São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

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CINEMA

Documentário sobre "Soy Cuba", épico dos anos 60 cultuado hoje nos EUA, compete na categoria de estrangeiros

Filme brasileiro concorre em Sundance

DA REPORTAGEM LOCAL

Com o registro da jornada de um elefante branco que atravessou a ilha de Cuba nos anos 60, o diretor brasileiro Vicente Ferraz participa do Festival de Sundance, o mais importante do cinema independente dos EUA, que exibe 120 filmes até o final deste mês em Park City, no Estado de Utah.
"Soy Cuba - O Mamute Siberiano" (2004, inédito no Brasil) concorre na competição na categoria documentário internacional.
Trata-se da história do filme "Soy Cuba" (1963), de Mikheil Kalatozishvili (1903-1973), uma megaprodução sobre o começo da Revolução Cubana. O épico consumiu muitos rublos, levou 14 meses para ficar pronto e envolveu 200 profissionais.
Para rodá-lo, o curso de um rio foi desviado, e 5.000 soldados, deslocados para serem figurantes em plena crise dos mísseis, quando os EUA descobriram armas soviéticas instaladas na ilha.
Apesar de todos os esforços, o filme foi um fiasco de audiência nos dois países. "Era uma visão eslava e folclorista do Caribe. A diferença cultural incomodou o público", conta Ferraz, 39.
Trinta anos depois, na década de 90, "Soy Cuba" passou em um festival nos EUA e, desde então, ganhou status de clássico pela crítica norte-americana, com a chancela de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese.
Os planos-seqüência do longa são considerados exemplo de virtuosismo. "Soy Cuba" foi lançado no Brasil em DVD.
Ferraz vê uma certa ironia no fato de um filme de propaganda comunista ter sido redescoberto por americanos. "Aproveito para fazer uma analogia entre o filme e a história recente de Cuba", diz.
No documentário, gravado em Cuba, onde o diretor estudou cinema, estão reunidos depoimentos de pessoas envolvidas na produção, além de cenas do original e de seu "making of".
"Soy Cuba - O Mamute Siberiano" esteve na programação dos festivais de Havana e Amsterdã e deve estrear por aqui no segundo semestre. A intenção do diretor é fazer também o lançamento em cinema do filme russo-cubano.

Laboratório
Há outro brasileiro em Sundance: Philippe Barcinski, 32, recebe hoje o prêmio Alfred Sloan, dedicado a roteiros que tenham algum apelo científico.
O diretor dos premiados curtas "Palíndromo" (2001) e "A Janela Aberta" (2002) ganhará US$ 5.000, mais um aporte ainda indefinido para a pré-produção de seu primeiro longa, "Não por Acaso", drama sobre dois personagens obsessivos, um engenheiro de tráfego e um jogador de sinuca.
Até ontem ele participava de um disputado workshop para 12 roteiristas -oito norte-americanos e quatro estrangeiros.
O laboratório teve duração de cinco dias e foi bancado pelo Instituto Sundance, que desde sua criação, em 1981, promove atividades para novos cineastas.
Bons títulos de origem independente passaram por essa experiência. Entre eles, "Meninos Não Choram", de Kimberly Peirce, e "Central do Brasil", de Walter Salles, que apadrinhou o roteiro de Barcinski em Sundance.
O workshop funciona como uma troca de idéias entre consagrados e novatos. O brasileiro foi assessorado por Guillermo Arriaga, que assina o roteiro de "21 Gramas", e David Beniof ("A Última Noite", de Spike Lee).
"É um selo de qualidade porque para entrar passamos por um pente muito fino", diz Barcinski.
(TEREZA NOVAES)


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