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"O GRANDE CIRCO MÍSTICO"
Dança aérea traz magia para a cena
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
De roupa nova, o "Grande
Circo Místico" reestréia em
temporada pelo Brasil. Quem não
lembra a trilha de Edu Lobo e Chico Buarque, com canções como
"Beatriz", "Ciranda da Bailarina",
"Valsa dos Clowns"? A memória é
forte o bastante para intimidar a
dança: a primeira coreografia (de
Carlos Trincheiras), que estreou
em 1983, ficava claramente
aquém da música. Que a história
se repita, agora, é quase inevitável;
embora com ambições e matizes
diferentes.
A própria trilha ganhou oito novas canções instrumentais. De
resto, foram mantidas as versões
antigas, com duas exceções: "A
Bela e a Fera" é interpretada agora
por Marco Nanini e "A História
de Lily Braun", pela atriz e cantora Vanessa Gerbelli.
O argentino (radicado no Brasil) Luis Arrieta, que nos anos 80
marcou época na dança brasileira, é o responsável pela nova coreografia, junto com Dani Lima,
que criou a parte aérea e trouxe o
circo para a cena. Mantido, é claro, o roteiro de Naum Alves de
Souza, inspirado em poema de
Jorge de Lima (1895-1953), o desafio é fazer o circo místico dos versos de Chico Buarque ganhar corpo no grande circo dançado. A solução de Arrieta é neoclássica,
com gestos angulosos pontuando
a dança e quebrando inventivamente os encadeamentos.
São características as células de
movimento, que se repetem durante toda a noite, em diferentes
direções. E o risco que se corre,
num espetáculo longo, é mesmo o
da repetição excessiva: nem sempre há urgência nas sequências de
passos e cada gesto vê seu tempo
espichado. Nos momentos menos
felizes, a dramaticidade da música
fica sem paralelo na coreografia,
que se prende a narrativas exageradas. O Balé Teatro Guaíra: competente, à vontade, homogêneo. À
vontade mesmo na parte aérea,
dançando nos tecidos e deslizando pela corda.
Na coreografia de 1983, as duas
narrativas (vida "real" e circo) estavam presentes em cena, e os
personagens vinham vestidos a
caráter. Nessa nova versão, as
narrativas se cruzam e os figurinos (de Rosa Magalhães) modernizam os personagens, nas suas
malhas geométricas. Apenas nas
cenas teatrais, que surgem como
fotografias, os figurinos são dos
integrantes do circo a mulher barbada, o palhaço, o equilibrista.
No cenário, bandeirinhas, estrelas, burrinhos com luzes de carrossel, bolas transparentes, em
contraponto com uma plataforma metálica, coberta por caixas
transparentes. O palco, com isso,
divide-se em três planos, e a dança se desenvolve em camadas.
Pontos para experiência de carnavalesca de Magalhães.
O Carnaval entra em cena também nos bichos gigantes, alegorias "vivas" das alegorias dos bailarinos. Enfim: um espetáculo de
grande porte, com produção cuidadosa e música memorável. Não
chega a ser o grande circo, mas
uma pequena mística basta, talvez, para divertir o pequeno e o
grande circo do Brasil.
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da
produção do evento
O Grande Circo Místico
Onde: teatro Alfa (r. Bento de Andrada Filho, 722, Santo Amaro, SP, tel. 0/xx/11/5693-4000)
Quando: hoje a amanhã, às 21h; dom., às 16h e às 20h
Quanto: de R$ 20 a R$ 40
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