem exatamente animadoras.
"Impacto Profundo" carrega no melodrama enquanto o presidente Morgan Freeman tenta salvar o planeta da colisão com um cometa gigantesco. O roteiro é o ponto fraco, abusando de soluções inverossímeis. Ainda assim, funcionou.
Não surpreende, assim, que a Hollywood pós-"Titanic" indague-se sobre as novas preferências dos espectadores. Sem outro veículo para Leonardo DiCaprio imediatamente à vista, a questão é se a face espetacular vai continuar impondo-se sobre o apelo dramático.
"Impacto Profundo" puxou a fila, mas a maior aposta do cinema de efeitos especiais é "Godzilla", de Roland Emmerich. "Tamanho importa sim", troveja a colossal campanha, que distribui 8.000 outdoors gigantes pelo país afora.
O recorde de "Titanic" não está em jogo. As apostas giram em torno de outro título: o de maior arrecadação no final de semana de estréia. O atual campeão é "O Mundo Perdido - Jurassic Park", de Spielberg, que em maio do ano passado contou a bagatela de US$ 90,2 milhões.
Mas "Godzilla" pode ter o mesmo destino de "Batman e Robin" e "Velocidade Máxima 2", sucessos de prancheta que fracassaram. O mesmo vale para "Armageddon", no qual a "Variety", apostava suas fichas, ao menos até a decepcionante prévia em Cannes (leia texto abaixo).
Em outra escala, mas também apostando em tiros e explosões, a safra inclui ainda "Máquina Mortífera 4", com Mel Gibson e Danny Glover sendo acompanhados agora por Chris Rock (o DJ hilário de "O Quinto Elemento"), "Snake Eyes" (Olhos de Cobra), de Brian De Palma, e Antonio Banderas enfrentando Anthony Hopkins em "The Mask of Zorro" (A Máscara de Zorro).
"Thrillers" também podem ser "cool". Os dois mais fortes candidatos deste ano nasceram como cultuadas séries de TV -com três décadas de diferença. "The Avengers" (Os Vingadores) traz Ralph Fiennes e Uma Thurman como os charmosos agentes britânicos que enfrentam, quem diria, o vilão Sean Connery.
"The X-Files" aposta no time que deu certo: David Duchovny e Gilliam Anderson mantêm-se nos papéis dos agentes do FBI que investigam eventos extraordinários, e o criador da série, Chris Carter, assina o roteiro.
Mas nem tudo é ligeiro neste verão hollywoodiano. Anuncia-se para este meio de ano uma rara safra de filmes dramáticos que pode adiantar a briga pelo Oscar.
O mais original promete ser "The Truman Show", de Peter Weir, em que um contido Jim Carrey interpreta um homem que descobre ter vivido desde o berço sob as câmeras de uma ininterrupta telenovela-verdade.
Steven Spielberg volta ao cinema dito "sério" com "Saving Private Ryan" (Salvando o Recruta Ryan), um drama passado durante a Segunda Guerra com Tom Hanks e Matt Damon nos papéis centrais.
Por sua vez, "O Encantador de Cavalos" ("The Horse Whisperer") é o "As Pontes de Madison" do ano, com Robert Redford como o veterano galã e Kristin Scott Thomas como sua balzaquiana conquista. Deu-se bem na estréia da última sexta, arrecadando US$ 14 milhões e conquistando o segundo posto.
Há ainda quem filme perigosamente. Warren Beatty dirige e interpreta "Bulworth", em que faz um senador politicamente incorreto que só fala verdades. O zumbido recomenda, mas o trailer é constrangedor.
Você acreditaria em cenas de amor de Harrison Ford com Anne Heche, a namorada de Ellen DeGeneres? "Six Days, Seven Nights" (Seis Dias, Sete Noites), de Ivan Reitman, faz o teste.
O mundinho disco ressuscita em dois projetos polares. "The Last Days of Disco", de Whit Stillman ("Barcelona"), romantiza a primeira era Travolta, enquanto "54" traz Mike Myers ("Austin Powers") como o último rei das discotecas, Steve Rubell, do Studio 54 de Nova York.
Por fim, três filmes devem disputar a preferência das crianças. O desenho Disney da estação é "Mulan", em que uma jovem oriental disfarça-se de rapaz para salvar a vida do pai.
Mas a Warner saiu na frente com "Quest for Camelot", outra variação das aventuras na corte do rei Arthur. Foi a terceira bilheteria do último fim-de-semana.
Já Eddie Murphy aposta no filão infantil conversando com animais em "Doctor Dolittle".



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