São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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"O GRANDE CIRCO MÍSTICO"

Dança aérea traz magia para a cena

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

De roupa nova, o "Grande Circo Místico" reestréia em temporada pelo Brasil. Quem não lembra a trilha de Edu Lobo e Chico Buarque, com canções como "Beatriz", "Ciranda da Bailarina", "Valsa dos Clowns"? A memória é forte o bastante para intimidar a dança: a primeira coreografia (de Carlos Trincheiras), que estreou em 1983, ficava claramente aquém da música. Que a história se repita, agora, é quase inevitável; embora com ambições e matizes diferentes.
A própria trilha ganhou oito novas canções instrumentais. De resto, foram mantidas as versões antigas, com duas exceções: "A Bela e a Fera" é interpretada agora por Marco Nanini e "A História de Lily Braun", pela atriz e cantora Vanessa Gerbelli.
O argentino (radicado no Brasil) Luis Arrieta, que nos anos 80 marcou época na dança brasileira, é o responsável pela nova coreografia, junto com Dani Lima, que criou a parte aérea e trouxe o circo para a cena. Mantido, é claro, o roteiro de Naum Alves de Souza, inspirado em poema de Jorge de Lima (1895-1953), o desafio é fazer o circo místico dos versos de Chico Buarque ganhar corpo no grande circo dançado. A solução de Arrieta é neoclássica, com gestos angulosos pontuando a dança e quebrando inventivamente os encadeamentos.
São características as células de movimento, que se repetem durante toda a noite, em diferentes direções. E o risco que se corre, num espetáculo longo, é mesmo o da repetição excessiva: nem sempre há urgência nas sequências de passos e cada gesto vê seu tempo espichado. Nos momentos menos felizes, a dramaticidade da música fica sem paralelo na coreografia, que se prende a narrativas exageradas. O Balé Teatro Guaíra: competente, à vontade, homogêneo. À vontade mesmo na parte aérea, dançando nos tecidos e deslizando pela corda.
Na coreografia de 1983, as duas narrativas (vida "real" e circo) estavam presentes em cena, e os personagens vinham vestidos a caráter. Nessa nova versão, as narrativas se cruzam e os figurinos (de Rosa Magalhães) modernizam os personagens, nas suas malhas geométricas. Apenas nas cenas teatrais, que surgem como fotografias, os figurinos são dos integrantes do circo a mulher barbada, o palhaço, o equilibrista.
No cenário, bandeirinhas, estrelas, burrinhos com luzes de carrossel, bolas transparentes, em contraponto com uma plataforma metálica, coberta por caixas transparentes. O palco, com isso, divide-se em três planos, e a dança se desenvolve em camadas. Pontos para experiência de carnavalesca de Magalhães.
O Carnaval entra em cena também nos bichos gigantes, alegorias "vivas" das alegorias dos bailarinos. Enfim: um espetáculo de grande porte, com produção cuidadosa e música memorável. Não chega a ser o grande circo, mas uma pequena mística basta, talvez, para divertir o pequeno e o grande circo do Brasil.


A crítica Inês Bogéa viajou a convite da produção do evento


O Grande Circo Místico   
Onde: teatro Alfa (r. Bento de Andrada Filho, 722, Santo Amaro, SP, tel. 0/xx/11/5693-4000)
Quando: hoje a amanhã, às 21h; dom., às 16h e às 20h
Quanto: de R$ 20 a R$ 40



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