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São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2003

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BEBIDA

Evento apresenta produtores artesanais da aguardente cujas exportações cresceram 30 vezes entre 1995 e 2002

Mostra revela as intimidades da cachaça

 "Branquinha, branquinha, é suco de cana, pouquinho é rainha, muitão é tirana..."


Ascenso Ferreira, "Branquinha"

LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO
DA REDAÇÃO

Canjebrina, suor-de-alambique, água-benta, aquela-que-matou-o-guarda, marvada, mamãe-de-aluanda, água-que-gato-não-bebe, capote-de-pobre.
Se é verdade que a cachaça tem tantas alcunhas quanto o Tinhoso, essa ligação não pára por aí: há até quem diga que a filha-do-senhor-do-engenho teria nascido de uma maldição do Danado, que, irritado por ter chupado cana azeda, praguejou contra a planta, afiançando que dela se tiraria uma bebida tão ardente quanto as caldeiras do inferno.
E essa profusão de codinomes sem dúvida é devida à popularidade da champanha-da-terra.
E que venha um "highlander" se vangloriar dos inúmeros scotchs existentes lá pelas terras altas. Que diria ao se deparar com as mais de 5.000 marcas de esquenta-aqui-dentro existentes por aqui? Os cerca de 30 mil produtores que respondem por essas milhares de marcas destilam por volta de 1,3 bilhão de litros da bebida por ano.
Para os apreciadores, São Paulo oferece até amanhã uma atração a não desprezar. A Expocachaça (veja quadro ao lado) traz dezenas de produtores artesanais e industriais além de algumas novidades e curiosidades. Entre elas a Domina Suave, cachaça desenvolvida para mulheres, a Montanhesa, servida em algumas companhias aéreas, a Jaguatônica Ice, mistura da marca Jaguarundi com água tônica e limão, e bombons recheados com a aguardente.
Mas, em se falando de moça-loura, São Paulo não vive só de eventos. A lista do bar São Cristóvão, fundado em 2000, conta com 104 marcas. E há razão de ser. "A pinga já desbancou a tequila e a vodca", diz o proprietário Leonardo Silva Prado. "Antes era difícil encomendar. Agora o vendedor chega aqui com uma lista de quase 300 marcas."
O pernambucano Ailton Silva, do bar Filial, ratifica a assertiva. "Hoje vendemos muito mais doses de cachaça do que de vodca ou tequila. Antigamente, quem bebia pinga era visto como quem não tinha dinheiro para comprar outra bebida."
E a preferência? "Germana, Casa Grande Ouro e Januária Ferreira são muito pedidas. A Claudionor também, muito por curiosidade do cliente [a perigosa tem singelos 54 graus]."
No Canto Madalena, onde há 80 marcas e uma das atrações é a Providência, já foi instituído o "Clube da Cachaça", que oferece 43 aguardentes especiais.
E o que tomar antes ou durante o frango com quiabo do Vila Rica? Caipirinha de garapa, especialidade da casa. É o caldo da cana, limão, gengibre ralado e uma boa dose de Seleta. O Vila Rica tem 24 nomes para consumo em doses no local. As marcas para venda em garrafa são mais de cem.
Para os intimistas que preferem desfrutar da água-de-setembro sem dar na vista, a cidade tem também alguns bons locais onde o cachaçófilo pode se aprovisionar.
Um deles é a Tonel & Pinga, loja inaugurada no final do ano passado que oferece mais de 400 marcas e 700 rótulos da bebida. No meio dessa grande variedade há algumas preciosidades, como a Sarau Dona Beja. Produzida em Perdizes (MG) e envelhecida 30 anos em barris de carvalho, custa R$ 399. Além de cachaça, a loja tem barris de madeira para armazenar a caninha.
Um bom endereço -eletrônico- para se informar mais sobre o assunto é o da Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade (www.ampaq.com.br), que traz desde receitas até a história da mais genuína bebida nacional.


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