São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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Guerra do Golfo derrotou jornalismo

da Reportagem Local

Escrito como um libelo contra o controle quase orwelliano das informações exercido pelo Pentágono durante as últimas guerras americanas, "Second Front: Censorship and Propaganda in the Gulf War" ("Segunda Frente: Censura e Propaganda na Guerra do Golfo") baseia-se em documentação e entrevistas com personagens da cobertura jornalística do conflito, para mostrar como a opinião pública americana foi manipulada de forma a apoiar as ações do governo.
O autor, John R. MacArthur, é publisher da "Harper's Magazine". Segundo ele, as invasões americanas em Granada (outubro de 1983) e no Panamá (dezembro de 1989) serviram como ensaios para exorcizar a síndrome do Vietnã.
Os planejadores partiram da avaliação implícita de que os EUA poderiam ter vencido no Vietnã não fosse a atuação da imprensa para quebrar o moral da população americana. MacArthur contesta essa versão. Argumenta que no Vietnã a imprensa seguiu a liderança dos políticos em apoio à atuação americana.
Na guerra do Golfo, diferentemente do que ocorrera no Sudeste Asiático, articularam-se o blecaute de informações com a censura às reportagens dos correspondentes. Oficializaram-se os "pools" de jornalistas, que só podiam ir a campo quando e onde os militares americanos autorizassem. Qualquer saída tinha a vigilância de um acompanhante militar, no que o autor definiu como sendo -com um certo cinismo- a "Operação Focinheira do Deserto".
Para MacArthur, o mais constrangedor foi a atitude passiva dos publishers, editores-chefes e dos âncoras da TV diante das restrições. A maioria não viu nada de errado nos pools e aprovou o trabalho feito. Dan Rather, âncora da CBS, um dos dezenas de entrevistados para o livro, avalia que todo o episódio constituiu uma séria derrota para o jornalismo.
O manejo das informações permitiu que se difundissem informações que se mostraram falsas. MacArthur cita casos como o dos bebês retirados das incubadeiras pelos invasores iraquianos do Kuait (episódio central para a aprovação do ataque pelo Congresso americano), ou a difusão de que o Iraque concentrara uma força de 500 mil homens na fronteira com a Arábia Saudita (força que jamais foi encontrada pelo avanço de 100 mil carros blindados dos EUA e sua coalizão).
O mito das "bombas inteligentes" dos EUA (as que só atingiam alvos militares, poupando civis), docilmente divulgado a partir dos "briefings" do Pentágono, caiu após a guerra, quando a força aérea americana anunciou que bombas e mísseis guiados por radar eram apenas 7% de todos os explosivos lançados no Iraque e no Kuait. Os outros 93% eram bombas convencionais, jogadas principalmente dos B-52s da era do Vietnã. Dez por cento das "bombas inteligentes" erraram o alvo militar, contra 75% de erros das bombas comuns. (MVS)


Livro: Second Front: Censorship and Propaganda in the Gulf War
Autor: John R. MacArthur
Lançamento: University of California Press
274 págs
Preço: US$ 14.00 (capa dura, 260 págs.)
Onde encontrar: Amazon Books (http://www.amazon.com)



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