São Paulo, sábado, 21 de abril de 2001

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TELEVISÃO

Proposta é manter aparelho desligado hoje à noite entre 20h e 20h15

Campanha propõe boicote à TV

RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO

Começou como uma corrente anônima na internet. Acumulou adeptos e inaugura um tipo de protesto inédito no país. A idéia é simples: 15 minutos com a televisão desligada na noite de hoje, das 20h às 20h15, como forma de protesto contra o baixo nível que se instalou em grande parte da programação televisiva brasileira.
A ONG TVer, que tem na elevação da qualidade do conteúdo transmitido uma de suas frentes, foi incisiva no apoio: além de ventilar a proposta, oferece por meio de seu site um bate-papo durante o tempo do boicote, enfocando a própria iniciativa, e propõe que ele se estenda por 30 minutos.
Posição diferente foi tomada pelo diretor do programa "Vitrine" da TV Cultura, Gabriel Prioli. Mesmo considerando "legítimo" o emprego do boicote como forma do protesto, Gabriel considera apócrifa a corrente que originou a campanha e preferiu não apoiá-la. "Não acho que o anonimato seja a forma mais interessante. As pessoas têm de se mostrar, dar a cara ao tapa", diz.
O sociólogo e jornalista Laurindo Leal Filho, presidente da TVer, defende a tese de que, mesmo sendo simbólico, o boicote tem o poder de "despertar" a sociedade.
"Entre uma população que é basicamente formada pela TV, não se pode esperar que o boicote seja encampado por muita gente, uma vez que as emissoras não vão incluí-lo em suas pautas. Mesmo assim, esse tipo de iniciativa tem a virtude de servir como mais um alerta", diz, ressaltando que caberiam, sim, com mais eficiência, "mecanismos institucionais" para dar conta do problema.
O jornalista lembra que duas formas de mediação entre público e emissoras já foram ensaiadas pelo poder público, sem um desfecho por enquanto. Tanto o Conselho de Comunicação Social, previsto na Constituição, quanto a criação de uma agência reguladora para o setor estão na pauta do Congresso, mas não foram à votação. Leal Filho vê com mais urgência a implantação da agência, uma vez que as televisões são concessões estatais.
"Seria um mecanismo importante para canalizar as demandas da sociedade em relação à televisão. Esse tipo de mediação funciona em várias democracias do mundo. Os concessionários públicos de televisão dizem que estamos falando de censura, mas o que eles não admitem é crítica ao que colocam no ar", dispara.
Se no Brasil a iniciativa é restrita a 15 minutos, num viés mais "simbólico", o site canadense adbus ters.org vai mais longe e propõe que o aparelho de TV seja abandonado por uma semana, a partir de amanhã. Apoiada por organizações não-governamentais dos EUA, da França e da Espanha, a campanha existe desde 1999 e tem simpatizantes de 30 países.


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