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Jesus e Tarzan conversam em
livro psicodélico de Tom Robbins
RAUL MOREIRA
especial para a Folha, em Milão
Com quase três décadas de atraso, foi lançado na Itália o primeiro
livro do escritor norte-americano
Tom Robbins, 61, um dos mais
ilustres defensores do psicodelismo. Escrito em 1971, "Another
Roadside Attraction", que em italiano ganhou o título de "Uno Zoo
Lungo la Strada" (Baldini & Castoldi), tornou-se um cult entre os
jovens alternativos da América da
era Nixon.
O livro conta a história de um
homem que rouba a múmia de Jesus nas catacumbas do Vaticano e
a leva para uma pequena cidade
dos Estados Unidos, no estado de
Washington, onde vive com estranhos amigos em um zoológico
vendendo sanduíches.
Nos Estados Unidos, o livro foi
lançado sem sucesso nos primeiros meses de 71, mas de uma hora
pra outra vendeu 600 mil exemplares, fazendo de Tom Robbins um
dos escritores mais conhecidos do
país.
Amparado pelo sucesso de
"Roadside", ele publicou em 74
"Even Cowgirl get the Blues", que
vendeu 1,5 milhão de exemplares,
além de "Still Life with Woodpecker" (80), "Jitterbug Perfume"
(84), "Skinny Logs and All" (90) e
"Half Asleep in Frog Pajmas"
(94).
Segundo Robbins, em uma entrevista ao jornal italiano "Roadside", surgiu de uma idéia de evocar a revolução psicodélica, para
que as pessoas pudessem entender
que o real significado da vida é
procurar, com simplicidade, uma
"jóia" em tudo.
Um dos trechos surreais do livro
é uma conversa entre Jesus e Tarzan, que Robbins explica como
uma tentativa de resolver conflitos
de infância: "Jesus era meu herói
até eu conhecer Tarzan, o que acabou me deixando dividido".
O resultado é que o livro, além da
fantasia psicodélica, acaba abordando temáticas que vão do ocultismo ao "Eros oriental". O estilo
da narrativa lembra, como afirmam alguns críticos italianos,
contemporâneos de Robbins como Kurt Vonnegut.
Apesar de detectada a semelhança, o norte-americano disse que
era influenciado na época apenas
pelos escritores James Joyce, Alffred Jarry, George Herminae e pelo
artista pop Claes Oldenburg. Robbins apreciava também Herman
Hesse, mas afirmou que não incorporou o estilo narrativo do autor alemão.
Circo
Robbins nasceu na Carolina do
Norte e é filho de uma escritora de
livros infantis. Na adolescência,
trabalhou num circo, onde descobriu o "último vestígio de celebração pagã da sociedade moderna".
Rebelde, foi enviado pelos pais a
uma academia militar após ter sido
expulso da escola, na metade dos
anos 50.
Terminado o "purgatório" de
soldado, experimentou uma existência nômade, antecipando-se à
era hipplie ao viver de caronas nas
estradas americanas, experiência
que segundo ele serviu como substrato para seu primeiro livro.
No final dos anos 50, foi obrigado a servir na Coréia do Sul, onde
passou a maior parte do tempo
vendendo cigarros e sabonetes no
mercado negro.
No início da década de 60, de volta aos EUA, cursou uma escola de
arte e trabalhou em um jornal conservador. Foi a época em que descobriu o LSD, que segundo ele o
deixaria intelectual e emocionalmente menos rígido.
No mesmo período, conheceu
Timothy Leary, de quem ficou
amigo. Robbins reconhece que
muitos dos escritores que "viajaram" no psicodelismo descreveram a sensação de modo jornalístico, e não de uma forma que evocasse a essência.
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