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LIVRO LANÇAMENTOS
"Bogart' é romance policial que privilegia a forma
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática
Uma lésbica
que penteia cachorros, um dono de sebo que é
ladrão, um herdeiro de trono
de um país inexistente e uma
turma de espiões desempregados.
Essa é a fauna que circula por um
texto que cruza mistério com humor nonsense para construir uma
trama complicada -até chata-,
mas que provoca curiosidade e
atrai a atenção do leitor.
Trata-se de "O Ladrão Que
Achava Que Era Bogart", cometido pelo prolífico Lawrence Block,
autor de mais de 40 obras no terreno do romance policial, que lhe
valeram prêmios como o Edgar e o
Maltese Falcon.
O ladrão do título é Bernard Grimes Rhodenbarr, que também é
dono de uma loja de livros usados,
onde o gato Raffles exercita sua
preguiça e onde chegam clientes
que não estão apenas atrás de primeiras edições.
Ele prefere roubar coisas boas
que cabem em pequenas embalagens. Jóias, objetos de arte, selos,
quadros -já roubou um casaco
de pele, mas pede a Deus que não
tenha de repetir a dose.
Ele também é o responsável pelo
relato de suas aventuras. Essa técnica narrativa, em que o contador
da história participa da trama, é
bastante usada no romance policial. O doutor Watson conta as
aventuras de Sherlock Holmes,
Archie Goodwin relata as peripécias e idiossincrasias de Nero Wolfe e assim por diante.
O fato de o texto ser tocado na
primeira pessoa, porém, tira um
dos elementos do mistério, do suspense. Afinal, você já sabe, de antemão, que o contador da história
sobreviveu para contá-la e, presumivelmente, saiu-se bem.
Em compensação, o narrador
"Eu" ganha liberdades literárias
que não estão disponíveis em histórias relatadas por alguém ou
contadas por um oculto, mas onipresente, autor. "Eu" posso dizer, por exemplo, como me sinto,
o que estou pensando quando tal
fato se desenrola, criando cenas
paralelas à trama principal.
Esse é o recurso principal do
qual Block lança mão, é a maior
força desse livro. A urdidura do
crime, o mistério e sua revelação
-os elementos básicos do romance policial comum- são menos importantes do que o peculiar
jeito de contar a história. O conteúdo cede terreno à forma.
Assim, o texto flui e vai envolvendo o leitor não porque existam
cenas dramáticas, empolgantes,
violentas, mas porque o ladrão-livreiro cativa com o relato escorreito de seu dia-a-dia.
As primeiras cenas do livro, por
exemplo, incluem a conversa de
Rhodenbarr com um motorista de
táxi. Ao longo de quase duas páginas, você acompanha um diálogo
sobre perna bichada e médicos
que não tem coisa nenhuma a ver
com a história do ladrão que achava que era Bogart.
Depois, o leitor é apresentado
propriamente ao narrador. Ele
conta os macetes de sua profissão
e se encaminha para o roubo da
noite, o início de uma série de
acontecimentos que poderíamos
chamar de espinha dorsal do livro.
Antes de executar o roubo, porém, um rápido flashback conta
como Rhodenbarr conheceu o
cliente que contratou o roubo,
aonde o ladrão vai agora e o que
vai tentar carregar. A partir daí, a
história segue mais ou menos em
ordem cronológica.
Há duas mortes, e pistas que
Rhodenbarr, agora também travestido de detetive, têm de aproveitar para livrar a própria cara e
continuar em liberdade.
A trama, em si, é meio chata,
cheia de personagens que não chegam a ser importantes e podem
deixar o leitor perdido. O que vale
é o humor, a paródia, fazendo
com que o livro cumpra a função
básica dos romances policiais: ajudar a fazer o tempo passar.
Livro: O Ladrão Que Achava Que Era
Bogart
Autor: Lawrence Block
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 23 (310 págs.)
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