São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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MÚSICA

Falsificação de CDs subiu 48% em 2001; Brasil está entre os países em que mais de 50% do mercado está dominado

Pirataria explode em quatro continentes

DA REPORTAGEM LOCAL

O alarme está dado, e agora é em nível mundial. Em relatório recém-publicado, a IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) admite que a pirataria já ocupa mais que 50% do mercado musical em pelo menos 25 países de quatro continentes -Brasil inclusive.
O relatório vem acompanhado de um apelo para que os governos nacionais se engajem na luta contra a pirataria, argumentando que a falsificação de CDs prejudica as culturas nacionais, mobiliza o crime organizado e rouba desenvolvimento e empregos.
Em 2001, a pirataria de CDs aumentou 48%, segundo a IFPI. Em 2000, 65% dos produtos musicais pirateados eram fitas cassete, contra 35% de CDs. Em 2001, o número de CDs pirateados pulou para 51% do total. "Se não houver repressão, seguramente a indústria pode perder o CD, como perdeu no passado as fitas cassete", diz o presidente da Universal brasileira, Marcelo Castello Branco.
O crescimento da pirataria de CD-Rs (CDs graváveis), de 9% em 2000 para 24% em 2001, é uma das explicações para a explosão da pirataria. Hoje, segundo a IFPI, continua a pirataria industrial sobre CDs oficiais, mas as máquinas caseiras baratas de produção de CD-Rs se multiplicam principalmente nas Américas Latina e do Norte e na Europa Oriental.
O Brasil aparece em destaque no bloco dos países líderes em pirataria. O índice obscuro de "pirataria acima de 50% do mercado" não esclarece exatamente o grau em que ela se encontra, justificando especulações que já surgiram dentro da própria indústria e falam em números de até 70%.
Com o Brasil nos "acima de 50%", estão a América Central inteira, quase toda a América Latina, muitos países da Europa Oriental, parte da Ásia (China, Indonésia, Malásia e Paquistão) e poucos africanos (Egito, Quênia e Nigéria).
A América do Sul se fecha no rol dos países com pirataria entre 25% e 50%, com Argentina, Chile e Uruguai. Parte da Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia são os únicos a deter a pirataria abaixo de taxas de 10%, graças quase sempre a medidas de repressão policial e legal.
No Brasil, a grita das gravadoras contra a pirataria se concentra, justamente, no baixo impacto da repressão estatal contra o problema. "É difícil para nós falar sobre pirataria porque nosso negócio é fazer música. A gente não sabe lidar com isso", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), Luiz Oscar Niemeyer.
O advogado carioca Nehemias Gueiros Jr., empenhado na luta pela numeração dos CDs como modo paliativo de iniciar uma moralização da indústria, discorda da afirmação:
"É claro que o papel principal cabe ao governo, mas investimentos tecnológicos têm de ser feitos pela própria indústria. Nos EUA já se usam CDs antipirataria, que travam o computador de quem usa. A ABPD poderia, com o dinheiro que arrecada de seus associados e de artistas, investir em tecnologia e se unir ao governo numa força-tarefa antipirataria".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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