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Ensaísta aposta na autobiografia
ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Faça uma pose. Eu faço. Agora." É dessa forma, literalmente
exposto aos olhos do leitor, que o
professor de comunicação Denilson Lopes, 35, termina o ensaio
"Terceiro Manifesto Camp", publicado no livro "O Homem que
Amava Rapazes - E Outros Ensaios", lançado em junho pela Aeroplano Editora.
Não só nesse estudo, no qual fala do camp como elemento que
define a identidade homossexual
no século 20, o autor se mistura,
com suas experiências, aos pensamentos e teorias que desenvolve.
Todo o livro é um cruzamento
entre análises sobre cultura pop,
cinema, literatura e homossexualidade e depoimentos pessoais,
marcados por relatos do tipo: "Eu
criava amigos imaginários e me
masturbava vendo o Robin do desenho animado do Batman".
Narrador confessional travestido de ensaísta ou ensaísta que se
traveste de contador de casos pessoais? "Quero me manter na fronteira entre gêneros, ficar no
meio", diz Lopes, para quem o
crítico francês Roland Barthes é
uma das grandes referências na
adoção dessa linhagem ensaística.
"Pretendo ter uma comunicabilidade maior com o leitor. Narrando experiências pessoais é
mais fácil e interessante introduzir a reflexão acadêmica", explica.
O poeta e ensaísta Italo Moriconi,
que assina o prefácio do livro, foi
quem manteve o autor no trilho
da autobiografia. "Pensei em limpar alguns ensaios, mas o Italo me
convenceu do contrário."
Se "limpasse", o texto "E Eu Não
Sou um Travesti Também?", por
exemplo (no qual Lopes comenta
sobre o já citado desenho do Batman), apresentaria somente um
panorama sobre o travestismo incorporado à cultura pop dos anos
90, com observações acerca de romances como "Onde Andará
Dulce Veiga?", de Caio Fernando
Abreu, e "Stella Manhattan", de
Silviano Santiago (a quem Lopes
dedica o livro e a quem agradece o
trecho de um poema inédito do
cantor Cazuza, citado no ensaio
que dá título à obra).
Mas, como optou por se mostrar sem vergonha no livro, o autor escreve, nesse mesmo ensaio:
"Quero me desnudar e sempre
encontro a pose, a afetação, a escritura. A vida não me é suficiente
a não ser como teatro".
Nesse ir-e-vir teatralizado, as
análises do coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de
Brasília se misturam às experiências do homossexual que, como
diz, é "militante pela escrita".
Dessa forma, Lopes encontra
espaço para falar sobre a evolução
dos estudos gays no Brasil; sobre a
paixão entre Gustav Aschenbach
e Tadzio, personagens do filme
"Morte em Veneza", de Luchino
Visconti, como sendo uma experiência de voyeurismo apresentada como "um ato pedagógico, de
reeducação dos sentidos, rumo a
uma visão de mundo afetiva"; traça um panorama sobre a história
da homotextualidade na literatura brasileira, percorrendo de
Adolfo Caminha a Caio Fernando
Abreu (escritor que Lopes vem estudando nos últimos quatro
anos); e até ousa e surpreende o
leitor inserindo um conto, "Caderno T", entre suas análises.
"Esse livro é meu xodó. Estou
carregando ele no colo. É uma
obra corajosa", diz a pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda,
cujo ânimo em relação ao livro
deve ser relativizado pelo fato de
que ela é diretora da Aeroplano,
que editou a obra. Sobre essa coragem de marcá-lo mais como
ativista gay do que como ensaísta,
diz o autor de "O Homem que
Amava Rapazes": "Não tive escolha. É minha forma de mediação
com o mundo".
O HOMEM QUE AMAVA RAPAZES - E
OUTROS ENSAIOS. Autor: Denilson
Lopes. Editora: Aeroplano. Quanto: R$ 18
(270 págs.).
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