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CINEMA
Documentário sobre "Soy Cuba", épico dos anos 60 cultuado hoje nos EUA, compete na categoria de estrangeiros
Filme brasileiro concorre em Sundance
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o registro da jornada de
um elefante branco que atravessou a ilha de Cuba nos anos 60, o
diretor brasileiro Vicente Ferraz
participa do Festival de Sundance,
o mais importante do cinema independente dos EUA, que exibe
120 filmes até o final deste mês em
Park City, no Estado de Utah.
"Soy Cuba - O Mamute Siberiano" (2004, inédito no Brasil) concorre na competição na categoria
documentário internacional.
Trata-se da história do filme
"Soy Cuba" (1963), de Mikheil
Kalatozishvili (1903-1973), uma
megaprodução sobre o começo
da Revolução Cubana. O épico
consumiu muitos rublos, levou 14
meses para ficar pronto e envolveu 200 profissionais.
Para rodá-lo, o curso de um rio
foi desviado, e 5.000 soldados,
deslocados para serem figurantes
em plena crise dos mísseis, quando os EUA descobriram armas
soviéticas instaladas na ilha.
Apesar de todos os esforços, o
filme foi um fiasco de audiência
nos dois países. "Era uma visão
eslava e folclorista do Caribe. A
diferença cultural incomodou o
público", conta Ferraz, 39.
Trinta anos depois, na década
de 90, "Soy Cuba" passou em um
festival nos EUA e, desde então,
ganhou status de clássico pela crítica norte-americana, com a
chancela de Francis Ford Coppola
e Martin Scorsese.
Os planos-seqüência do longa
são considerados exemplo de virtuosismo. "Soy Cuba" foi lançado
no Brasil em DVD.
Ferraz vê uma certa ironia no fato de um filme de propaganda comunista ter sido redescoberto por
americanos. "Aproveito para fazer uma analogia entre o filme e a
história recente de Cuba", diz.
No documentário, gravado em
Cuba, onde o diretor estudou cinema, estão reunidos depoimentos de pessoas envolvidas na produção, além de cenas do original e
de seu "making of".
"Soy Cuba - O Mamute Siberiano" esteve na programação dos
festivais de Havana e Amsterdã e
deve estrear por aqui no segundo
semestre. A intenção do diretor é
fazer também o lançamento em
cinema do filme russo-cubano.
Laboratório
Há outro brasileiro em Sundance: Philippe Barcinski, 32, recebe
hoje o prêmio Alfred Sloan, dedicado a roteiros que tenham algum
apelo científico.
O diretor dos premiados curtas
"Palíndromo" (2001) e "A Janela
Aberta" (2002) ganhará US$
5.000, mais um aporte ainda indefinido para a pré-produção de seu
primeiro longa, "Não por Acaso",
drama sobre dois personagens
obsessivos, um engenheiro de tráfego e um jogador de sinuca.
Até ontem ele participava de
um disputado workshop para 12
roteiristas -oito norte-americanos e quatro estrangeiros.
O laboratório teve duração de
cinco dias e foi bancado pelo Instituto Sundance, que desde sua
criação, em 1981, promove atividades para novos cineastas.
Bons títulos de origem independente passaram por essa experiência. Entre eles, "Meninos Não
Choram", de Kimberly Peirce, e
"Central do Brasil", de Walter Salles, que apadrinhou o roteiro de
Barcinski em Sundance.
O workshop funciona como
uma troca de idéias entre consagrados e novatos. O brasileiro foi
assessorado por Guillermo Arriaga, que assina o roteiro de "21
Gramas", e David Beniof ("A Última Noite", de Spike Lee).
"É um selo de qualidade porque
para entrar passamos por um
pente muito fino", diz Barcinski.
(TEREZA NOVAES)
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