São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Diretores e curadores comentam manutenção do curador alemão para a 26ª Bienal de São Paulo, em 2004

Indicação de Hug instala controvérsia

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um clima de controvérsia com o anúncio, realizado na última terça-feira, do novo presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, em manter Alfons Hug como curador da próxima Bienal de São Paulo. Hug disse que "seria uma honra difícil de recusar".
A Folha ouviu curadores e diretores de museu sobre o assunto. A maioria afirmou não concordar com a escolha. "Não tenho nada contra Hug, mas agora que a instituição acalmou é o momento de recuperar o tempo perdido e, para tanto, é necessário um curador de fato mais ligado à produção contemporânea", diz Martin Grossman, ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP.
No geral, há um consenso de que Hug, apesar das polêmicas geradas na gestão de Carlos Bratke, conseguiu realizar uma Bienal. "Se não decepcionou, tampouco empolgou. Apesar do sucesso de público, nada se viu do avanço do pensamento artístico esperado na primeira grande mostra do milênio", afirma José Guedes, curador do Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, sede da mais nova bienal brasileira, programada para dezembro, tendo à frente o belga Jan Hoet.
As críticas não são unânimes. "Hug funcionou como bombeiro na Bienal. Agora ele pode fazer uma mostra de verdade, pois já conhece os importantes centros artísticos", afirma Nelson Aguilar, curador da Bienal do Mercosul. Tal opinião é compartilhada por Fernando Cocchiarale, diretor do Museu de Arte Moderna do Rio: "Hug organizou a Bienal em condições difíceis, não se pode avaliá-lo com tal precedente".
Entretanto as críticas não vão apenas contra o curador, mas também contra o modelo de escolha. "Os dirigentes só podem levar em conta números e cifras, não se pode exigir deles um fundamento intelectual em sua análise ou escolha do curador. Na Documenta, a mais importante mostra contemporânea, quem indica o diretor da mostra é um colégio de curadores internacionais, após entrevistas e análises de projetos", diz Adriano Pedrosa, curador do Museu da Pampulha, em Belo Horizonte.
Já Tadeu Chiarelli, ex-diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo, defende que a própria instituição deveria ser repensada. "O espaço físico da Bienal determina um tipo de exposição que não há curadoria que suporte. O evento deveria ser repensado por inteiro, não dá mais para repetir esse feirão", afirma.
Pedrosa acha ainda que São Paulo não deveria repetir curadores: "Nas mostras internacionais, isso só ocorreu com o Harald Szeeman, em Veneza, mas ele pode ser considerado o mais importante da atualidade". A decisão final deve ser anunciada nesta semana por Pires da Costa.



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