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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição apresenta trabalhos pouco conhecidos do pintor, como série para Hans Staden feita nos anos 40

Pinacoteca mostra o avesso de Portinari

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

No próximo dia 30/12 são completos os cem anos de nascimento de Candido Portinari (1903-62). As comemorações, que se estenderam ao longo de 2003 e continuarão em 2004 através de exposições e lançamentos de livros, chegam à Pinacoteca de SP com a mostra "Portinari: O Homem Brasileiro", com 48 obras de duas coleções bem distintas de obras do pintor de Brodósqui (SP).
Uma é a série de ilustrações que Portinari fez para "Duas Viagens ao Brasil", de Hans Staden, nos anos 40. A outra se trata de parte dos estudos do pintor -produzidos entre 36 e 44 para os "Ciclos Econômicos"- e alguns dos murais pintados no Palácio Gustavo Capanema, então sede do Ministério da Educação e Cultura (RJ).
Ambas estarão expostas a partir de amanhã, ao lado de óleos do artista, dentre os quais "O Mulato", que dá força à intenção da exposição de mostrar o interesse de Portinari pela representação do homem brasileiro.
Os desenhos para a obra de Hans Staden foram resultados da exposição realizada por Portinari no MoMA (Nova York), em 1940. O editor George Macy gostou do que viu na individual do artista e convidou o pintor para ilustrar uma edição de "Duas Viagens ao Brasil". O convite resultou em uma intensa correspondência e alguns desentendimentos.
"Macy não gostou das ilustrações e teria considerado "muito fortes'", explica Regina Teixeira de Barros, pesquisadora da Pinacoteca, em alusão às imagens de canibalismo que Portinari tratou de transpor dos relatos para o nanquim. Além disso, o editor americano ficou decepcionado ao se deparar com um estilo um tanto diferente do que havia conhecido na exposição do MoMA.
Em vez de grandes blocos de cores, de figuras robustas ou da representação um pouco mais folclórica do que teria sido a experiência de Hans Staden, havia apenas linhas mais soltas para dar forma às cenas "fortes". Macy ficou decepcionado, Portinari, irritado, e o projeto não foi adiante.
Já a série de estudos para os "Ciclos Econômicos" traz outras peculiaridades. "Portinari fez mais de 200 estudos para os murais, mas os que serão apresentados são especiais por se tratarem de estudos de cores e por serem finais, não iniciais", aponta Barros.
"Gado", "Ferro" e "Café" ganham, então, uma visão mais cuidadosa de seus detalhes, com uma paleta de cores ao lado e um esboço do que viriam a ser depois. O mesmo para "Carnaúba".
"Quem definiu quais seriam os ciclos econômicos representados foi o gabinete de [Gustavo] Capanema, cujo chefe era [Carlos] Drummond [de Andrade]. Haviam pensado em 11 painéis, mas acabou sobrando espaço para mais um", conta Barros.


PORTINARI: O HOMEM BRASILEIRO. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/229-9844). Quando: amanhã, às 10h, para convidados; de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 4/1. Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados).


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