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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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SOUL

Autor de hits como "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" volta ao sabor de retomada nas trilhas do cinema nacional

Redescoberto, Hyldon supera 14 anos de afastamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Sobrevivente a outras adversidades e em outras circunstâncias é o veterano Hyldon, 52, que chegou a formar com Tim Maia e Cassiano um triunvirato de soul music brasileira e se dissipou dos anos 70 para cá à medida que a própria cultura negra se miniaturizava no Brasil.
Tim Maia morreu, Cassiano segue sem ser redescoberto. Hyldon, por seu lado, passou a viver progressiva recomposição. Primeiro, grupos como Kid Abelha e Jota Quest passaram a regravar souls interioranos do baiano acariocado, como "Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapé)" e "As Dores do Mundo".
Mais recentemente, o cinema nacional se apaixonou pela voz esférica de Hyldon, pescando dos anos 70 "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" (incluída em "Cidade de Deus"), "As Dores do Mundo" (em "O Homem do Ano"), "Homem-Pássaro" ("Carandiru").
"Fui o último a saber em todos os casos", surpreende-se Hyldon, sem ainda saber explicar sua empatia entre os cineastas. "É emocionante me ouvir nos filmes. Gostei de todos eles, são bem diferentes uns dos outros."
E o trajeto é concluído agora pelo próprio músico, que lança de forma independente "O Vendedor de Sonhos", seu primeiro trabalho de músicas inéditas em 14 anos. "O tempo não fez com que eu ficasse deteriorado, com a mente para trás", o músico tenta explicar.
É que, além de voltar, ele volta "eletro-acústico", puxando atenções diretamente para as sacudidas faixas "O Vendedor de Sonhos" e "O Prisioneiro", meio soul, meio funk, meio música eletrônica. Elas são efeito da retomada de parceria entre Hyldon e o exímio trio de música instrumental Azimuth.
Ativo no Brasil dos anos 70, o trio de José Roberto Bertrami, Mamão e Alex Malheiros foi criado no início dos anos 70 para formular o som corpulento e povoado de teclados e efeitos tecnológicos de Marcos Valle.
Além de Valle, o Azimuth acompanhou Erasmo Carlos, Wanderléa e o próprio Hyldon, já a partir do clássico LP "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" (75). A partir dos anos 80, atravessou décadas de carreira discográfica, prestígio e receptividade apenas no exterior.
O processo no reencontro foi quase de remix às avessas -Hyldon fez letra e melodia para temas pré-existentes do Azimuth, lançados apenas no exterior. Ex-sumido, ele volta e traz de volta ao Brasil e à legião dos sobreviventes o Azimuth.
Hyldon belisca a eletrônica, mas não se fecha na eletrônica. O Brasil é pesquisado nas fusões de "Sambafunk" (que ele diz que fez inspirado em Lenine) e "Forró do Marinheiro", ambas da tradição black-brasilianista divulgada nos 70 por Tim Maia.
Se o suingue funk impregna o CD (em "Sentimento Bom" e na releitura de "Vamos Passear de Bicicleta?", além das já citadas), nem só dele vive o novo-velho Hyldon.
O lado de baladeiro soul ressurge, também sem perda criativa, em faixas como "Amor Secreto", "Pelas Ruas da Cidade" e a surreal "Alanís", bem como na inclusão (marqueteira) dos três sucessos antigos arrematados pelo cinema nacional.
"Sou muito arredio a badalação e a marketing pessoal, nunca procurei divulgar o nome Hyldon. Mas preciso vender, senão vou demorar mais 14 anos para voltar a lançar um disco", justifica sem meias palavras o artista.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


O Vendedor de Sonhos     
Artista: Hyldon
Lançamento: DPA/Trama
Quanto: R$ 20, em média



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