São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

"Brazil, Body & Soul" tem predominância de arte barroca

Exposição brasileira estréia com críticas em Nova York

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

"Tem santo demais aqui", comentava o artista plástico Antonio Manuel, anteontem, horas antes da abertura oficial da mostra "Brazil, Body & Soul", no Guggenheim de Nova York. Manuel é um dos contemporâneos a exporem obras no pequeno time de oito brasileiros da mostra. Sua insatisfação em relação à curadoria da exposição resumia os comentários de vários outros artistas.
Das 400 obras expostas no museu norte-americano, cerca de 260 são do barroco brasileiro, o que faz com que o movimento predomine na mostra. A presença do imenso altar-mor do mosteiro de São Bento, em Olinda, apesar de ter apenas 30% de sua montagem concluída na inauguração, reforça a forte presença do barroco.
"Esse conceito já partiu do próprio diretor do Guggenheim, Thomas Krens, ao escolher como curador geral Edward Sullivan, para quem a arte contemporânea é fruto do próprio barroco", dizia Nelson Aguilar, um dos curadores-adjuntos da exposição.
"Eu também já sofri muito em ter que deixar para o segundo plano a arte contemporânea", comentava ainda outro dos curadores-adjuntos, o italiano Germano Celant. "Mas é preciso apresentar as bases de uma cultura, para depois mostrar a produção atual."
Outra das críticas expressadas pelos artistas é dirigida à cenografia de Jean Nouvel. "As paredes construídas na parte contemporânea diminuíram o espaço para a observação das obras. Elas ficaram acanhadas", comentava Adriana Varejão.
Os únicos privilegiados foram Regina Silveira e Antonio Manuel. Suas obras estão numa sala anexa à espiral de Frank Lloyd Wright com muito espaço. São também as únicas que visualmente produzem um interessante diálogo. Ambas são branco e preto.
Participam ainda do módulo denominado Projetos Contemporâneos os artistas Tunga, Lygia Pape, Varejão, Vik Muniz, Miguel Rio Branco e Ernesto Neto.
Neto chegou a ser convidado pela curadoria para criar uma obra para ficar suspensa sobre o altar. Seria uma forma de simbolizar as conexões entre barroco e produção contemporânea. No entanto o projeto cenográfico de Nouvel, que escureceu até mesmo a clarabóia do museu, impossibilitou a montagem do projeto criado por Neto. O Guggenheim acabou apresentando uma obra dele que faz parte de seu acervo.
Mesmo assim, a grande intervenção do arquiteto francês, que tornou preta a parte interna do museu, teve comentários unânimes. "Ficou elegante e ao mesmo tempo transgressor", disse o curador cubano Manuel González.
"Brasil, Body and Soul" fica em cartaz até 27 de janeiro em Nova York. Em março ela é inaugurada na filial do Guggenheim em Bilbao, onde fica até setembro.
Depois desse panorama didático da arte brasileira, o diretor do museu já aventa a possibilidade de organizar uma individual. "Desde 1994, penso em expor Hélio Oiticica, que, para mim, é precursor, nos anos 60, da arte que se produziu nos anos 80. Quem sabe seja possível expor Oiticica ou mesmo outro contemporâneo", disse Krens.


O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da associação BrasilConnects



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