|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Momentos em trio dão frescor ao álbum
DA REPORTAGEM LOCAL
Como tem acontecido com a
maioria dos filhos de artistas
famosos (já é uma enxurrada, em
2000), o disco de Moreno Veloso
-rebento de Caetano- exibe o
confronto entre a instância forte
da influência do pai e outra, mais
tímida, da procura de caminhos
próprios.
Dois dos muitos caetanos conhecidos se apresentam firmemente em "Máquina de Escrever
Música". A influência mais visível
é o Caetano de "Tropicália 2" (93)
e subsequente. Não custa lembrar
que Gilberto Gil tinha metade de
"Tropicália 2", e ele é, mesmo, outra metade da tal influência forte.
Assim, por exemplo, a introdução de "Enquanto Isso" remete
imediatamente à de "Haiti". A regravação de "Deusa do Amor"
(92) se comunica com a de "Nossa
Gente", do mesmo Olodum, por
Caetano e Gil. Em espanhol, "Para
Xó" simula a "Fina Estampa" (94)
do pai. "Rio Longe" chama o samba-reggae jazzificado de "Livro"
(97).
O outro Caetano muito presente em Moreno é o da fase pós-hippie, de samba-funk, dos tempos
de "Odara" (77) e de "Tempo de
Estio" (78). Essa é transparente,
por exemplo, em "Arrivederci"
(que inclui uma listagem de nomes próprios próximos, semelhante à que Caetano fazia em
"Gente", de 77) e "Assim" (com
excerto do samba-rock rural de
Gil "Essa É pra Tocar no Rádio",
de 75).
Bem, as comparações não trazem méritos ou deméritos a priori. Se por um lado a cançãozinha
em espanhol e o samba-reggae
soam algo anedóticos, por outro,
a releitura de Olodum, impregnada de tristeza (e essa é uma marca
forte no canto de Moreno), oferece um dos momentos mais intensos do disco.
Por outro lado, os momentos
meio samba-funk, extraídos dos
saberes paternos, são também os
que trazem a instância contrária,
que arriscam fazer Moreno soar
novo de fato.
Tal acontece quando o disco é
realmente feito por Moreno + 2
-pois, de resto, há muito gasto
com a equação voz/violão dele,
sozinho, lutando bravamente
contra a imaturidade vocal ("Eu
Sou Melhor Que Você", "Nenhuma", a "Esfinge" de Djavan), naquele pé de MPB que já não deu.
Mas, na companhia de Domenico e Kassin, Moreno produz delicadeza medrosa, sobre coleção
minuciosa de instrumentos e aparelhagens nunca agressivos ou excessivos.
A impressão é de que asas mais
soltas levariam o trio (e Moreno, à
frente) a regiões mais altas da novidade musical.
Como um comentário, o clássico "Só Vendo Que Beleza" resgata
o historicismo e o violão de Caetano. E é bacana. No dois mais dois,
ser filho do pai não parece trazer a
Moreno mais lucro ou mais prejuízo. No zero a zero, o jovem artista espera amadurecer.
(PAS)
Máquina de Escrever Música
Artista: Moreno + 2
Lançamento: Rock It!
Quanto: R$ 20, em média
Texto Anterior: Moreno Veloso soma influências e estréia em CD Próximo Texto: Sonic Youth não se considera um paradigma Índice
|