São Paulo, sexta, 21 de fevereiro de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jesus e Tarzan conversam em livro psicodélico de Tom Robbins

RAUL MOREIRA
especial para a Folha, em Milão

Com quase três décadas de atraso, foi lançado na Itália o primeiro livro do escritor norte-americano Tom Robbins, 61, um dos mais ilustres defensores do psicodelismo. Escrito em 1971, "Another Roadside Attraction", que em italiano ganhou o título de "Uno Zoo Lungo la Strada" (Baldini & Castoldi), tornou-se um cult entre os jovens alternativos da América da era Nixon.
O livro conta a história de um homem que rouba a múmia de Jesus nas catacumbas do Vaticano e a leva para uma pequena cidade dos Estados Unidos, no estado de Washington, onde vive com estranhos amigos em um zoológico vendendo sanduíches.
Nos Estados Unidos, o livro foi lançado sem sucesso nos primeiros meses de 71, mas de uma hora pra outra vendeu 600 mil exemplares, fazendo de Tom Robbins um dos escritores mais conhecidos do país.
Amparado pelo sucesso de "Roadside", ele publicou em 74 "Even Cowgirl get the Blues", que vendeu 1,5 milhão de exemplares, além de "Still Life with Woodpecker" (80), "Jitterbug Perfume" (84), "Skinny Logs and All" (90) e "Half Asleep in Frog Pajmas" (94).
Segundo Robbins, em uma entrevista ao jornal italiano "Roadside", surgiu de uma idéia de evocar a revolução psicodélica, para que as pessoas pudessem entender que o real significado da vida é procurar, com simplicidade, uma "jóia" em tudo.
Um dos trechos surreais do livro é uma conversa entre Jesus e Tarzan, que Robbins explica como uma tentativa de resolver conflitos de infância: "Jesus era meu herói até eu conhecer Tarzan, o que acabou me deixando dividido".
O resultado é que o livro, além da fantasia psicodélica, acaba abordando temáticas que vão do ocultismo ao "Eros oriental". O estilo da narrativa lembra, como afirmam alguns críticos italianos, contemporâneos de Robbins como Kurt Vonnegut.
Apesar de detectada a semelhança, o norte-americano disse que era influenciado na época apenas pelos escritores James Joyce, Alffred Jarry, George Herminae e pelo artista pop Claes Oldenburg. Robbins apreciava também Herman Hesse, mas afirmou que não incorporou o estilo narrativo do autor alemão.
Circo
Robbins nasceu na Carolina do Norte e é filho de uma escritora de livros infantis. Na adolescência, trabalhou num circo, onde descobriu o "último vestígio de celebração pagã da sociedade moderna".
Rebelde, foi enviado pelos pais a uma academia militar após ter sido expulso da escola, na metade dos anos 50.
Terminado o "purgatório" de soldado, experimentou uma existência nômade, antecipando-se à era hipplie ao viver de caronas nas estradas americanas, experiência que segundo ele serviu como substrato para seu primeiro livro.
No final dos anos 50, foi obrigado a servir na Coréia do Sul, onde passou a maior parte do tempo vendendo cigarros e sabonetes no mercado negro.
No início da década de 60, de volta aos EUA, cursou uma escola de arte e trabalhou em um jornal conservador. Foi a época em que descobriu o LSD, que segundo ele o deixaria intelectual e emocionalmente menos rígido.
No mesmo período, conheceu Timothy Leary, de quem ficou amigo. Robbins reconhece que muitos dos escritores que "viajaram" no psicodelismo descreveram a sensação de modo jornalístico, e não de uma forma que evocasse a essência.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã