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SOUL
Autor de hits como "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" volta ao sabor de retomada nas trilhas do cinema nacional
Redescoberto, Hyldon supera 14 anos de afastamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Sobrevivente a outras adversidades e em outras circunstâncias é o veterano Hyldon,
52, que chegou a formar com Tim
Maia e Cassiano um triunvirato
de soul music brasileira e se dissipou dos anos 70 para cá à medida
que a própria cultura negra se miniaturizava no Brasil.
Tim Maia morreu, Cassiano segue sem ser redescoberto.
Hyldon, por seu lado, passou a viver progressiva recomposição.
Primeiro, grupos como Kid Abelha e Jota Quest passaram a regravar souls interioranos do baiano
acariocado, como "Na Rua, na
Chuva, na Fazenda (Casinha de
Sapé)" e "As Dores do Mundo".
Mais recentemente, o cinema
nacional se apaixonou pela voz
esférica de Hyldon, pescando dos
anos 70 "Na Rua, na Chuva, na
Fazenda" (incluída em "Cidade
de Deus"), "As Dores do Mundo"
(em "O Homem do Ano"), "Homem-Pássaro" ("Carandiru").
"Fui o último a saber em todos
os casos", surpreende-se Hyldon,
sem ainda saber explicar sua empatia entre os cineastas. "É emocionante me ouvir nos filmes.
Gostei de todos eles, são bem diferentes uns dos outros."
E o trajeto é concluído agora pelo próprio músico, que lança de
forma independente "O Vendedor de Sonhos", seu primeiro trabalho de músicas inéditas em 14
anos. "O tempo não fez com que
eu ficasse deteriorado, com a
mente para trás", o músico tenta
explicar.
É que, além de voltar, ele volta
"eletro-acústico", puxando atenções diretamente para as sacudidas faixas "O Vendedor de Sonhos" e "O Prisioneiro", meio
soul, meio funk, meio música eletrônica. Elas são efeito da retomada de parceria entre Hyldon e o
exímio trio de música instrumental Azimuth.
Ativo no Brasil dos anos 70, o
trio de José Roberto Bertrami,
Mamão e Alex Malheiros foi criado no início dos anos 70 para formular o som corpulento e povoado de teclados e efeitos tecnológicos de Marcos Valle.
Além de Valle, o Azimuth
acompanhou Erasmo Carlos,
Wanderléa e o próprio Hyldon, já
a partir do clássico LP "Na Rua,
na Chuva, na Fazenda" (75). A
partir dos anos 80, atravessou décadas de carreira discográfica,
prestígio e receptividade apenas
no exterior.
O processo no reencontro foi
quase de remix às avessas
-Hyldon fez letra e melodia para
temas pré-existentes do Azimuth,
lançados apenas no exterior. Ex-sumido, ele volta e traz de volta ao
Brasil e à legião dos sobreviventes
o Azimuth.
Hyldon belisca a eletrônica, mas
não se fecha na eletrônica. O Brasil é pesquisado nas fusões de
"Sambafunk" (que ele diz que fez
inspirado em Lenine) e "Forró do
Marinheiro", ambas da tradição
black-brasilianista divulgada nos
70 por Tim Maia.
Se o suingue funk impregna o
CD (em "Sentimento Bom" e na
releitura de "Vamos Passear de
Bicicleta?", além das já citadas),
nem só dele vive o novo-velho
Hyldon.
O lado de baladeiro soul ressurge, também sem perda criativa,
em faixas como "Amor Secreto",
"Pelas Ruas da Cidade" e a surreal
"Alanís", bem como na inclusão
(marqueteira) dos três sucessos
antigos arrematados pelo cinema
nacional.
"Sou muito arredio a badalação
e a marketing pessoal, nunca procurei divulgar o nome Hyldon.
Mas preciso vender, senão vou
demorar mais 14 anos para voltar
a lançar um disco", justifica sem
meias palavras o artista.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
O Vendedor de Sonhos
Artista: Hyldon
Lançamento: DPA/Trama
Quanto: R$ 20, em média
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