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DANÇA
Ver Kirov é como estar diante de um Rembrandt
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Desde que o Ballet Kirov se apresentou no Brasil pela primeira vez,
dois anos atrás, criou-se a expectativa de que cada nova apresentação da companhia russa no país
funciona como a vinda de um museu, cujo acervo contém peças raras e preciosas.
Anteontem, quando inaugurou
sua segunda temporada em São
Paulo, com "La Bayadère", o Kirov mais uma vez proporcionou a
sensação de que seus espetáculos
são como obras de Giotto, Raffaello ou Rembrandt, colocadas ao alcance de uma apreciação ao vivo.
Com o Kirov, "La Bayadère"
ganha a dimensão que muitas
companhias ocidentais deixam escapar. Coreografado em 1877 por
Marius Petipa, esse balé inspirado
numa personagem que estimulou
a imaginação de Goethe possui
uma narração que pode se tornar
exaustiva nos dois primeiros atos.
No entanto, a competência do
Kirov faz a obra fluir, revelando
toda sua harmonia e esplendor.
Sustentando o brilho da encenação, o casal principal de bailarinos
-Altynai Asylmuratova e Igor
Zelensky- dançam com o domínio daqueles que convivem com
os segredos de "La Bayadère"
desde os tempos de escola.
Considerada a melhor bailarina
russa, Altynai costuma dizer que
"La Bayadère" está em seu sangue. No palco, essa afirmação se
confirma. Em cada fração de gesto, Altynai carrega de nuances a
personagem título, mostrando o
que é ser uma intérprete completa.
Zelensky, por sua vez, persegue
a maturidade de Altynai. Mas consegue ser um par à altura, exibindo um controle técnico que concede suavidade mesmo aos saltos
mais exigentes.
Na "Bayadère" do Kirov, o famoso último ato -intitulado "O
Reino das Sombras"- é um presente aos sentidos. Sob luz prateada, 36 bailarinas introduzem no
palco o mundo fugidio dos sonhos.
Com naturalidade, elas revivem
a atmosfera que cercou a criação
de "La Bayadère". Nascida no
teatro Mariinsky, sede do Kirov, a
obra de Petipa capta a luminosidade típica das noites russas, que
contam com a claridade diurna
misturada a sombras até altas horas. Preservando a autenticidade
de seu rico acervo, o Kirov é um
patrimônio que inspira a mais
sensível apreciação.
Espetáculo: Ballet Kirov
Quando: hoje e amanhã, às 20h30;
sábado, às 16h e 21h; domingo, às 11h
Onde: Teatro Municipal (pça Ramos de
Azevedo, s/nš, tel. 222-8698, região
central)
Quanto: R$ 55 até R$ 486 (três
espetáculos). Vendas: Cia. dos Ingressos
(tel. 3068-0164 e 853-8499) e Alpha
Ingressos (tel. 3361-2688)
Patrocinadores: IBM e Telebrás
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