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TEATRO
Eventos em São Paulo e no Rio apontam para valorização de novos autores; Folha abriga leitura de três peças curtas
Dramaturgia contemporânea ganha vez
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando escreveu "Eles Não
Usam Black-Tie" (1958), Gianfrancesco Guarnieri declarou que
o fez graças à sua participação no
Seminário de Dramaturgia do
teatro Arena, em São Paulo. Foi o
empurrão decisivo para o ofício.
Um pouco daquele espírito que
dominou a cena teatral nos anos
60, terreno propício para surgimento de novos autores, como
Augusto Boal e Oduvaldo Vianna
Filho, parece ter voltado à baila no
eixo Rio-São Paulo.
Em agosto, o teatro Carlos Gomes, no Rio, abre o projeto Nova
Dramaturgia Brasileira e destina
sala exclusiva para revelação ou
consolidação de autores.
Em setembro, o Espaço Ágora,
no bairro paulistano da Bela Vista, idealizado por Celso Frateschi
e Roberto Lage, abriga o Seminário Ágora Livre Dramaturgias,
com 12 autores convidados a criar
seus textos a partir de conceitos
como "escreva sobre sua aldeia e
falará do universo".
No primeiro semestre de 2002,
entra em cena o Festival de Dramaturgia Brasileira Contemporânea, idealizado pelo grupo Teatro
Promíscuo, leia-se os atores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas. Vinte e um autores foram
convidados a escrever peças curtas, com no máximo cinco personagens, a serem encenadas por
elenco fixo em vários Estados.
Uma prévia desse projeto acontece hoje no ciclo Leituras de Teatro promovido pela Folha, com
participação de peças de Luiz Cabral, Mário Bortolotto, Fernando
Bonassi e Victor Navas (leia texto
ao lado).
"Nos últimos 15 anos aconteceu
uma produção furiosa, caótica e
diversificada de textos encenados
como guerrilhas isoladas, em espaços mais do que alternativos,
sem qualquer condição de produção, com atores kamikazes", afirma Renato Borghi, 64.
"Chegamos a um ponto em que
a grande crise, e sempre haverá
crise no teatro, é a da dramaturgia. Precisamos configurar a demanda da nova geração de autores", afirma Roberto Alvim, 28,
que até anteontem havia recebido
111 textos para o projeto do teatro
Carlos Gomes (serão escolhidos e
montados 14).
Alvim diz que o desembarque
em palcos nacionais de autores
contemporâneos estrangeiros,
como o norte-americano Eric Bogosian, de "SubUrbia", o canadense Brad Fraser, de "Pobre Super-Homem", e o britânico Patrick Marber, de "Mais Perto", são
indícios da tendência, mas não refletem o contexto local.
"Até que enfim os caras estão
pensando nisso. É uma dramaturgia que existia havia um tempão,
mas vivia sufocada pela ditadura
dos diretores", afirma Mário Bortolotto, 38, do grupo Cemitério de
Automóveis ("Nossa Vida Não
Vale um Chevrolet").
Dionisio Neto, 29, autor de peças como "Antiga" e "Perpétua",
desenvolve sua teoria sobre o panorama atual: "A morte do Plínio
Marcos [em novembro de 1999],
que sustentava junto com Nelson
Rodrigues os pilares da dramaturgia no século 20, acabou com a
mitificação de que não existia outros dramaturgos com tanta importância", afirma. "Na verdade,
não existe um, mas muitos."
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