LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

A fábula do sujeito do interior que vence a selvageria da cidade grande com sua simplicidade ganha roteiro dos mais inspirados na comédia romântica "De Volta para o Presente", que estréia hoje.
História inspirada, sim, mas resultado cinematográfico irregular, não fosse a mão em alguns momentos esperta, mas muitas vezes pesada do novato diretor/ roteirista Hugh Wilson, de currículo inexpressivo até conseguir investimento hollywoodiano para este "De Volta para o Presente".
O filme é estrelado pelo celebrado Brendan Fraser ("A Múmia") e por Alicia "Lembra-se de Mim?" Silverstone ("Patricinhas de Beverly Hills"), água e vinho que o final do filme se encarregará de transformar em groselha.
Há ainda as participações seguras dos veteranos bacanas Christopher Walken e Sissy Spacek e do ator de seriado Dave Foley ("Newsradio", Sony).
"De Volta para o Futuro" abre com uma festa, em 1962, na residência do casal Webber, Calvin (Walken) e Helen (Spacek).
Calvin é um cientista excêntrico, esquisitão mesmo, anticomunista, que trabalha em uma empresa de tecnologia. A época, uma das mais delicadas da Guerra Fria.
No meio da festa, o presidente Kennedy aparece na TV e diz que várias cidades dos EUA naquele momento eram alvos de mísseis soviéticos instalados em Cuba.
Calvin, então, convida seus convidados a se retirarem, pega sua mulher, grávida, e a leva rapidamente a um elevador secreto, que descerá até um superequipado abrigo antinuclear, no qual a decoração de sua casa na superfície foi fielmente reproduzida e há até um supermercado e tanques onde peixes são criados.
A encanação de Calvin com "comunas" é compreensível, mas o sujeito dá um azar danado. Não vai acontecer ataque nuclear nenhum mas, enquanto Calvin desce com sua mulher ao abrigo, um avião em pane cai bem sobre sua casa, lançando uma bola de fogo em direção ao elevador.
Certo de que os mísseis nucleares soviéticos estão dizimando os EUA, Calvin aciona os mecanismos de trava do abrigo e anuncia à sua esposa que as portas só serão abertas automaticamente em... 35 anos, tempo suficiente para, na superfície, baixar a radiação provocada pelo "holocausto".
É aí que "De Volta para o Presente" começa. Adam, o "pequeno Brendan Fraser", vai nascer. E o casal tentará recriar nos subterrâneos, durante 35 anos, uma vida normal, como ir ao mercado ou regar plantas. Até chegar a hora de subir e ver a Terra arrasada.
O tempo passa e Adam é treinado por Calvin para falar várias línguas. Ele fica craque também em matemática e história. Calvin ensina ainda ao filho como deve ser o mundo lá em cima, depois da bomba. Enquanto isso, sua mãe lhe dá aulas de boas maneiras e lições diárias de dança.
À medida que vai ficando homenzinho, Calvin começa a desejar uma namorada "que não brilhe na escuridão", por causa da "radioatividade".
Travas destravadas, Adam é mandado à superfície com duas missões: buscar mais suprimentos para a família e encontrar uma mulher para viver com ele.
E, antes de ver o sol e o mar pela primeira vez, percebe que o pacato bairro onde ficava sua casa nos anos 60 se transformou num lugar cheio de sex shops e bares populados por bêbados e travestis. "Subespécie mutante", conclui.
Inevitável, Adam vai topar com sua garota que não brilha no escuro, cujo nome, claro, é Eve (Adão e Eva, sacou?).
E, enquanto a modernosa garota vai gozando o cara de roupas e maneiras bem esquisitas (ou seja, eles vão se apaixonando), o filme vai entrando no ramo da indefectível comédia romântica normal.
"De Volta para o Presente" é inteiro de Brendan Fraser, o sujeito mais gabaritado atualmente em Hollywood para fazer o tipo simplório. Um dos poucos a dizer frases como "Oh, meu Deus! Um negro" (ao ver uma mulher de pele escura pela primeira vez na vida) e a situação não parecer bizarra.
O filme pode não encher os olhos, mas garante duas boas horas de entretenimento.

Avaliação: