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TEATRO
Montagem de "Temporada de Gripe", com direção de Felipe Hirsch, é eficaz, mas esbarra em vazio metalinguístico
Texto narcisista ofusca seu próprio conteúdo
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao contrário de "A Morte
de um Caixeiro Viajante",
outra montagem de Felipe Hirsch
em cartaz, a forma ofusca em
"Temporada de Gripe". O público
sai transtornado pelo cinismo do
texto, impressionado pela performance dos atores, mas convencido de que o teatro é um simulacro
vazio num mundo indecifrável.
Will Eno, o recém-consagrado
discípulo de Edward Albee, tem
seu texto servido por um elenco
excelente, muito além do necessário para este esboço descompromissado de um iniciante promissor. Os talentosos Maureen Miranda e Joelson Medeiros são impedidos a cada passo de mergulhar na angústia das personagens
pela função metalinguística do
texto. Jovens internos de um hospital psiquiátrico, têm seu amor
tolhido pelos psiquiatras e os narradores (Prólogo e Epílogo).
O cenário de Daniela Thomas e
a luz de Beto Bruel, fria e geral, desamparam ainda mais a vacuidade calculada do texto, em que tensões se desarmam sistematicamente em piadas: "Seus pais ainda moram juntos?", "Só o meu
pai". Nada que Ionesco ou Tardieu não tenham utilizado antes
para desautorizar a falsa garantia
de previsibilidade do realismo.
Mas funciona, muito devido à afinada verve cômica de Eno.
A irritação que o espetáculo gera testemunha sua eficácia. "Temporada" implode o sonho americano do "happy end". Tudo é arbitrário, com único objetivo de
satisfazer -ou contrariar - a expectativa da platéia no escuro.
Então não gostar da montagem
equivale a gostar? Desmonta-se a
armadilha com a observação de
que uma montagem que chama a
atenção para si mesma acaba
caindo em um narcisismo vazio.
Um texto que ofusca pela proeza
de ser escrito às avessas acaba desautorizando a seriedade de seu
conteúdo. Demonstra, mas não
aprofunda. Com "Temporada",
Hirsch utiliza seus recursos de encenador para se reafirmar enquanto "menino terrível", mas
não vai além disso.
Temporada de Gripe
Texto: Will Eno
Direção: Felipe Hirsch
Com: Maria Alice Vergueiro, Joelson
Medeiros e outros
Onde: Centro Cultural Fiesp - Teatro
Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313,
região central, tel. 0/xx/11/3146-7405)
Quando: de sex. a dom., às 18h; até 7/12
Quanto: grátis (retirar ingresso com 30
min. de antecedência)
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