São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2001

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ERIKA PALOMINO

YES, O RIO TAMBÉM TEM SUA MODA

Aconteceu no Rio de Janeiro de domingo a quarta-feira a oitava edição da Semana BarraShopping de Estilo, que reuniu 30 desfiles em tendas armadas no estacionamento do shopping que batiza e patrocina o evento.
Foi a mais consistente versão da temporada carioca de desfiles, apresentando evoluções dentro de um estilo carioca de fazer moda. Se a montagem ainda apresentava alguns problemas, como atrasos em efeito dominó (como em São Paulo) que chegavam a três horas no final do dia e oscilações de luz na passarela que enlouqueciam os fotógrafos, esta edição indicou passos mais consistentes em relação a um estilo carioca de vestir.
Em termos de público, a audiência não parece composta de profissionais de moda ou fashionistas em sua maioria, mas o caráter de "programa" caracterizado pelo evento junto aos cariocas serve para difundir um gosto pela moda até então pouco expressivo.
Ainda, como característica desta oitava edição, a ação do juiz Siro Darlan junto às modelos menores de idade que não estudam (!!) resultou numa caçada que mobilizou o evento nos dois primeiros dias, perturbando estilistas e bookers nos camarins.
A idéia era evitar que adolescentes sejam explorados pelos pais na passarela e, de tão absurda, chega a ser risível, especialmente porque no Brasil é só sair de casa de carro para dar de cara com menores de idade sendo explorados em cruzamentos de trânsito e sabe-se lá mais onde.
Num mercado controlado como o brasileiro, certamente não é na moda que eles são explorados, e a medida deixou de fora do evento duas das atuais estrelas da moda brasileira e internacional: a sensacional Jeísa Chiminazzo e a elegante Raica, ambas com 17 anos, que pararam de estudar, mas enfeitam passarelas de Dior a Chanel. Por fim, a "preocupação" do juiz tomou conta da mídia em relação ao evento e motivou um protesto dos produtores, que, no último dia, usaram uma camiseta em que se lia a frase "vamos falar de moda".
A indústria de moda do Rio precisa de um apoio sério e de um envolvimento de todos os setores da sociedade para prosperar. O Brasil também precisa disso. Os melhores desfiles da temporada carioca foram British Colony, Carlos Tufvesson, Maria Bonita Extra, Sta. Ephigenia, Amazon Life, Salinas, Andrea Saletto e Coopa-Roca.

COLLIN MCDOWELL FAZ BALANÇO
O jornalista inglês Collin McDowell também esteve no Rio, onde assistiu a alguns desfiles. Ele disse que adora o Brasil, mas faz críticas pesadas aos atrasos: "Isso parece ineficiência". Acha também que Rio de Janeiro e São Paulo devem se unir, e não brigar pelo posto de capital da moda no Brasil. Em relação à temporada brasileira como um todo, ele avalia: "As pessoas são ótimas, e os shows são como nas outras capitais, alguns bons, outros nem tão bons assim, e a grande diferença é a ineficiência. Não vale a pena vir até que eles se organizem".

MODELO REVELAÇÃO NO RIO
A temporada de moda do Rio serviu para revelar o modelo João Vellutini, 17, um dos rostos mais incríveis da estação. João é um típico garoto carioca. Estudante do colégio hype Santo Inácio (tradicional celeiro de belezas na cidade), João foi descoberto em Ipanema por um olheiro de uma agência internacional, que o recomendou a Serginho Mattos, o diretor da Mega/Rio. Ele participou da Casa de Criadores, onde fez Rodrigo Fraga e Giuliano e depois a Ellus. Mas foi somente aqui no Rio que brilhou nas passarelas de Foch, Totem e Complexo B. E olha que por pouco João não fica de fora do evento, já que por conta do babado do juizado ele não pôde desfilar no primeiro dia. João quer fazer vestibular para economia e só pretende trancar a faculdade se estiver trabalhando e ganhando muito dinheiro. João é garoto de praia mesmo e não tira as bermudas de surfista. Está perfeito para a moda carioca, então. No feminino, o Rio coroou a black model Fabrícia Santana com corpo perfeito, que foi conquistando e, no último desfile, de Frankie Amaury, foi aplaudida em todas as entradas. "Estou superfeliz com esse reconhecimento. Valeu a pena", disse a modelo.

DEVON DESFILA ATÉ COM PÉ TORCIDO
Que coisa! A modelo norte-americana Devon Aoki chegou para desfilar na Semana Barra- Shopping de Estilo com o pé torcido. Ela sofreu a contusão quando estava passeando com o cachorro de seu namorado, Lenny Kravitz (que tal?). "É um cachorro muito grande, eu estava de salto alto no passeio. O cachorro brigou com outro cão que passava por perto, me puxou e acabei caindo", conta. Depois de uma polêmica que durou o dia todo, se ela desfilaria ou não para a marca de biquínis Lenny, decidiu-se que ela teria condição de desfilar, mas descalça, e não com a sandália das outras modelos. Tiras de tule foram colocadas sobre a tornozeleira da modelo e ela entrou, meio puxandinho a perna na terceira entrada. No rosto impassível, ela nem deixou transparecer que estava sentido dor. "Mas doeu", ela me disse, depois, com o pé para cima. Devon é amiga e musa de Jeremy Scott e diva de Karl Lagerfeld. Começou a desfilar com 14 anos e hoje tem 18. Disse ser amiga das brasileiras Ana Claudia, Raica e Gisele. Filha de pai japonês e mãe americana, ela acha "injusta" a ausência de modelos japonesas nas passarelas.

MODA PRAIA É ASSUNTO SÉRIO
Salinas fez o melhor desfile de moda praia com sensacionais estampas trazidas do Museu de Arte Naif retratando a moda do Rio. Ao som de trilha original de Jorge Benjor em megadesfile superbadalado. A marca de moda praia de Lenny Niemeyer tem status de big label. Seu desfile, na maior sala do Barra- Shopping, foi o mais glamouroso em termos de público, com muitas celebrities e gente bacana. Depois, foram todos para o apartamento da estilista em seu prédio (o prédio é dela) na Lagoa. Lá, champanhe sem acabar e margarita eram os drinques dos fashionistas para combater o calor do inverno carioca.


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